sábado, 26 de abril de 2008

nihilismo

Voltei. E muito absolutamente realizada, porque alguém de Babaçulândia, Tocantins, entrou no meu blogue. (Esses dias, eu to parecendo o Silvio Santos contando as caravanas que vêm pro Topa Tudo por Dinheiro. Um beijo pra galera de Babaçulândia!).

Grande Babaçulândia.

Pois é. Hoje foi uma aula muito produtiva na faculdade, quando eu descobri que niilismo vem de nihil - do latim, nada. Literalmente, nadaísmo. Só que nadaísmo parece natação. Talvez vaziísmo, mas aí lembra vasilha, tupperware. Eu devia fundar o tupperwarismo, o movimento literário de guardar os restos no congelador, só pelas dúvidas. E o importante dos poemas tupperwaristas é que eles podem ir direto pro microondas. Direto. E aí, pronto pra servir a qualquer hora, em qualquer lugar, apto a qualquer situação social e anti-social. Aliás, é um movimento bem conservador (tú-tú-pá!).

Nem eu suporto mais meu senso de humor.


Ontem eu tive uma grande revelação. Depois de ficar dois dias de cama, pensei em alguma coisa genial, absolutamente genial, indigna da minha própria imaginação ordinária. E esqueci. De novo. E depois, se eu lembrasse fatalmente, andando pela rua, eu ia pensar que é uma idéia muito boba, e que o fato de eu ter esquecido teria gerando uma espectativa que não condizia com a realidade. Então, entre um e outro, eu prefiro esquecer e me considerar uma gênia incompreendida pelo meu próprio consciente, incapaz de manter as minhas próprias (geniais) idéias.

música de fundo: britadeiras eternas da paulista.


Não consigo imaginar coisa mais solitária do que uma sexta-feira à noite, ao som de britadeiras. Fato é que as pessoas solitárias se consideram sempre a gênese mesma da solidão. Todos os dias, na rua, cruzamos com pequenos centros cósmicos de solidão em polpa, como aquelas que você compra no supermercado. Hoje mesmo, no meu devaneio interior diário no trânsito, vi uma mulher esquisita andando na rua. Bonita, mas muito mal vestida, carregando umas bolsas desordenadas, segurando outras coisas na mão, meio descabelada e, reparem, provavelmente cantando sozinha. O mais extraordinário é que ela não fazia som, tipo cantava em silêncio - fantástico! Vocês nem imaginam, mas é exatamente assim que eu ando na rua! - sempre achei que eu fosse louca... Mas, afinal, todos somos, né?


Bom, ontem, mais uma vez, um dia absolutamente revelador, assisti a uma palestra do Contardo Calligaris, aquele psicanalista multi-uso que escreve sobre literatura na Folha. Inclusive, pensando bem, foi uma das pessoas que eu mais gostei de ver ao vivo. (Já falamos sobre isso em outro post, sobre o Mia Couto, lembram? Eu tinha dito, então, coisas sobre a minha compulsão fetichista ao revés, de não gostar de ver as pessoas ao vivo. Pois é...). Bom, pois pe, dessa vez foi diferente. Talvez porque a palestra dele era sobre outro autor - Luis Alfredo Garcia-Roza -, por quem ele era visivelmente apaixonado. Outro motivo, ainda no campo meramente conjectural, seja porque temos um gosto muito parecido. Ele disse "se alguém me perguntasse qual era meu herói, eu diria, com segurança: é o Marlowe". Pois é, o meu não é o Marlowe - Philip Marlowe, detetive mais importante do maior escritor de romances noir, Raymond Chandler - mas ele é, com certeza, um personagem fascinante. Eu particularmente gosto da sua absoluta incapacidade de lidar com mulheres, ainda que elas se sintam invariavelmente seduzidas por ele. A narrativa é em primeira pessoa, por isso não fica muito explícito, mas se você tentar pensar nas situações do ponto de vista feminino... Por exemplo, em O sono eterno, estréia do detetive, duas irmãs são filhas do Gal. Sternwood, que o contrata. (Chandler provavelmente põe no papel sua mais profunda fantasia ao fazer as duas tentarem seduzi-lo). Em uma noite solitária, mas sem as britadeiras características das minhas, Marlowe volta pra casa e eis que encontra a mais jovem Sternwood como deus lhe trouxe ao mundo na sua cama. O que ele faz? Dá uns tapas na mulher e joga a pobre na sarjeta, porta à baixo. Marlowe não tem a menor habilidade feminina. A menor. Ouso dizer que as mulheres o assustam, por isso toda aquela pose de machão.


Bom, mas é isso que você faz nas noites solitárias de sexta-feira...

Um comentário:

júlia disse...

adorei, quel
todo seu bom humor e tudo mais tu-do
lembrei de um post de anos do meu blogue, história verídica, mesmo, assim, saí do banheiro da faculdade e transcrevi:
http://cubodenoite.blogspot.com/2005/10/dilogo-do-banheiro-da-faculdade.html

beijo!