EU TENDO A ser pouco inspirada por escritoras mulheres. É uma coisa triste de se admitir, na verdade. Não porque elas sejam mulheres, pelo amor de deus. Mas porque existe alguma coisa que não me convence na escrita da maioria delas (estava pensando nisso enquanto lavava a louça, que clichê).
Eu gosto de poucas escritoras, principalmente brasileiras. Clarice Lispector, óbvio, mas mais pelo valor histórico na minha vida, como na de qualquer outro adolescente brasileiro. Eu passava mal lendo os livros dela, pensando em existir, pensando em coisas que a gente não pensa. Acho que Clarice é uma porta para outras drogas: assim que você aprende a ler os livros dela como devem ser lidos, com cuidado, sofridos, lentos, você aprende a ler.
Ana Cristina Cézar, honesta como o diabo, cutucadora de feridas. Ela não se contenta com as palavras bonitas ou com a sintaxe elaborada e paradoxal (como a Lispector). Tem uma sinceridade daquelas que é soco no estômago e simples, simples ao mesmo tempo.
Acho que de brasileiras é só. Gosto da Lygia Fagundes Telles, mas não tenho tanto interesse. Não me inspira.
(Não quero dizer que essas pessoas são boas e outras são ruins, não vou citar a Virgina Woolf, que é uma senhora escritora, mas que também não me inspira. Me faz lembrar a Clarice Lispector, ainda que seja o contrário, mas eu li Clarice primeiro, não dá mais pra mudar a ordem dos fatores.)
Ursula le Guin, dama da ficção científica. Adoro como os planetas dela têm questões de gênero, mas também de exílio.
Agatha Christie, dama da literatura policial, uma velhinha extremamente produtiva. Eu penso mais nela como uma pessoa intimamente perturbada, que precisava escrever compulsivamente pra se sentir feliz.
E só. O fato de eu ter parado 2 minutos pra pensar e não sair nada é muito significativo. Mais do que eu voltar para a minha estante e procurar por omissões constrangedoras.
E agora é a hora da explicação aleatória que não tem nada de científica.
Eu acho que sou de uma tradição de leitores extremamente desconfiada da palavra escrita. Que, de forma geral, não aceita a palavra bonita, a sintaxe poética, o uso da segunda pessoa do plural para criar uma instância ficcional elevada. Existe algo de pernicioso aí, diz o meu intelecto aceso. São armadilhas que podem desviar da verdade, como red herrings, pistas falsas (mal traduzidos como "arenques vermelhos"). E, de forma geral, existem poucas mulheres escritoras (que o meu humilde recorte do mundo tenha convivido) que não sejam abarrotadas, dramáticas.
Mostrando postagens com marcador agatha christie. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador agatha christie. Mostrar todas as postagens
segunda-feira, 23 de abril de 2012
sexta-feira, 24 de junho de 2011
roubar, matar, pilhar

escrever deve ser a bosta da atividade mais solitária que existe. não à toa, os escritores são internacionalmente conhecidos como antissociais, bêbados, intempestivos, excêntricos e suicidas. há uma vasta literatura sobre acordar de manhã e fazer o seu double vodika tonic, ou como acordar de manhã na sarjeta e limpar seu vômito.
se não fosse uma faculdade altamente depressiva, muitas pessoas escolheriam a solidão das montanhas rochosas para escrever, ou os momentos de tédio num apartamento na paulista. não ter chefe, mas não ter dinheiro pra comprar xampu; não ter que bater ponto, mas aumentar consideravelmente o perigo de ser despejado: escrever é uma emoção.
bolaño falava bastante sobre os livros que roubava. esses são especiais, ele dizia, você nunca esquece um livro que roubou.
hemingway, entre uma dose e outra… ahm. nada.
clarice lispector, cuja vida ultrapassava todo o entendimento, dormiu uma vez com o cigarro na mão e teve queimaduras de segundo grau.
púchkin adorava um duelo, até ser morto em um.
byron transou com a irmã, ainda garoto, e depois de virar herói na grécia e descobrir múmias no egito, morreu na itália, na cama de uma mulher casada.
agatha christie misteriosamente desapareceu durante um ano. até hoje ninguém sabe onde ela estava.
é um mundo, justamente, fascinante.
não sei exatamente o que eu queria dizer com isso, parecia uma boa ideia ontem à noite. acho que era que escrever e fundo do poço são dois lugares irmãos. e que, por mais que você escreva best sellers, o limite do desespero está sendo oferecido para você, como uma flauta hipnótica. não. como um presente. porque depois que se escreve, aquilo não faz parte mais de você e você nunca mais vai ser acessado por aquilo, a menos como leitor. quando uma pessoa lê algo que você escreve, ela não estende a mão para você, não há nenhum encontro.
quando uma pessoa lê algo, ela está sozinha.
quando uma pessoa escreve algo, ela está sozinha.
é um pacto com a deusa Apatia. é um pacto consigo mesmo, que depois de um tempo muito breve se vai, não sei para onde.
mas, estranhamente, enquanto escrevo estas palavras, penso em “o poço e o pêndulo”, de Poe.
estamos lá, deitados numa cama, atados. estamos num posso profundo. como chegamos lá? quem somos nós? perguntas são inúteis porque um pêndulo enorme está fazendo sua função bem acima de nós e a cada gingada de um lado para o outro, desce em nossa direção.
estamos lendo.
o desespero nos impede de pensar, as cordas de couro atam nossas mãos.
estamos escrevendo.
ratos sobem pelo nosso corpo, estão comendo nossos farrapos de roupa. o pêndulo encosta nas ataduras, os ratos desviam.
fechamos o livro. estamos cansados. deve ser por isso que certas pessoas se tornam alcoolatras.
Assinar:
Postagens (Atom)