tag:blogger.com,1999:blog-45953916159470868332024-03-23T14:53:28.580-03:00el amor y sus objetosvina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.comBlogger494125tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-80277345361966249432015-04-10T14:10:00.004-03:002015-04-10T14:11:20.276-03:00507: vinadramaAí tem a sua vida. As suas escolhas, seus sacrifícios, as coisas que você não pode voltar atrás, as cicatrizes que não curam, a solidão galopante, a angústia de estar vivo, toda essa merda. E aí tem a sua vida. As temporadas de game of thrones, o período de declaração do imposto de renda, as contas que vencem dia dez e o salário que chega dia 5. Sem essa temporalização arbitrária, essa frivolidade infinita que ocupa mais tempo do que tudo -- escolher um fogão, que odisseia! -- a vida é um troço insosso e insuportável.vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-26747419506861808672014-08-19T15:00:00.001-03:002014-08-19T15:01:09.457-03:00506: Livrões<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://veinteletrasporsegundo.files.wordpress.com/2014/04/2666-roberto-bolac3b1o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://veinteletrasporsegundo.files.wordpress.com/2014/04/2666-roberto-bolac3b1o.jpg" height="320" width="206" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Nos
últimos anos, temas como Testemunho, a relação entre Ficção e História,
Autobiografia e Autoficção dão a ideia de que a literatura em espanhol tem
habitado os limites da própria literatura. Está confortável em questionar esses
limites e se apropriar de novas formas de narrar. Josefina Ludmer chama este
movimento de “literatura pós-autônoma”. Mesmo que o termo seja discutível –
porque pressupõe uma noção de autonomia pura da arte – podemos enxergar
facilmente este esforço em habitar limites no laboratório de autores
contemporâneos como Mario Bellatin, Margo Glantz, Tununa Mercado, Tamara Kamenszain,
Mario Levrero, Roberto Bolaño, entre muitos outros. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"> Mas ao
mesmo tempo, numa reação que parece diametralmente oposta, retoma-se também a
tradição europeia do romance – não do romance moderno, mas do oitocentista, o
romance como forma de conhecimento do mundo, o romance como investigação
social, o romance que dá conta da realidade, enfim, o romance total. <i>2666</i>, de Bolaño, por exemplo, por sua
envergadura de mil páginas, por seus detalhes ínfimos, pelo seu narrador
onisciente inabalável, pela fé inquebrantável na possibilidade de narrar uma
história, nos remete rapidamente ao gesto oitocentista, tolstoniano, da
possibilidade de <i>narrar tudo</i>. <i>Guerra e Paz</i> não é um romance histórico
para Tolstói, ele é mais do que a própria História. O romance, para o mestre
russo, é capaz de penetrar (tudo?), mais profundamente do que a historiografia.
É o romance total.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"> Só que
o romanção hispano-americano do século XXI dá a volta sobre si mesmo . Uma
volta diferente da metaficção pós-moderna autofágica, que continha dentro de si
sua própria crítica. O romance total hispano-americano do século XXI é um
romance colateral, que se perde no próprio assunto, cujo propósito de existir
nos passa batido. É um romance sem centro, sem propósito, sem tese, cunhado na
estética do tédio.” <span lang="ES-AR">Un oasis
de horror en medio de un desierto de aburrimiento”, é a epígrafe de <i>2666</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span lang="ES-AR"> </span>Melhor do que <i>2666</i>, o exemplo mais visível desta
energia gasta em quase nada é a série <i>La
novela luminosa </i>e <i>Discurso vacío</i>,
dois romances do escritor uruguaio Mario Levrero. Ao contrário do romance total
oitocentista, com seus grandes temas e teses, os romances de Levrero são totais
pela meticulosidade verborrágica dos detalhes que não se acumulam em torno de
um objetivo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span lang="ES-AR"> "No me interesan los
autores que crean laboriosamente sus novelones de cuatrocientas páginas, en
base a fichas y a una imaginación disciplinada; sólo transmiten una información
vacía, triste, deprimente. Y mentirosa, bajo ese disfraz de naturalismo. Como
el famoso Flaubert. </span>Puaj." (p. 72)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"> Entretanto,
é esse mesmo disfarce de naturalismo que Levrero usa para narrar sua história
sobre nada. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"> Em
suma, a título de panorama da literatura hispano-americana contemporânea,
podemos dizer que existe uma corrente do fragmento, da singularidade da
experiência, e uma segunda corrente, que talvez seja a mesma corrente, que é a
do romance total, em que essa singularidade se alça para o conhecimento do
mundo e volta dessa viagem com quase nada nas mãos. É o teatro da pequenez, em
Levrero, e a rotina do horror, em <i>2666</i>.</span> </div>
vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-86057741218006865062014-08-01T10:31:00.001-03:002014-08-01T10:31:41.171-03:00Sobre supermercados (post encomendado)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.que.es/archivos/201210/4905527w-365xXx80.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.que.es/archivos/201210/4905527w-365xXx80.jpg" height="226" width="320" /></a></div>
<br />
<i><br /></i>
<i>Alguém me pediu para ser sincera com o mundo e dividir minhas fobias. LRP, esse post é pra você.</i><br />
<br />
As pessoas que me conhecem sabem que eu tenho pânico de supermercado. Oferecem uma mão amiga uma ajuda, um apoio moral, para enfrentar esta que é uma experiência dura para a alma gentil e o espírito livre.<br />
<br />
Dentre todos os supermercados, o que habita mais comumente meus pesadelos é o Extra, a loja do brasil.<br />
<br />
Aquelas dezenas de corredores alinhados, prateleiras inteiras com a mesma marca de sabonete fazem a compra da semana se transformar em uma experiência excruciante. E depois de caminhar não sei quantos metros atrás das coisas que você precisa pra viver -- que devem ser exatamente as mesmas de que todos os outros seres humanos também precisam pra viver -- você dá uma olhada na sua lista e percebe que não tem guardanapo no seu carrinho de novo. <i>De novo</i>: nunca tem guardanapo no seu carrinho. Aliás, você não lembra de ter guardanapo em casa já faz algumas semanas (meses? talvez ano(s)). Será que você não passou pelas dezenas de estantes de guardanapo da mesma marca? Cadê o paredão de guardanapo? A resposta, caro Watson, é elementar: o guardanapo fica no segundo andar. Mas não na boca do segundo andar, junto com os colchões infláveis, os travesseiros de pena e as roupas de academia -- ele fica NO FUNDO do segundo andar, junto com as coisas de festa de aniversário.<br />
<br />
Então, mais uma vez e de novo: foda-se o guardanapo. Vou continuar roubando do McDonald's.<br />
<br />
E vou terminar este post porque estou ficando nervosa. (Note-se que eu nem consegui chegar na parte do caixa, provavelmente deixei meu carrinho lá no meio do extra e voltei pra casa com as mãos abanando, sem guardanapo, sem travesseiro de pena, sem porra nenhuma).vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-2915727445564063902014-06-23T11:34:00.002-03:002014-06-23T11:34:58.602-03:00Incompletos 3: Karaoke NightsA ideia desse texto era compilar todas as histórias malucas que eu e meus amigos loucos já vivemos num karaoke. Já teve de tudo: lição de vida de japonesa lésbica ruiva, que parecia ter 40 mas tinha 60 anos; música coreana de despedida de amigos que morreram em acidente de carro; exemplo de obstinação com o cara cego que sempre cantava a mesma música... Em vez de eu oferecer ao mundo um relato oitocentista sobre a fauna e flora karaokeística, só consegui escrever uma espécie de lista de regras para uma performance ovacionável. Paciência. A gente tem que viver com o fato de que as nossas habilidades são restritas, e o máximo que eu consigo no momento é escrever um texto melhor lido com o tom de voz daquele cara que faz as propagandas do Cartoon Network.<br />
<br />
O título é inspirado em Dirty Dancing 2- Havana Nights.<br />
<br />
<br />
******<br />
<br />
Karaoke Nights<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
A primeira vez que me levaram pra um karaokê foi num boteco
de sinuca em Brasília. Eu me senti apresentada a uma forma mais sincera de
vida. Tive uma reconciliação instantânea com as patricinhas que me oprimiam na
escola, ao som de <i>Vamos brincar de
índio/mas sem mocinho/pra me levar… </i>Antes
do fim da noite, subi pra cantar Tony Braxton com uma desconhecida e descobri
que meu verdadeiro talento residia na habilidade de lembrar o nome dos
intérpretes das músicas mais populares. De Evidências a Total Eclipse of the
Heart, eu sabia o que o karaokê queria de mim.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Regra número um: nunca esteja sóbria. Hitoshiro Karaokê, o
leãozinho de cabelo amarelo que expandiu a possibilidade do constrangimento
vocal, vislumbrou o microfone com um bafômetro embutido, de forma que o
candidato seria sumariamente eliminado se tivesse menos de uma porcentagem X de
álcool no seu corpo. Por isso, se você, neófito, de alguma forma se sente
acuado na hora de parecer ridículo na frente de uma centena de pessoas, não se
sinta. Espere o álcool fazer efeito.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Regra número dois: no advento da bebedeira, segurando o
microfone, encarando todos aqueles estranhos, não se esqueça: se você cantasse
bem, alguém estaria te pagando pra cantar e não o contrário. Ridículas mesmo
são aquelas pessoas que pensam que são melhores que você, que o show biss
simplesmente as esqueceu e estão aguardando ansiosamente a ligação do The
Voice. Foda-se todo mundo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Regra número três: cante em português. Dessa vez, você não
está cantando sozinho no chuveiro, você tem uma platéia! E uma platéia de gente
bêbada que quer cantar junto. Por isso, não perca a oportunidade de ter um coro
cantando <i>Quem dera ser um peixe!</i>
Também pode ser uma boa ideia arranhar uma língua que quase ninguém conhece,
com um <i>La Solitudine</i>. Quem sabe você
pode receber ajuda de um gatinho italiano que veio ao Brasil en passent, ou de
um casal de descendentes que está comemorando as bodas de ouro.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Regra número quatro: menos é mais. Chegou no karaokê e ta
vazio? Só tem meia dúzia de gato pingado cantando Fábio Júnior? Ouro!! Não se
esqueça de que demora pra caralho até a sua vez chegar, então estar em pouca
companhia é sempre melhor. Também é mais fácil de fazer amigos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Regra número cinco: deixe o melhor pro final. No começo da
noite, pode ter certeza, todo mundo está acanhando e sóbrio. Então o ideal é
levantar o astral. Madonna e Michael Jackson são uma escolha sempre certa
(sempre), mas você também pode mandar qualquer pop. Ragatanga é uma que nunca
falha, Papo de Jacaré vai te render umas risadas. Mas o pé na jaca, o ouro
mesmo, tem que ser muito bem dosado. Acredite, você só vai querer cantar
Robocop Gay quando as pessoas estiverem dispostas a rebolar. E elas vão estar!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Regra número seis: não cante Tim Maia. A gente não repara,
mas a letra de músicas como <i>Eu só quero
chocolate</i> são muito repetitivas. Você vai achar um saco e desanimar. O
mesmo vale pra qualquer música de axé.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Regra número sete: karaokê é performance. Não deixe ninguém
te dizer o contrário. É o mais perto de um palco que você vai estar na sua
vida, então encarne. Nada consegue fazer você ficar <i>mais </i>ridículo.</div>
vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-66076364700094584852014-06-14T12:27:00.000-03:002014-06-14T12:32:10.625-03:00Planeta do Exílio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/thumb/7/73/PlanetofExile.jpg/200px-PlanetofExile.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/thumb/7/73/PlanetofExile.jpg/200px-PlanetofExile.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
Traduzi um meio capítulo do <i>Planeta do Exílio</i>, da Ursula le Guin. Pouco conhecida aqui no Brasil, ela explora as grandes capacidades ficcionais do gênero ficção científica, para discutir raça, gênero, identidade, etc.<br />
<br />
Neste livro, especialmente, a questão é a universalidade do sentimento de desterro.<br />
<br />
Sem mais:<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
CAPÍTULO TRÊS: O verdadeiro nome do Sol</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que causava as marés nesta costa, a ida e vinda matinal de
quinze a cinquenta pés de água? Nenhum dos Anciões da Cidade de Tevar
conseguiria responder esta pergunta. Qualquer criança em Ladin conseguiria: a
Lua causava as marés, a força da Lua…</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E a Lua e a Terra davam voltas em torno de si mesmas, um
círculo imponente que leva quatrocentos dias para se completar, uma fase da
Lua. E juntos, o planeta duplo circulava em torno do Sol, uma dança solene no
meio do nada. Sessenta fases durava a dança, dois mil e quatrocentos dias, uma
vida, um ano. E o nome do centro e Sol – o nome do Sol era Eltanin: Gamma
Draconis.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Antes de adentrar pelos ramos cinzas da floresta, Jakob Agat
olhou para o sol afundando numa névoa acima da cordilheira ocidental e sua
mente o chamou pelo seu nome verdadeiro, cujo sentido não era apenas o Sol, mas
um Sol: uma estrela entre estrelas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A voz de uma criança brincando despontou atrás dele nas
ladeiras do monte Tevar, fazendo-o lembrar das caras de escárnio, os sussurros
de deboche que escondiam o medo, os gritos pelas suas costas – “Tem um
forageiro aqui! Vem olhar pra ele!”. Agat, sozinho entre as árvores, andou mais
rápido, tentando evitar a humilhação. Ele tinha sido humilhado entre as tendas
de Tevar e tinha sofrido também o isolamento. Tendo vivido toda a sua vida em
uma pequena comunidade da sua própria espécie, sabendo todos os nomes, rostos e
corações, era difícil para ele lidar com estranhos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Especialmente, estranhos hostis de uma espécie diferente, em
multidões, nos seu próprio território. Agora, o medo e a humilhação o
alcançaram, então ele parou completamente por um momento. “Vou estar ferrado se
voltar para lá! – ele pensou. Deixe que o velho tolo faça do seu próprio jeito
e fique sentado, fumando e esperando para morrer na sua tenda fedorenta até os
gaal chegarem. Bárbaros ignorantes, intolerantes, briguentos, de cara
esfarelada e olhos amarelos, que morram todos queimados!”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Alterra?”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A garota o tinha seguido. Ela parou a uns metros dele, sua
mão no tronco de uma árvore basuk. Olhos amarelos brilhavam com entusiasmo e
zombaria no branco homogêneo de sua face. Agat ficou parado, impassível.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Alterra?” ela repetiu, na sua voz doce e leve, olhando de
lado.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“O que você quer?”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ela se afastou um pouco. “Eu sou a Rolery”, disse, “nas
areias…”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Eu sei quem você é. Você sabe quem eu sou? Sou um homem
falso, um forageiro. Se os seus conterrâneos a vissem comigo, eles me castrariam,
ou te estuprariam num ritual – não sei qual das leis vocês seguem. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora vá
embora!”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Meu povo não faz isso. Existe afinidade entre você e eu”,
ela disse, seu tom teimoso, mas incerto.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ele se virou para sair.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“A irmã da sua mãe morreu nas nossas tendas…”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Para a nossa vergonha”, disse ele e continuou andando. Ela
não o seguiu.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ele parou e olhou para trás, quando tomou o caminho à
esquerda da ponte. Nada se mexia em toda a floresta agonizante, além de uma
raizama atrasada entre as folhas mortas, arrastando-se com sua obstinação
vegetal excruciante na direção sul, deixando uma leve trilha atrás de si.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O orgulho racial o impedia de sentir qualquer vergonha pelo
modo como tratou a garota. De fato, ele sentia alívio e retorno da sua autoconfiança.
Ele teria que se acostumar com os insultos dos hilfs e ignorar a intolerância
deles. Eles não podiam evitar; era sua própria forma de renitência, era sua
natureza. O chefe tinha mostrado, em sua própria cultura, verdadeira cortesia e
paciência. Ele, Jakob Agat, deveria ser igualmente paciente e igualmente
renitente. Pois, o destino do seu povo, a vida da humanidade deste mundo,
dependia do que aquelas tribos hilfs fariam ou não nos próximos trinta anos.
Antes do nascer da lua crescente, a história de uma raça por seiscentas fases
da lua, dez Anos, vinte gerações, a grande luta, a longa tentativa poderia
acabar. A não ser que ele desse sorte, a não ser que ele tivesse paciência.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Grandes árvores secas, com galhos podres, permeavam estes
montes, suas raízes murchas dentro da terra. Elas estavam prontas para cair com
o empurrão do vento norte, para congelar embaixo do gelo e da neve por centenas
de dias e noites, para apodrecer no descongelamento da primavera, para
enriquecer, com sua vasta morte, a terra onde suas sementes, profundamente
adormecidas, ficavam profundamente enterradas. Paciência, paciência…</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com o vento, ele veio pelas ruas brilhantes de Landin até a
praça, passando pelas crianças que se exercitavam na arena da escola, ao entrar
no edifício com arcadas que era chamado por um nome antigo: a Sede da Liga.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como outros edifícios ao redor da praça, tinha sido construído
há cinco anos, no tempo em que Landin era a capital de uma nação nova e forte,
o tempo da força. Todo o primeiro andar era um salão espaçoso. Por suas paredes
cinzas, havia desenhos delicados, que se destacavam em ouro. Na parede leste,
um Sol estilizado rodeado por nove planetas ficava à frente do arranjo da
parede oeste com sete planetas em longuíssima elipses em volta do seu Sol. O
terceiro planeta de cada sistema era duplo e feito de cristal. Acima das portas
do lado mais distante, mostradores com ponteiros ornamentados marcavam que hoje
era o 391º dia da 45ª fase da lua do Décimo Dia Local da Colônia em Gamma
Draconis III. Eles também mostravam que era o dia ducentésimo segundo do ano
1405 da Liga de Todos os Mundos, e que era o dia 12 de agosto em sua casa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Muitas pessoas duvidavam que ainda existisse uma Liga de
Todos os Mundos e alguns extremistas gostavam de questionar se realmente
existiu um lar. Mas os relógios, aqui na Grande Assembleia e no subsolo da Sala
de Registros, que estavam funcionando há seiscentos Anos da Liga, pareciam
indicar, com sua origem e sua constância, que existiu uma Liga e que ainda
existia um lar, um lugar de nascimento da raça do homem. Pacientemente, eles
contavam as horas de um planeta perdido no abismo da escuridão e dos anos.
Paciência, paciência…</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os outros alterranos estavam esperando por ele na biblioteca
no andar de cima, ou chegaram logo depois, se reunindo em volta do fogo
crepitante da lareira: dez deles juntos. Seiko e Alia Pasfal ligaram os jatos a
gás e diminuíram a potência. Apesar de Agat não ter dito nada, seu amigo Huru
Pilotson veio ficar ao seu lado na fogueira e disse “Não deixe eles te
perturbarem, Jakob. São só uma horda de nômades estúpidos e teimosos , nunca
vão aprender”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Eu estava enviando?”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Não, claro que não” Huru riu. Ele era um cara ágil, magro e
tímido, um amigo fiel de Jakob Agat. O fato de que ele era homossexual, e Agat
não, era algo sabido pelos dois, por todo mundo ao redor deles, por todo mundo
em Landin, de fato. Todo mundo em Landin sabia de tudo, e a honestidade, ainda
que desgastante e difícil, era a única solução possível para este problema de
excesso de comunicação.</div>
vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-77361700081235138782014-06-10T13:28:00.002-03:002014-06-10T14:26:42.198-03:00Sobre Gravando, da Aline Rocha<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.musarara.com.br/wp-content/uploads/2013/12/Aline_gravando.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.musarara.com.br/wp-content/uploads/2013/12/Aline_gravando.jpg" height="320" width="243" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Esses dias, fui a São Paulo fazer várias coisas burocráticas
chatas e de repente eu estava num bar e de repente eu estava já em outro bar e
de repente eu estava andando na Paulista de madrugada com uma mochila enorme
nas costas e de repente eu estava no karaokê, nostálgica do lugar da onde eu
tinha acabado de sair, e de repente eu estava na rua, sozinha, às 4 da manhã,
sem ter um lugar pra ficar. Minha experiência morando em SP, apesar de tantos
momentos felizes, foi a de um abandono quintessencial. Talvez porque a minha
primeira vizinha tenha dito que eu era uma “filha sem mãe” e suspeitava que eu
tinha cagado no capacho dela (ainda consigo me lembrar da sua voz dizendo “isso
é cocô humano”, enquanto eu tentava colocar algum juízo na cabeça dela); ou
então porque minha segunda vizinha tenha me denunciado para a síndica por solicitação;
ou porque eu nunca consegui assimilar realmente a experiência que eu estava
tendo, finalmente conhecendo o mundo de verdade. São Paulo, pra mim, é um
monstro do bem, tipo aqueles do </span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">“Where
the wild things are”</i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">. Mau hálito, barango, assustador, sem limites, divertido. (Ou, para usar a definição de Leandro Rafael Perez, "O pó que nos une é bem mais o da poeira do que o da morte, tu sabe, tudo são monstros" [PEREZ, Leandro Rafael. "Uma leitura levemente acompanhada". Posfácio a PIEROTTI, Marcelo. <i>Domingo no Matadouro. </i>São Paulo: Editora Patuá, 2013.]. De repente, o que assusta é essa intimidade forçada do metrô lotado de encoxadores, que demonstra que todos somos feitos da mesma matéria. Ou ler na plaquinha do ônibus que a lotação máxima são 13 pessoas sentadas e 30 em pé. <i>Aham, com certeza.</i>)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Talvez não seja esta a proposta principal de <i>Gravando</i>, de Aline Rocha, mas seus
poemas capturam essa essência paulistana. Note-se a alegria pueril de “About”, </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">da chuva que cai e não sabemos</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">da bomba-relógio circular</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">do drops ardendo a garganta</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">das voltas que o mundo dá</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">da billie rouca no ipod</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">da máquina de refrigerante</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">formado de versos eneassílabos, imitando as rimas que
ensinamos para as crianças. A chuva, o drops (jovem guarda?), a máquina de
refrigerante, etc. formam um conjunto harmônico e fofinho – carismático, eu
diria – só para romper-se no final. O poema, sem sermão, nos deixa sozinhos,
como uma mãe que embala o filho e o entrega pra assistente social,
despedindo-se com alguma fórmula batida, tipo “preciso cuidar de mim para poder
cuidar de você”. Os dois últimos versos são “de dentro do vagão me despeço/de
você na escada rolante”. Adeus, é isso. O poema acaba porque não há
possibilidade de reconciliação: o metrô foi embora, nem consigo te ver se
afastando no meio de tantas pessoas, mas imagino você subindo pela escada
rolante (infinita) cheia de gente a qualquer hora do dia. São Paulo, tem que
ser São Paulo, essa mãe sem dó no coração, que no entanto é a única pessoa que
te ama de verdade. Só em SP, cai a chuva e você nem sabe, porque experimenta a
cidade com os fones de ouvido enterrados nos canais auriculares, ali mesmo mas
alheio a tudo que se passa, só interagindo com o absolutamente essencial. SP:
bomba relógio circular (como a radial leste e a radial oeste, como as marginais
que imprensam a cidade pra dentro do ovo de onde nasceu, como o rio Tietê,
retificado à toa, mostrando os limites civilizatórios, o nosso celebrado Rubicão).
E sei lá, Aline, de repente você nem teve a intenção, mas esse poema são os
amantes que deixamos na estação – antes de termos o celular roubado e perdermos
o número deles para sempre. São “as voltas que o mundo dá”, num dia do seu
lado, noutro dia completamente indiscernível da multidão. Essa estranha certeza
de que nunca vamos nos ver de novo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">SP é também aquela cidade que é tão-grande. Contemplar o seu
tamanho – talvez nem tanto o tamanho físico, mas a pretensão, a ambição, o
rápido amadurecimento relativo, a população crescente de leões-por-dia, sabe o
que é que eu tô falando? Olhar pra isso é quase imediatamente sufocar. É <i>tanto</i> que não dá nem pra reter na
memória, como a ansiedade da sua “arquivística” em reter o que leu na semana
passada. <i>Gravando</i> é também sobre essas
leituras para sempre perdidas, impossíveis de serem recobradas num universo
prolífico de símbolos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Rasgar a página do livro recortar
a notícia do jornal</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">e guardar a posteridade pede
notícias que nunca darei</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">e acreditará em tantas outras
notícias que não foram guardadas</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(“Rasgando”)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Talvez seja a primeira função da escrita: permanecer. Se
permanecer é significar, este eu-lírico está ansiando para que a sua
experiência, entre os jornais e as notícias, faça algum sentido, por isso age
febrilmente, rasgando e recortando, na esperança de singularizar um momento. (Lembrei
do eu-lírico do<a href="http://www.poemas-del-alma.com/autumnal.htm" target="_blank"> Rubén Darío, em "Autumnal",</a> pedindo para a fada/musa sempre “Más...”
“Más...”, uma angústia pela experiência, pela inspiração). Mas, ainda é SP… Aquela
sensação bem distinta de andar entre o exército de executivos da Paulista e
caminhar cantando Whitney Huston e ser o contrário da borboleta da física
quântica. Não dá nem pra ouvir os próprios passos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Gravando</i> é também
sobre essas frases soltas que a gente ouve na rua “Apareça mais” (de “Visita”),
“Tenha cuidado” (de “O sangue”), frases que simulam o acolhimento e a
compaixão, mas na verdade são fórmulas vazias da cordialidade entre os pares.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Outros sinais da invasão simbólica da grandiloquente São
Paulo: a impossibilidade de sentir saudade (“Entre latinos”), as fantasias com
o interior (“Quermesse”), a necessidade de fugir correndo para as montanhas (“A
caminho do corpo levitante”), as conversas unilaterais (“Carta para Alcides”),
porque você só tem tempo para falar com o namorado enquanto está presa no
trânsito, dentro do ônibus com mais dezenas de pessoas que compartilham
involuntariamente da sua intimidade. Penso agora que deve ser a mesma sensação
de escrever um livro: partilhar sua intimidade com dezenas de pessoas
involuntárias. E, de repente, é aí que seu projeto estético, Aline, casa com a
minha versão de SP.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A partir dessa relação que estabeleci entre a minha leitura
radical e a projeção que eu faço do que seria o projeto do seu livro, vamos a “Este
poema foi escrito na cidade de São Paulo” – que, para mim, já começa com um
problema estrutural. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Repara: hoje as ruas parecem mais
calmas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não quietas, veja bem, não nesse
sentido: mas</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Parece que todos desceram na
estação exata.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Impossível!!!!!(veja quantas exclamações)!!!! Enquanto
escrevo isso, neste exato momento, os metroviários estão em greve, a cidade
está no estado de armagedon para qual os paulistanos, filhos do apocalipse, já
nasceram preparados e o Sr. Governador Geraldo Alckmin já mandou avisar que
quer que todo mundo vá tomar no cu e vai, ele mesmo, passear por aí de
helicóptero, como se fosse um correspondente de guerra. SP é assim: ame-a ou
deixe-a, ninguém te quer aqui. Dessa forma, o poema na verdade descreve um
ambiente idílico, o último milagre, em que exatamente TODAS as pessoas descem
na estação “exata”. Veja bem, não é a estação “correta”, ou “desejada”, é a estação
“<u>exata</u>”, de uma alta precisão matemática, desenhada no google maps por
uma calculadora científica. Nem o GPS errou: você está onde você deveria estar.
Você não se perdeu na cidade e de repente ficou sem lugar pra dormir às 4 da
manhã. Não. Você está onde deveria estar. Nem você sabia pra onde ia, mas você
chegou, é ali. Ao contrário do adeus terrível de “About”, temos um “olá”
amistoso, acolhedor. É a evasão mais completa da realidade e dá a SP algo que
ela nunca teve: carinho. (Não, brincadeira, tô exagerando. Não me matem,
paulistanos.) Exatidão matemática: daí o teu desejo obsessivo pelas ruas
retilíneas (pressinto um desejo de se mudar pra Brasília).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Para você, Aline, matemática é amor. Deduz um dente em “Abertos
24 horas”, faz uma contagem regressiva pra viajar em “Não me fotografe, me
beije”, vai adicionando cigarros em “Assombração urbana”, deduz 23 anos de 30
metros quadrados em “A prece”. Toda poesia matemática lembra <i>Trilce</i>, um cálculo infernal, uma lógica
profana para tratar os sentimentos. Transformar experiências e sensações em
contas impossíveis, em números delirantes como o próprio <i>trilce</i>: mais uma possibilidade poética descoberta. Elevar a poesia
à potência zero, admitir que existe algo fora dos limites da aritmética, fora
da lógica. Admitir que existe amor.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E tem as homenagens, reais ou imaginadas por mim. Vejo “Quadrilha”
em “A queda” (de Hitler? É uma referência ao filme?). </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A primeira a atirar-se foi Leandra</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Logo depois Sansão e em seguida os
gêmeos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Só que em vez de Maria amar João e sei lá mais quem, é a
Leandra e o Sansão e uma fila que se joga de um prédio. O suicídio surreal
corta a casa – novamente essa ideia de lar desfeito, de solidão absoluta, de
falta de origem, de exílio em si. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Antes, porém, cortaram os fios de
eletricidade</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Cortaram todos os fios de todos os
eletrodomésticos</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">cortaram os cabelos uns dos outros</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">desfiaram a colcha de Penélope</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">romperam a ponta do novelo de
Teseu</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">passaram gilete nos pelos pubianos</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">e decoraram a biografia de Rimbaud</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os fios de eletricidade (que decapitariam os corpos em queda
livre), os fios dos eletrodomésticos (o rompimento da harmonia doméstica) (como
o Ian Curtis, pendurado na corda do varal, esperando ser encontrado pela esposa
traída e pela filha neném), cortando os cabelos uns dos outros (um ritual de
esterilização e impotência, afinal um deles chama Sansão), a gilete (o clássico
suicida, como <i>Guerra e Paz</i>), Penélope
e Teseu (das aulas de literatura clássica que agora jazem no mais profundo e
inacessível do meu cérebro) e decorar Rimbaud como quem precisa fazer um curso
introdutório para deixar-se cair do prédio. Deste poema, o mais estranho verso é
“a parte mais triste era a volta”, como se fosse um ensaio de queda, ou como
(para usar a metáfora que o livro oferece) fosse um vídeo visto de trás para
frente, freneticamente, um suicídio ao contrário, “num ritual de Ícaro”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ainda
no assunto das homenagens, em “Córdoba”</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quando chega a noite, sento em
minha cama a observar as intimidades [vizinhas</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">mas não há ninguém, apenas uma luz
amarelada de um abajur do [século XIX.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Imagino que a velha senhora</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(por que velha, meu deus? Existem
também freiras jovens, joviais)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">esteja lendo um dos livros
proibidos pela Inquisição.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">para mim, é uma celebração do Grupo XIX de teatro, encenando
grandes sucessos oitocentistas pelas ruas de SP, fazendo convergir o
finissecular e o contemporâneo a ponto de você questionar seu tempo-espaço.
Também é uma homenagem que eu faço ao meu vizinho do 9º andar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Outra homenagem é uma previsão bizarra da morte de Gabriel
García Márquez, em “Sobre a versificação”. Não sei o que dizer sobre poetas com
habilidades paranormais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E, finalmente, em “Lentes”</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A sua fotografia me olha</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">com olhos que adivinham</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">minha imagem</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Eu vejo a sua fotografia</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">e vejo meu reflexo</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">nos óculos escuros</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> uma homenagem a Ana
Cristina Cesar e seus óculos escuros estampados para sempre na capa rosa choque
da Companhia das Letras (John Hughes?).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.companhiadasletras.com.br/images/livros/13623_gg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.companhiadasletras.com.br/images/livros/13623_gg.jpg" height="320" width="212" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Na verdade, acho que é próprio de
fotografias de escritores o fato de nos perseguirem da capa do livro para a
vida real. Já escrevi, em outro lugar, sobre os <a href="http://amoreseusobjetos.blogspot.com.br/2007/10/115-night-thoughts.html" target="_blank">pesadelos que tive com oRoberto Bolaño,</a> magrelo e doente, seus olhos fixos em mim pra onde quer que eu
fosse. A fumaça do seu cigarro tomando o ambiente, embaçando os contornos dos
livros no stand. Esses são “os olhos que adivinham/minha imagem”, os olhos mais
poderosos esses dos nossos ídolos mortos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Poderia escrever sobre a metáfora sugerida pelo projeto
gráfico do livro, uma relação entre a linguagem da Aline e o <i>kitsch</i>, o cinema – que no final é essa
vida vivida pelos olhos dos outros, simulada, nunca experimentada. Que no final
é nosso desejo de ficar em casa, assistindo <i>The
Apartment </i>pela décima quarta vez, em vez de nos jogarmos na rua,
conhecermos gente potencialmente idiota com uma tatuagem do Corinthians,
descermos na estação errada e talvez de repente ficarmos sozinhos na rua às 4
da manhã sem ter um lugar pra dormir. Esse é o contraste mais importante, a
saber, as experiências ativas que os poemas sugerem e a concepção do livro em
torno de um ambiente simulado. Mas não vou falar sobre isso porque não sou
obrigada (“Eu não sou obrigada”).</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A arte de escrever resenhas e prefácios é isso: a arte de discorrer
sobre um livro fingindo que foi você quem o escreveu.</span> </div>
vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-88564698237624320962014-06-03T14:45:00.002-03:002014-06-10T13:29:42.383-03:00posts inacabados vol 1: tolstói (claro)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://cache.thephoenix.com/secure/uploadedImages/The_Phoenix/Movies/Reviews/INSIDENEWTRAILERS_WarPeace_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://cache.thephoenix.com/secure/uploadedImages/The_Phoenix/Movies/Reviews/INSIDENEWTRAILERS_WarPeace_.jpg" height="210" width="320" /></a></div>
<br />
As pessoas acham que desisti desse blogue. Intrigas! Ando escrevendo, e muito. Mas terminar as coisas, de repente, pareceu muito difícil.<br />
<br />
Pensando nisso, vou inaugurar uma série de posts inacabados que tenho guardados do meu computador. Gostaria de dedicar esse esforço de continuidade à amiga/leitora Kelly Marques, pelo seu apoio moral/incondicional/cafeinístico.<br />
<br />
Esse é o começo de um texto sobre Guerra e Paz, frustrado por um artigo na Gazeta Russa que falava quase a mesma coisa. Réquiem para o ensaio...<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
Este artigo se baseia metodologicamente numa
ignorância profunda sobre a literatura russa e sua respectiva sociedade e, segundamente, em uma excitação igualmente profunda pela obra literária de Liev
Tolstói.<br /> <o:p> </o:p>Quando falamos que tal escritor inspirou uma “multidão” de
fãs, ou que reuniu um “culto”, comumente estamos usando essas expressões em
sentido figurado. Não com Tolstoi. Se nos livros de História da literatura,
você vir escrito que Tolstoi formou uma seita, entenda com o sentido literal de
religião. O tolstoísmo está aí para nos lembrar que a literatura já foi
responsável pela mobilização política e espiritual (?) da sociedade, um
estremecimento das bases morais do "eu" que pode causar revoluções. Também nos
faz lembrar que esta mesma instituição, a saber, a literatura, encontrou o seu
auge mais culminante justamente no século XIX, quando a sua influência era
muito maior do que qualquer outro tipo de mídia. (Não era uma época multimídia,
como hoje. Seria monomídia, talvez, em que o meio impresso dominava
completamente a opinião pública.)<br /><o:p> </o:p>Será que conseguimos imaginar o sucesso de Tolstoi? A
discussão que <i>Guerra e Paz </i>movimentou
nas ruas, a cada volume? Teremos como perceber a total dimensão, em termos de
público, da influência dos seus escritos?</blockquote>
vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-47103904095441898732014-05-06T12:09:00.001-03:002014-05-06T16:46:40.792-03:00500: ainda faz sentido escrever blogue?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://kouchpotato.in/wp-content/uploads/2012/10/X-Files_2x1_001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://kouchpotato.in/wp-content/uploads/2012/10/X-Files_2x1_001.jpg" height="251" width="320" /></a></div>
<br />
Agora que tenho dado um intervalo de ser adulta e voltei a morar com a minha mãe -- olá, mamãe! -- fico pensando nas mudanças sociais desde a última vez que fui adolescente.<br />
<br />
Mas os sentimentos de autodestruição só começaram realmente quando o LF me deu um smartphone na última quarta-feira, e eu fui tragada pelo mundo mágico do 3G. [Obrigada, LF. Agora eu entendo que foi uma estratégia sua para eu finalmente ter um zazap e poder gastar horas do meu dia precioso batendo papos frívolos com os meus amigos distantes.]<br />
<br />
Na última vez que eu fui adolescente, o LF lia meu blogue, o falecido e saudoso meninashoyo, no AUGE máximo da cultura blogueana adolescente. Eu surfava todos os dias por blogues amigos, coletando gifs bonitinhos e absorvendo a linguagem blogueira, tudo isso depois da meia noite, porque a internet era discada e o telefone, cobrado em pulsos. Era a época em que "surfar" na internet não parecia um termo completamente ridículo.<br />
<br />
E aí eu olho pra esse layout que nem é do wordpress e leio os posts antigos e penso: faz sentido? Que tipo de apelo essa mídia obsoleta pode ter? Eu me sinto naquele episódio de arquivo x em que o mulder tenta fazer contato com os alienígenas usando umas fitas cassetes nuns rolos enoooormes e tudo o que ele tem a dizer é "scully, eu te amo", porque a tecnologia é tão obsoleta que ele nem consegue entrar no campo semântico das coisas que os alienígenas poderiam se interessar.<br />
<br />
Se arquivo x fosse hoje, será que mulder conseguiria se comunicar? Ou será que ele está condenado a um estilo de vida eternamente analógico, como este blogue?vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-73319706480411525052014-04-24T10:35:00.002-03:002014-04-24T10:35:56.685-03:00Voltei<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-QhnoM65uvHw/U1kTLuQv2LI/AAAAAAAAAWs/v-9UIoBeAmY/s1600/10173747_313748785440629_6353080436682575205_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-QhnoM65uvHw/U1kTLuQv2LI/AAAAAAAAAWs/v-9UIoBeAmY/s1600/10173747_313748785440629_6353080436682575205_n.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Qual que é aquela música do Roberto Carlos, voltei-e-vim-pra-ficar? </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Bom, voltei e não sei se é para ficar. Várias coisas aconteceram enquanto eu estive fora:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">1) O twitter;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">2) Entrei pra aula de russo. Fui dizer <i>Zdrastvuy</i> pra minha amiga Ciça e ela rolou o olho pra trás;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">3) Não sei o quanto você estava preocupado/a, mas essa pausa foi um momento em que escrevi muito, inclusive o prefácio do excelente primeiro livrinho do meu amigo <a href="http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=172" target="_blank">Piê</a> -- do qual eu estava muito orgulhosa e agora eu renego. (porque renegar é um direito do jovens autores);</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">4) A Ciça achou <a href="http://livrada.com.br/" target="_blank">esse blogue</a>, que é muito bom. Aí ela disse casualmente "por que não retoma o viejito" e eu pensei "meu-deus-por-que". É uma coisa realmente fantástica o fato de existir alguém do outro lado que leia essas coisicas que eu escrevo: então, por que não, né?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">6) Tenho lido muito. Li a trilogia do <i>Jogos Vorazes</i>, mais uma escritorA entrando no rol disputado da ficção científica parabéns, li <i>50 tons de cinza</i>, mais uma escritora jogando seu nome na LAMA, li a resposta da Valesca Popozuda à polêmica em torno da prova etc, arrasou mais uma vez Valesca.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Também li Anna Karenina, que a nova tradução, mais fiel ao russo, chama de <i>Anna Kariênina</i>, e fui treinando as proparoxítonas. Anna Arcádievna Kariênina -- treine você também. E depois a passada mais óbvia, <i>Guerra e Paz</i>, cujo último tomo vai ficar pra depois do final do semestre. Estou preparando um texto mais legal sobre Tolstói, mas já aviso aos navegantes que é um caminho sem volta. Não é à toa que o cara tem a sua <i>própria</i> religião, ele é o R. R. Soares da literatura: você será convertido, meu jovem. Aceite Tolstói no seu coração.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Li as obras completas do Federico García Lorca por questões profissionais e me reencontrei com um amor da minha infância. Foi como voltar aos dias que eu passava o recreio sozinha na biblioteca da escola. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Li a autobiografia da Patti Smith como leitura aleatória e achei lindinha.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E por que a Patti Smith leu uma biografia da Zelda Fitzgerald quando era jovem, achei legal ler também. Espero que o momento ápice da vida dela não seja descrito como o casamento com o Scott, mas eu estou relevando.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">7) Começou Game of Thrones e a minha vida social foi reduzida ao mínimo;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-14350138987577664012013-04-24T22:57:00.001-03:002013-04-24T23:06:46.109-03:00Undesirable - uma crônica para J. M. Coetzee<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-FfY8eODBrtU/UXiNCyrABPI/AAAAAAAAASc/zJqpDQW3oa8/s1600/coetzee.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://4.bp.blogspot.com/-FfY8eODBrtU/UXiNCyrABPI/AAAAAAAAASc/zJqpDQW3oa8/s320/coetzee.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Na quinta-feira, 18 de abril, o
Salão de Atos da UFGRS estava fervilhando com pessoas bem-vestidas do meio
artístico, que são facilmente reconhecidas por seus cortes de cabelo, sapatos
despojadamente sociais e óculos muito maiores que seus rostos. Nós éramos
poucos, do lado de fora, atrasados para a palestra que começaria às 19h30. O
auditório estava meio cheio, ou meio vazio, depende da inclinação política da
pessoa, e a função começou levemente atrasada. O clima era solene: John Maxwell
Coetzee foi apresentado pelo vice-reitor na universidade, que reiterava muitas
vezes a honra de recebermos um prêmio Nobel, etc e tal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Existe uma diferença no ar de se
estar na presença de um Nobel. É como estar obrigado a reconhecer que se está
em um momento histórico. Um Nobel é como um busto ainda não esculpido, uma
estátua por vir, um memorial por se erguer, uma escola por se batizar. Coetzee
entrou no palco como se soubesse disso, um pouco acanhado, um pouco
constrangido pelo tamanho do barulho que causava, como alguém que entra num
quarto, pé ante pé, sem querer ser percebido. Sua postura não parecia casual,
se pensada no seu contexto: o tema da palestra era a censura, especialmente,
como ele mesmo introduzia, a censura pela parte do governo sul-africano dos
seus primeiros livros. Ele explicava, com sua voz assustadoramente clara de
fita de aula de inglês, que teve a oportunidade de ler os relatórios dos
censores destes livros – os quais, vocês imaginarão, seguramente tratavam de
temas polêmicos, moralmente questionáveis e politicamente radicais desde uma
perspectiva altamente ambígua. Apesar disto, os censores eram unânimes na
opinião de que as obras não eram <i>undesirable</i>,
indesejáveis, o código dos censores para obras que deveriam ser banidas. O
argumento seria que estes assuntos espinhosos eram menores, principalmente se
comparados à riqueza estética dos livros. No meu canto, eu pensava
histericamente como deveria ser horrível ter agradado um censor! Todos
frisavam: estes livros não deveriam ser banidos, porque foram feitos para um
público muito pequeno de homens e mulheres bem letrados – e que, portanto,
concluía o Nobel, não eram capazes de causar revoluções. Só os textos populares
seriam capazes de despertar nas massas o desejo de se rebelarem, um desejo
imediato e radical, não acessível aos livros de alto rigor estético. Coetzee
perguntava que tipo de relação entre literatura e política faziam esses
censores. Por outro lado, o que essas pessoas, professores de faculdade, escritores
como ele, vizinhos pensavam que estavam fazendo? Salvando grandes livros da
fúria ignorante de um regime opressor – Coetzee citava o censor-herói de
Púchkin e eu via aquele personagem do filme alemão <i>A vida dos outros </i>–, pensando secretamente que, se não fossem eles
os censores, seriam outros, outros menos sensíveis, convencidos do papel do
Estado no desenvolvimento das artes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A palestra concluía, com a voz
poderosamente clara de Coetzee, uma voz que poderia facilmente ser de
aforismos, que nenhuma censura é heroica, que todas refletem o julgamento moral
das sociedades que as criam – seja censurando literatura, seja pedofilia.
Saímos do salão de atos, do solene salão de atos, depois da nossa participação
irrevogável do transcurso da História, com o mesmo nó na garganta, a mesma
sensação de contrariedade que temos ao terminar um livro de Coetzee.
Estranhamente, sem nada a dizer.</span></div>
vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-47164973124615084172013-03-18T17:22:00.002-03:002013-03-20T20:43:23.742-03:00da poética (ou falta dela) de se entrar na casa dos outros*caros leitores,<br />
<br />
não é surpresa para ninguém o fato de que tenho me dedicado ativamente a entrar na casa de desconhecidos durante o último mês. na nossa sociedade, essa prática é também conhecida como "procurar apartamento" -- uma tarefa inútil e exaustiva que parece só servir para aumentar a convivência social. (nota mental: recomendar a atividade para casos crônicos de fobia social).<br />
<br />
"procurar apartamento", este ritual inevitável da vida adulta, consiste em, basicamente, ser conduzido por uma pessoa responsável (identificada por com os dizeres enigmáticos "corretor") para dentro da casa e da vida de pessoas completamente desconhecidas. Aparentemente, este é o único contexto em que tal prática é bem vista por outros seres humanos adultos.<br />
<br />
E entrar na casa de estranhos é se autoconvidar para o inesperado: crianças pequenas dizendo suas primeiras palavras, cachorros carentes comendo o tapete, mulheres hiperativas que acham ok chegar uma hora atrasadas, casamentos destruídos, altares de umbanda escondidos no armário, livros de autoajuda, vodca, casamentos extremamente bem-sucedidos, etc. Tudo com a presença inequívoca do elemento "chimarrão". (O elemento "churrasqueira" também é uma constante).<br />
<br />
O que é efetivamente estranho dessa situação -- veja bem -- é a naturalidade surpreendente com que ela acontece. Por algum motivo que me foge, as pessoas se sentem confortáveis em receber estranhos na situação familiar problemática em que se encontram: mostram as fotos do casamento num CTG, a paixão pelo internacional, a falta de educação dos filhos, o desprezo do marido e outras demais situações limite que, antes de serem íntimas, por algum motivo, são também universais.<br />
<br />
40 apartamentos depois, e sem perspectiva de finalmente deixar o colchão da sala do meu amigo, todos os apartamentos parecem iguais. Todos os filhos também. E os cachorros. E as churrasqueiras.<br />
<br />
*Este post é dedicado à generosidade infinita do Nathan Carvalho, que me ensinou muitas coisas no último mês.vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-56499481375955662222013-03-14T19:01:00.000-03:002013-03-14T19:02:13.186-03:00da aparente apatiaOlá.<br />
<br />
eu sempre acho incrível o fato de que tem gente, realmente, lendo este blogue. e é por isso que é meio impressionante ouvir algumas pessoas perguntando se ele morreu, se ainda vou escrever alguma coisa, etc. mais surpreendente ainda é o que eu vou fazer a seguir, que é dar explicações. dar explicações para pessoas que eu não sei quem são, onde estão ou por que motivo estão lendo isso aqui que eu, por meu lado, estou escrevendo no meu novo lar, que é a sala de um amigo em Porto Alegre.<br />
<br />
e eis que as explicações começam:<br />
<br />
1) eu não estou escrevendo no blogue, porque resolvi escrever "de verdade". por isso entenda-se que estou me dedicando a transformar minhas ideias em textos que podem servir para a minha carreira acadêmica, o que, convenhamos, eu deveria estar fazendo desde o começo, mas escrever em blogues, sem responsabilidades de qualquer tipo, é efetivamente muito mais interessante;<br />
<br />
2) não estou escrevendo no blogue, porque resolvi traduzir coisas que acho que são importantes para a humanidade (e também vão ajudar a minha carreira acadêmica), a saber, literatura policial;<br />
<br />
3) porque eu estou pensando nisso<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/ticsIl5O8TA" width="420"></iframe><br />
<br />
<br />
e é completamente assutador. e eu gosto das pessoas que se esforçam em pensar a literatura como um meio de se chegar ao outro. (tem estudos interessantes sobre literatura e direitos humanos, estou pensando em um texto do Dipesh Chakrabarty que deve estar encaixotado em algum lugar nessa sala, talvez do lado da bicicleta);<br />
<br />
4) porque fui na feira plana, um evento de editoras independentes em sp, e comprei um livro super bonito da Raíça Bomfim e da Vânia Medeiros, que chama 10 pontes. Espero que elas não se importem de eu citar um poema:<br />
<br />
Com quantas estradas se faz uma ilha?<br />
<br />
errar até<br />
encher as mãos<br />
de terra e adivinhar<br />
o azul<br />
<br />
perder-se<br />
fera e temerosa<br />
na noite esplêndida<br />
da matilha<br />
<br />
um risco de cio<br />
no vento<br />
e pelo rastro<br />
algum laço<br />
há de vingar<br />
<br />
errar até<br />
que a embriaguez<br />
permita<br />
<br />
(Dá pra ver o quanto o livro é lindo <a href="http://issuu.com/vaniamedeiros/docs/10pontes-" target="_blank">aqui</a>) que me deu vontade de publicar um livro tão bonito quanto, mas ainda não;<br />
<br />
5) porque eu ando lendo as coisas errado e me enganando bastante;<br />
<br />
6) porque, aparentemente, não é sempre que você pode contar com a sua habilidade de transformar tantas informações em um pacote relevante;<br />
<br />
7) porque essa música começou a ter um sentido comovente<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/HoRkntoHkIE" width="560"></iframe><br />
<br />
8) porque o personare disse que neste período específico eu tendo a exagerar as coisas;<br />
<br />
9) porque eu não li quase nada interessante nos últimos três (quatro?) meses. a não ser o paulo henriques;<br />
<br />
10) porque, no final, não tenho nada interessante a dizer;<br />
<br />
11) porque mais alguma coisa que eu esqueci;<br />
<br />
12) ah, porque eu descobri que o bolaño também lia Ursula le Guin.<br />
<br />
espero que este arremedo de post sirva como post.<br />
<br />
câmbio desligo.vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-72988087356733031152013-03-10T19:17:00.001-03:002013-03-10T19:19:38.421-03:00El viajeEste é, eu juro, o último papel que restou do meu quarto vazio, onde eu passei 6 anos de alegrias agridoces. Notem que ele sobreviveu, valentemente, à minha fúria assassina/budista de desapego material e emocional, o que faz dele, simultaneamente, a coisa mais corajosa à minha volta e a coisa que vai para o lixo depois deste post.<br />
<br />
Eis o conteúdo do papel (não sei o que foi que eu escrevi e o que foi de outrem):<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="color: #990000;">Eu ouvia chapinhar no barco<br />Os pés descalços<br />E pressentia os rostos anoitecidos, de fome.<br />Meu coração foi em pêndulo entre ela e a rua.<br />Não sei com que força me livrei de seus olhos<br />me safei de seus braços.<br />Ela ficou nublando de lágrimas sua angústia<br />Atrás da chuva e do cristal.<br />Mas incapaz de gritar-me: Espera, vou contigo!<br />Otelo Silva<br />Despedida de Guevara a Chichina<br />(Notas de Viaje)</span></blockquote>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
[Essa é possívelmente a despedida mais cruel do mundo e a tradução mais mal feita. "Cristal" em espanhol, neste caso, é vidro.]</blockquote>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="color: #990000;">"Parecia que respirávamos mais livremente um ar mais leve que vinha de lá, da aventura. Países remotos, façanhas heróicas, mulheres bonitas passavam em círculo por nossa turbulenta imaginação"</span></blockquote>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="color: #990000;">"Agora sei, quase com uma fatalista conformidade, que minha sina é viajar, que nossa sina, porque nisso Alberto é igual a mim. Talvez um dia, cansado de rodar pelo mundo, volte a me instalar nesta terra argentina"</span></blockquote>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="color: #990000;">De tanto olhar para longe,<br />não vejo o que passa perto.<br />Subo monte, desço monte,<br />meu peito é puro deserto.<br /> Eu ando sozinha,<br /> ao longo da noite.<br /> Mas a estrela é minha.<br />(Canção da tarde no campo.<br />Cecília Meireles)</span></blockquote>
<span style="color: #990000;">Natasha 5555-3871 </span><br />
<br />
<br />
E com esse pedaço de papel, e a estranha mensagem que ele contém, me despeço de você, São Paulo. Me despeço também da solidão específica do meu coração.<br />
<br />
Adeus.<br />
<br />
R.<br />
<br />vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-24190753447635139822013-03-05T16:12:00.000-03:002013-03-05T16:12:14.815-03:00quero ser jodie foster<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.eonline.com/eol_images/Entire_Site/2013013/reg_1024.jodie.cm.11313.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="237" src="http://www.eonline.com/eol_images/Entire_Site/2013013/reg_1024.jodie.cm.11313.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Semana passada, eu finalmente vi o discurso da Jodie Foster nos Golden Globes. É, eu sei, demorou. Mas eu nunca teria visto com as recomendações que as pessoas estavam me dando: "Nossa, a Jodie Foster saiu do armário" -- dã! A mulher saiu do armário há uns 20 anos, acho que ela nunca <i>esteve</i> no armário, na verdade, tinha um daqueles casamentos super longos com a agente, enfim, o que tenho eu a ver com a vida dela.<br />
<br />
Mas, de fato, é inegável que este discurso vai ficar para a história. Porque é realmente muito raro alguém na mídia ser simplesmente... sincero. Tem alguns momentos que levam água aos meus olhos (achei a transcrição completa, em inglês, <a href="http://www.guardian.co.uk/film/2013/jan/14/jodie-foster-golden-globe-speech-transcript" target="_blank">aqui</a>) (é, aparentemente ela é amiga do mel gibson):<br />
<br />
<i>Mom, I know you're inside those blue eyes somewhere and that there are
so many things that you won't understand tonight. But this is the only
important one to take in: I love you, I love you, I love you. And I hope
that if I say this three times, it will magically and perfectly enter
into your soul, fill you with grace and the joy of knowing that you did
good in this life. You're a great mom. Please take that with you when
you're finally OK to go.</i><br />
<br />
<i>Tradução: Mãe, eu sei que você está em algum lugar atrás desses olhos e não vai entender muitas coisas que serão ditas hoje. Mas a única que é importante que você absorva é: te amo, te amo, te amo. E espero que se eu disser três vezes, isso vai magicamente e perfeitamente entrar na sua alma, te encher de graça e felicidade por saber que você fez bem nesta vida. Você é uma ótima mãe. Por favor, leve isso com você quando finalmente estiver OK para partir.</i><br />
<i><br /></i>
Os fãs da Jodie Foster e do filme <i>Contato</i> devem ter reparado uma coisa importante. No filme, a personagem (incrível e maravilhosa, criada por Carl Sagan no livro original) batalha contra o machismo e o conservadorismo para conseguir uma vaga numa empresa espacial para conhecer outro planeta. Quando ela está, finalmente, na nave, e o chão começa a tremer, e existe a possibilidade de que ela morra como os outros cientistas que tentaram anteriormente, ela repete, muitas vezes "I'm OK to go", "Estou OK para partir". É, eu me emocionei.<br />
<br />
E o discurso tem um final apaixonante. Caramba, me dá uns calafrios...<br />
<br />
<i>This feels like the end of one era and the beginning of something else.
Scary and exciting and now what? Well, I may never be up on this stage
again, on any stage for that matter. Change, you gotta love it. I will
continue to tell stories, to move people by being moved, the greatest
job in the world. It's just that from now on, I may be holding a
different talking stick. And maybe it won't be as sparkly, maybe it
won't open on 3,000 screens, maybe it will be so quiet and delicate that
only dogs can hear it whistle. But it will be my writing on the wall. Jodie Foster was here, I still am, and I want to be seen, to be understood deeply and to be not so very lonely.</i><br />
<br />
<i> Tradução: Isso parece o fim de uma era e o começo de alguma outra coisa. Assustador e empolgante, e agora? Bem, eu posso nunca mais estar neste palco outra vez, ou em qualquer outro palco, na verdade. Mudanças: você tem que amá-las. Vou continuar a contar histórias, emocionar as pessoas por estar emocionada, o melhor trabalho do mundo. É só que, daqui em diante, posso estar segurando outro tipo de microfone. E talvez não seja tão brilhante, talvez não esteja passando em 3.000 telas, talvez seja tão silencioso e delicado que só cachorros poderão ouvir. Mas será minha marca . Jodie Foster esteve aqui, ainda estou, e quero ser vista, ser entendida profundamente e não estar tão sozinha.</i><br />
<br />
Caralho. Estar tão sozinha... Estamos todos, não é? Mas é uma daquelas coisas inconfessáveis, ainda mais quando você é uma celebridade e a sua vida é o próprio paradigma da felicidade e do sucesso. E é tão bonito que ela não seja a imagem do sucesso, que este discurso seja sobre como ser autêntico consigo mesmo e como se sentir "entendido profundamente", fazer a sua marca sutil no mundo.<br />
<br />
Hoje eu queria ser mais como a Jodie Foster.vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-47484186315670663752013-01-23T10:39:00.000-03:002013-01-23T10:40:09.068-03:00a preguiça da metáfora<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-LmSTF11tDQ4/UP_l1l3QKOI/AAAAAAAAAQ8/L-SyUQfkb1M/s1600/317991_477556228959086_1517487671_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="148" src="http://4.bp.blogspot.com/-LmSTF11tDQ4/UP_l1l3QKOI/AAAAAAAAAQ8/L-SyUQfkb1M/s400/317991_477556228959086_1517487671_n.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Hoje eu tinha uma metáfora muito boa para a literatura. <i>A literatura era como um carro, tinha várias marcas. </i></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não, não era isso. Deixa eu tentar lembrar... O que eu fiz hoje que poderia ter me inspirado? Comprei um fatiador de queijo. <i>A literatura é como trabalho doméstico, nunca acaba e nunca é o suficiente.</i></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não, não era isso. O que mais eu fiz hoje? Descobri uma praga de ácaros no armário da cozinha. <i>A literatura é como um pesticida, nunca funciona como você espera e deixa o ambiente fedendo.</i> Não. <i>A literatura é como telemarketing, incomoda e nunca diz o que você queria ouvir.</i> Não, podre. Que tal: <i>a literatura é como rinite alérgica, você nunca vai convencer o médico a te dar um remédio que efetivamente funcione. </i></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não, não era nada disso.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Literatura é como amnésia.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-83434208063572464842012-12-19T12:26:00.001-03:002012-12-19T12:29:29.443-03:00uma endívia de post<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhL2GhyphenhyphenAWxL40CbQL02pIc2KQyHPffZhselGWiuwJCpHvqDVT4Epl6rL3h9Bdgp67qokkh9e9zQINBbucHrovgSHkYPlQYg2waUkP5PBVO_4GpHxDnS-ziMWPpSy1vlh0Iz9WN6SXDeKEI/s1600/endivia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhL2GhyphenhyphenAWxL40CbQL02pIc2KQyHPffZhselGWiuwJCpHvqDVT4Epl6rL3h9Bdgp67qokkh9e9zQINBbucHrovgSHkYPlQYg2waUkP5PBVO_4GpHxDnS-ziMWPpSy1vlh0Iz9WN6SXDeKEI/s1600/endivia.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;">A endívia da discórdia</span></i></div>
<br />
ERA UMA VEZ domingo passado, e eu estava num churrasco na casa do meu pai. Era o segundo churrasco do final de semana, doravante eu não tinha vontade nenhuma de comer carne, por isso fui bater um prato de salada com meu véio. A salada estava muito boa, com aqueles tomatinhos cereja sweet alguma coisa, mussarela de búfala, molho de semente de mostarda e uma folha pequenininha e meio pálida, especialmente deliciosa.<br />
<br />
-- Tá gostosa essa alface, né, filha?<br />
-- Não é alface, pai, é endívia.<br />
<br />
o que, para a minha imensa surpresa despertou um ataque colérico da dona de casa mais próxima. O cabelo oxigenado balançava efusivamente, enquanto ela repetia alto demais que aquilo nunca era endívia -- afinal, o que é endívia --, era mini alface daqueles em conserva que você compra no supermercado, e que ela -- né, Fulaninho? -- tinha comprado um saco de mini alface justo aquele dia, que era igualzinho a esse, e que aquilo com certeza era mini alface e não endívia, porque quem é que vai colocar endívia na salada, meu deus (tem que ser essas menininhas que acham que sabem cozinhar, pensou ela em silêncio), não é, Fulaninha (também de cabelo oxigenado), isso não pode ser endívia, que coisa que era endívia, mas com certeza não era aquilo, que era mini alface, que ela reconheceria um mini alface em qualquer lugar, ou talvez alface lisa, com certeza era alface lisa, porque endívia (o que é isso) não existe.<br />
<br />
É claro que eu não sabia o que responder. Que tipo de discussão era aquela?! Como aquilo poderia durar, meu deus, mais do que trinta segundos: ou é endívia, ou não é endívia. E por acaso eu tinha cara de verdureira CSI para poder determinar exatamente que tipo de folha era aquela? OK, sem problema, podia ser alface lisa, ou mini alface em conserva, ou alface higrogenado, ou folha de mangueira hidropônica transgênica: meu deus, quem se importa? Que diferença isso pode fazer? A única real forma de descobrir a identidade da verdura misteriosa só poderia unicamente ser perguntar a quem fez a salada (que no caso era um casal de diplomatas coreanos, o que realmente abre a gama de possibilidades) e não em uma discussão com argumentos a favor ou contra a endívia!<br />
<br />
Hoje, quarta-feira, o assunto parece ainda me intrigar, e eu desperto com os seguintes questionamentos: Será que essa mulher não sabia mesmo o que era endívia e estava tentando esconder (?) sua ignorância em uma discussão estúpida e inútil? Será que o verdadeiro sentido da vida dela era vencer no quesito dona de casa de todas as fêmeas alfa presente em qualquer recinto? Será que ela estaria atrás do troféu rainha do hortifruti do Distrito Federal? Será que ela teria, como um cara que eu conheci na balada uma vez, doutorado em hortaliças e seu orgulho estaria ferido por ter que discutir sua especialidade com uma qualquer num churrasco?<br />
<br />
Mas será, eu me pergunto, que o que as pessoas têm em comum, como humanidade, não é o mistério da vida, mas o prazer das pequenas discussões infrutíferas? Ou, neste caso, inverduríferas? Ou será, finalmente, que na discussão endívia versus alface, nuca pode haver um vencedor?vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-61993010460646741632012-08-12T14:36:00.002-03:002012-08-12T15:22:18.114-03:00Carta ao pai 2012<span style="font-family: inherit;">Sinceramente, queria muito detestar este livro, mas voltamos a ele outra vez, tentando encontrar uma compreensão, ou o motivo, <i>left and right</i>, por que esta pequena obra é uma das mais emocionantes, grandiosas e plurissignificativas da literatura.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-family: inherit;">"Querido Pai:<br />Você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni-los numa fala. E se aqui tento responder por escrito, será sem dúvida de um modo muito incompleto, porque, também ao escrever, o medo e suas conseqüências me inibem diante de você e porque a magnitude do assunto ultrapassa de longe minha memória e meu entendimento." </span></blockquote>
<span style="font-family: inherit;">Acho que Kafka, ao fim e ao cabo, também não entendeu direito os motivos por que escrevia essa carta. E é tão forte o fato de que o primeiro sentimento que ele exprime é "medo", medo ao pai.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Eu realmente não quero escrever o que <i>eu </i>acho disso. Vamos ficar com grandes pistolões que podem ter tido um vislumbre melhor do que o meu. </span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<i><span style="font-family: inherit;">Movimento 1: Derrida</span></i><br />
<i><span style="font-family: inherit;"><br /></span></i>
<span style="font-family: inherit;">O filósofo francês pensa nos momentos finais de "Carta ao Pai", no seu ensaio "Literatura em Segredo". O que ele vê é a forma com que Kafka ficcionaliza o discurso do próprio pai no fim da obra: </span><br />
<br />
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Nas
últimas páginas desta carta, Kafka se dirige a si mesmo, ficticiamente, mais
ficticiamente do que nunca, a carta que ele pensa que seu pai teria <i>querido</i>, teria <i>devido</i>, <i>em todo caso, teria
podido</i> lhe remeter como resposta. “Poderia responder”, “Teria podido
responder” (<i>Du könntest… antworten)</i>,
diz o filho, o que soa também como uma queixa ou um descontentamento que
responde a outro: não fala comigo, de fato nunca me respondeu e não o fará
nunca, poderia responder, teria podido responder. Você permaneceu segredo, um
segredo para mim.</span></blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Em última análise, o que fica claro da visão de Derrida é que Kafka aceita a impossibilidade da sua própria carta. A intransigência na relação entre pai e filho não pode ser superada, portanto essa carta será sempre uma carta sem resposta, uma carta impotente, ao léu, lida por gerações, mas nunca compreendida por aquele a que foi endereçada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: inherit;">Movimento 2: Bolaño</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: inherit;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Em "Literatura + Enfermedad = Enfermedad", Bolaño não fala sobre "Carta ao Pai". (De fato, a relação paterna não parece ser um tema importante da sua obra), mas nesta palestra em que ele fala da própria doença, faz uma leitura literal (que lindo) da famosa frase (de novo!) de Mallarmé: um lance de dados nunca abolirá o acaso. Porque, justamente, a médica indica que, nos estágios finais da sua doença, não poderia mais movimentar os dedos. O final da palestra também é Kafka:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 17px;"><span style="font-family: inherit;">Cuenta Canetti en su libro sobre Kafka que el más grande escritor del siglo XX comprendió que los dados estaban tirados y que ya nada le separaba de la escritura el día en que por primera vez escupió sangre. ¿Qué quiero decir cuando digo que ya nada le separaba de su escritura? Sinceramente, no lo sé muy bien. Supongo que quiero decir que Kafka comprendía que los viajes, el sexo y los libros son caminos que no llevan a ninguna parte, y que sin embargo son caminos por los que hay que internarse y perderse para volverse a encontrar o para encontrar algo, lo que sea, un libro, un gesto, un objeto perdido, para encontrar cualquier cosa, tal vez un método, con suerte: lo nuevo, lo que siempre ha estado allí.</span></span></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 17px;"><span style="font-family: inherit;">Bom, se a literatura é uma busca de algo que está sempre dado, se todos os dados estão jogados, ela é uma atividade que revela, em última instância, a impossibilidade de se comunicar. É a sentença final. Uma elaboração estética de uma vida inevitável, de uma morte inevitável, e da falência da empatia.</span></span></div>vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-36816864297143259272012-08-05T11:30:00.000-03:002012-08-06T15:28:38.637-03:00algumas reflexões impertinentes sobre literatura<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.thewritingnut.com/wp-content/uploads/2012/02/jane-austen-desk.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="319" src="http://www.thewritingnut.com/wp-content/uploads/2012/02/jane-austen-desk.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Dizem que a literatura é a mais simples das artes. Basta ser alfabetizado e ter caneta e papel que você pode ser um escritor. (a Jane Austen, por exemplo, escreveu seus romances em uma mesinha pequenininha, que só tinha espaço para o tinteiro). Mas um pintor, um artista digital, um músico têm como aliados diversos instrumentos, atrás dos quais eles podem se esconder (ou talvez atrás de outras pessoas). A literatura, ao contrário, é condenada à mais completa solidão, abandono e deriva. O escritor deve se deparar com o pior horror de todos, a aberração da natureza, a intimidação mais agressiva do pedaço de papel em branco. É como se fizesse o artista construir uma coisa usando nada mais do que ar. Não. Do que areia do mar, sujeita às intempéries -- o vento, a chuva, o mar, etc.<br />
<br />
(Um dia, meu pai me ligou com uma pergunta simples: qual é o primeiro elemento que se coloca na betoneira para fazer concreto?<br />
A- cimento<br />
B- água<br />
C- areia<br />
D- brita<br />
Desde então estou convencida de que na resposta desta pergunta reside toda a literatura.)<br />
<br />vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-40011697639894505362012-07-03T20:17:00.001-03:002012-07-03T22:10:10.806-03:00não existe amor em sp?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-s7sWehNrBDk/T_OX6POlY-I/AAAAAAAAAQo/5lrfqR3gQpw/s1600/306886_4164038020636_1689098314_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-s7sWehNrBDk/T_OX6POlY-I/AAAAAAAAAQo/5lrfqR3gQpw/s320/306886_4164038020636_1689098314_n.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
antes de começar, gostaria de deixar claro que estou bêbada, mediante uma guinada radical na minha vida amorosa que o tarô definiu como o carro de cabeça para baixo, e o mendigo que mora embaixo da minha casa provavelmente definiria como "sarjeta". (eu também).<br />
<br />
dito isso, podemos voltar ao tema principal. alguém por aí anda dizendo que não existe amor em esse pê. não existe amor em esse pê. ecoa nas cabeças de nós, radicados paulistanos, ou radicalmente não-paulistanos, como uma marreta, como as reformas contínuas das ruas e viadutos dessa cidade permanentemente engarrafada.<br />
<br />
minhas definições de vírus foram atualizadas.<br />
<br />
eu lembro aquele dia em que alguém teve que me segurar depois da balada para eu não cair no chão. não existe amor em esse pê? então, por favor, vocês me digam: que p*rra a gente está fazendo aqui, então? o que é que a gente passa todo dia? essas recessões amorosas, o vinho na madrugada olhando pro horizonte (que é bem aqui, no prédio da frente), esses dias sem sol, sem tempo livre, assistindo filme ruim na TV a cabo? o que é isso, senhor?<br />
<br />
não existe amor em esse pê, senhor cantor? então me explica esse coração partido.<br />
<br />
Att.<br />
<br />
Vinavina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-30454896873660386662012-07-03T01:00:00.000-03:002012-07-03T01:00:01.032-03:00post que perdeu o foco desde o começo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-CDdy3ZEAa6k/T_BSDgjWL5I/AAAAAAAAAQQ/sW1QQqS5FtQ/s1600/531288_420560647995800_1682821730_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="http://1.bp.blogspot.com/-CDdy3ZEAa6k/T_BSDgjWL5I/AAAAAAAAAQQ/sW1QQqS5FtQ/s320/531288_420560647995800_1682821730_n.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Quando eu pensei em escrever um post por semana, nunca imaginei que seria tão difícil, quer dizer, eu já tinha feito pior do que isso, um post por dia nos primeiros anos do meninashoyo, e não era complicado. Mas ter um blogue em 2002 é muito diferente de 10 anos depois, 2012, o ano inimaginável. Hoje, pra se ter um blogue, você precisa ter algo a dizer, ou pelo menos <i>parecer </i>que tem algo a dizer, e não simplesmente publicar porcarias sobre o seu dia-a-dia. Não, isso não é verdade.<br />
<br />
Vamos por partes. Em 2002, eu escrevia praticamente um post por dia sobre algum assunto aleatório, normalmente citando vários amigos, piadas internas, etc. O lance era visitar outros 350 mil blogues por dia, com posts parecidos e deixar comentários com links para o seu blogue. Isso criava uma rede em que blogueiros se visitavam diariamente, trocavam ideias (ou não) e mais ou menos influenciavam a escrita uns dos outros. Tinha blogues com mais de mil comentários por dia. Os meus sempre foram mais modestos, mas já tive 50, quase um chat.<br />
<br />
Hoje eu continuo escrevendo sobre assuntos aleatórios ligados ao meu dia-a-dia e continuo visitando meia dúzia de blogues, os habitués da listinha aqui em baixo, sem deixar comentários, porque já não tem mais graça angariar público (e nem faz muito sentido). Não existe mais uma hierarquia dos blogues, porque, afinal, quase não existem mais blogues, se a gente comparar com antigamente. Se você tem um blogue é porque você não consegue viver sem ele, é uma forma de se expressar estranhamente necessária -- quadrinhistas fazem tirinhas, escritores escrevem, poetas poetizam e o povo da astrologia faz mapa natal. É como os leões rugindo, os padeiros fazendo pão, os funcionários públicos carimbando papeis, os engenheiros construindo pontes: <i>you got to do what you got to do</i>.<br />
<br />
Mas não era sobre isso que eu ia falar hoje. Ia falar sobre a aridez da vida, a dificuldade de se encontrar alguma coisa pra dizer em um mundo onde cada minuto do seu dia é útil, ou deveria ser (por isso a foto lá do começo). Acho que vai ter que ficar para outro post.<br />
<br />
PS: falando em leões rugindo, saiu um <a href="http://www.uel.br/pos/letras/EL/vagao/EL9c.pdf" target="_blank">ensaio meu</a> sobre <i>Los detectives salvajes</i> na Revista Estação Literária, caso alguém se interesse.vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-12462817033132884652012-06-26T09:23:00.000-03:002012-06-26T09:23:36.459-03:00mea culpaOlá, pessoas anônimas da internet<br />
<br />
vocês provavelmente terão percebido que não tem nenhum post novo nesta terça-feira. Explico-me: vou mandar imprimir o meu mestrado amanhã e tive que postergar TODOS os meus projetos de escrita. Primeiro foram as cartas, depois o blogue, que estava servindo para desopilar o nervosismo e a estafa inerentes ao trabalho do pós-graduando. Infelizmente, esta semana, ela (a estafa, não o nervosismo) (o nervosismo foi ontem) me venceu.<br />
<br />
Com desejos de que esta carta te encontre -- e aos seus -- em uma situação mais auspiciosa que a minha, me despeço.<br />
<br />
yours truly<br />
<br />
Raquel<br />
<br />
<br />vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-74472600010696605432012-06-19T01:00:00.000-03:002012-06-19T01:00:04.854-03:00TEM GENTE QUE <i>gosta</i> de texto empolado. sério mesmo. não é por falta de opção, ou por obrigação editoral. às vezes, nem é falta de talento. a pessoa realmente <i>gosta</i> de escrever empolado, como um velho de 80 anos. o texto fica sem a menor originalidade e até soa pretensioso, especialmente quando a pessoa está falando de um livro ou de um filme, como se estivesse tentando arrumar um emprego como crítico da folha. e às vezes essas pessoas são jovens, escrevendo em blogues. poderiam estar aí, querendo fazer alguma coisa nova, chutar a porta e escrever bobagem, sei lá.<br />
<br />
o pior é quando a pessoa empolada quer tentar ser arrojada com uma fórmula batida. começar a entrevista com "era uma noite chuvosa de outono e eu esperava a charlize theron no lobby do copacabana palace. ela apareceu quinze minutos depois, usando uma camiseta vinho e um colete, bem à vontade, e me disse 'oi'. 'oi', eu respondi, e o barman trouxe duas garrafas de água com gás. 'eu gosto assim, sem gelo', disse charlize, e eu me senti a vanguarda do jornalismo brasileiro, etc etc etc". quando a entrevista é mais sobre si mesmo do que sobre a pessoa que você tá entrevistando, sofrível.<br />
<br />
quando a pessoa empolada comenta alguma coisa que não é empolada e usa umas palavras como "arrojado", "lúdico", "bacana", "descolado". a última é a pior. quando um jovem usa uma gíria dos anos setenta que nem a sua mãe sabe o que significa.vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-59966347028188081342012-06-12T01:00:00.000-03:002012-06-12T01:00:01.633-03:00carroHOJE, NA VERDADE, eu não escrevi nada. Tô cheia de trabalho (viva!) e tive uma semana difícil. <i>Así que </i>vou ser cara de pau e postar um negócio que eu vi que tinha escrito no meu desktop. Pra vocês que são novos aqui, desculpe o dramalhão, mas os antigos já deviam estar com saudade de um autêntico <a href="http://www.amoreseusobjetos.blogspot.com.br/search/label/vinadrama" rel="nofollow" target="_blank">vinadrama</a>....<br />
<br />
<br />
<blockquote>
eu não aprendi mais nada na vida além de literatura.<br />não sei entrar no carro com o amor da minha vida e apreciar a paisagem: meus carros sempre batem.<br />numa árvore, no meio do caminho, o capô rasga, sem a menor intenção de sobrevivência e todas as coisas amassam e se quebram em pedacinhos.<br />o vidro cai em câmera lenta, como neve. as pessoas nunca aterrisam: ficam paradas no ar, os olhos bem abertos, de ponta cabeça, como um retrato.<br />todos os meus carros batem.<br />eu quero que você leve meu carro emprestado. pegue a chave da casa no vaso da planta, pegue a chave do carro na minha bolsa, enquanto estou dormindo na cama em que você não está.<br />tire o carro da garagem e vá assistir um show numa cidade aqui perto.<br />e no caminho passe correndo no pardal.<br />e no caminho bata o carro no meio fio e me ligue no seu nextel para ver se eu ainda tenho seguro.<br />e leia meu nome na porta do guincho e nunca mais esqueça.</blockquote>vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-60549758530252984042012-06-05T01:00:00.000-03:002012-06-05T01:00:00.800-03:00da capa à contracapa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://24.media.tumblr.com/tumblr_m3t9c2tFNi1qlc0voo1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://24.media.tumblr.com/tumblr_m3t9c2tFNi1qlc0voo1_500.jpg" width="262" /></a></div>
<br />
HOJE EU ACORDEI pensando uma coisa bem besta. Que o ser humano é um animal essencialmente paradoxal (olha, rimou): por um lado ele precisa viver em sociedade, constrói ponte, etc; mas tem que carregar dentro de si essa imensa solidão e a certeza de que tem algo dentro de si que é incomunicável.<br />
<br />
A maioria das atividades humanas advém da primeira característica: a política, a engenharia, a música, o sexo, a astrologia, a escalada... Todas feitas a partir da magia da integração das pessoas a fim de fomentar, exatamente, essa mesma magia. Como um moto-contínuo. Não me leve a mal, não estou dizendo que a música não depende de uma etapa de criação, em que a pessoa tem que sentar sozinha no piano e arrancar as coisas de dentro de si, etc. Mas, para que serve a música? Num sentido bem figurado, aquelas centenas de pessoas que vão assistir a um concerto, todas juntas, ouvindo versões da mesma música filtrada pelos seus ouvidos danificados pelos sons da grande cidade. Ou aquela meia dúzia de pessoas, no aniversário da Cláudia, ouvindo pagode e dançando. Ou a música que toca quando a noiva entra no altar. Coletividade, Zeitgeist, catarse coletiva. Dá para se responder à música, dá para dançar ao som dela, ou vaiá-la.<br />
<br />
Mas a literatura se alimenta da segunda característica. Diferentemente do músico, depois do momento de criação -- todos aqueles anos na frente do computador -- o resultado é uma obra que só pode ser fruída individualmente. Claro que você pode adaptar um livro para o cinema, ou lê-lo em voz alta, ou escrever uma peça, etc. Mas o livro-livro é destinado para uma fruição individual. Segundo o crítico argentino Damián Tabarovsky<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
"Se há algo que se opõe à literatura é a argumentação. A literatura é o que acontece agora, neste mesmo instante, o que advém irremediavelmente, e a experiência literária é a experiência desta ausência, da linguagem desbocada e nossa própria solidão. Solidão que é da própria obra. A obra não é afirmação, não é positividade, não é construção: ao contrário, a obra é um parêntese, a suspensão do mundo. A obra não dá sentido, o retira. Não gesta, ao contrário, a obra é a materialização sensível da anulação do mundo: a obra suspende." (p. 90)</blockquote>
<br />
Bom, não era exatamente isso que eu queria dizer.<br />
<br />
PS: Este <a href="http://awesomepeoplereading.tumblr.com/" target="_blank">tumblr </a>é muito legal.vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4595391615947086833.post-16351600243763268812012-05-29T01:00:00.000-03:002012-05-29T01:00:08.267-03:00macau<div class="tr_bq">
É UM ALÍVIO saber que, a não ser pelos desavisados, nenhum leitor vai entrar nesse blogue esperando uma grande epifania. ainda bem, porque eu acho que nunca tive uma.</div>
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(e nem um post político. nada de greve dos metroviários ou depoimento da xuxa. ufa.)<br />
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pois então, hoje estava vendo um <a href="http://concursos-literarios.blogspot.com.br/2012/02/31052012-concurso-de-contos-rota-das.html" target="_blank">concurso literário em Macau</a>. em Macau! deve ser o lugar mais insólito da face da terra, uma pequena ilha que deve tributos infinitos a uns conquistadores lusitanos, fadados a falar português em torno de um país em que todo o resto do mundo fala com uns simbolozinhos desenhados.<br />
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aí eu lembrei do excelente <i>Macau</i>, do excelente Paulo Henriques Britto, e achei o poema que eu tava procurando. eis-lo.<br />
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<blockquote>
II</blockquote>
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<blockquote>
Tão limitado, estar aqui e agora,<br />dentro de si, sem poder ir embora,</blockquote>
<blockquote>
dentro de um espaço mínimo que mal<br />se consegue explorar, esse minúsculo<br />império sem território, Macau</blockquote>
<blockquote>
sempre à mercê do latejar de um músculo.<br />Ame-o ou deixe-o? Sim: porém amar<br />por falta de opção (a outra é o asco).<br />Que além das suas bordas há um mar</blockquote>
<blockquote>
infenso a toda nau exploratória,<br />imune mesmo ao mais ousado Vasco.<br />Porque nenhum descobridor na história</blockquote>
<blockquote>
(e algum tentou?) jamais se desprendeu<br />do cais úmido e ínfimo do eu.</blockquote>
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BRITTO, Paulo Henriques, o excelente. <i>Macau</i>. SP: Companhia das Letras, 2003. p. 42. (a minha edição tem uma dedicatória emocionante da minha melhor amiga) (que me deu de presente) (obrigada)<br />
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e agora que eu copiei esse poema, eu penso em duas coisas importantes.<br />
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1) o PHB deveria ganhar esse concurso, mesmo que ele não tenha se inscrito. mesmo que eles premiem contos.<br />
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2) que "infenso" é deveras uma palavra muito lusitana.<br />
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<div style="color: #333333; font-family: Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 11px;">
<b>infenso</b> <span class="varpb" style="display: inline;"><b></b></span><br />(latim <i>infensus, -a, -um</i>)<br /><span class="varpb" style="display: inline;"><div class="" style="padding-left: 10px;" title="">
<i>adj.</i></div>
</span><div style="padding-left: 12px;">
<span style="color: #999999; font-size: 0.9em;">1. </span><span style="cursor: pointer;" title="Duplo clique para ver definição">Que se opõe a.</span><span style="font-variant: small-caps;"><span style="cursor: pointer;" title="Duplo clique para ver definição"><small> = ADVERSO, HOSTIL, INIMIGO</small></span></span></div>
<span class=""><div style="padding-left: 12px;">
<span style="color: #999999; font-size: 0.9em;">2. </span><span style="cursor: pointer;" title="Duplo clique para ver definição">Que mostra irritação ou ira.</span><span style="font-variant: small-caps;"><span style="cursor: pointer;" title="Duplo clique para ver definição"><small> = IRADO, IRRITADO</small></span></span></div>
<span class=""></span></span></div>
<span class="" style="color: #333333; font-family: Verdana, Arial, sans-serif; font-size: 11px;"><br /></span><br />
e que agora fica IMPOSSÍVEL ganhar esse concurso sem escrever algo com a palavra "infenso". esse provavelmente deve ser o nome do meu conto.<br />
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2.1) correção: infenso não parece mais uma palavra lusitana. parece uma daquelas palavras perdidas ao léu, palavras náufragas, que ninguém mais se dá conta que não usa. como macau. na CHINA.<br />
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2.2) nada mais infenso do que a terceira estrofe. como macau pode estar à mercê de um músculo. o coração? macau é metáfora do "cais úmido e ínfimo do eu", mas pode ele, o tal território, estar também nesse estado dependente? o músculo é a china?<br />
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pista: esse músculo lateja. que músculo lateja? em espanhol, quando o coração bate, ele "late". (latte como o café, ou late como o cachorro? desculpa.)<br />
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o império sem território cujas bordas são o mar.<br />
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amar macau ou deixar macau. a segunda alternativa é o asco. será possível deixar macau? implantar uma ditadura nele, como parece sugerir o trocadilho. ou será que a ditadura já existe e o músculo do qual ela depende é o bíceps, a força bruta -- o abraço, também, que sufoca?<br />
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acabei de ler na wikipedia que quando os conquistadores portugueses perguntaram aos nativos qual era o nome daquele lugar, eles responderam:<br />
- <span style="background-color: white; font-family: sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19px;">媽閣</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: sans-serif; font-size: 13px; line-height: 19px;">o que, para mim, é revelador.</span><br />
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o que me faz pensar na terceira coisa.<br />
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três) eu sou a pior crítica literária do PLANETA, incluindo macau, porque só eu sou capaz de analisar somente a estrofe DO MEIO de um poema.<br />
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esse post é como macau, no meio da china.vina apsarahttp://www.blogger.com/profile/00525521792175364303noreply@blogger.com1