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terça-feira, 19 de agosto de 2014

506: Livrões


                
Nos últimos anos, temas como Testemunho, a relação entre Ficção e História, Autobiografia e Autoficção dão a ideia de que a literatura em espanhol tem habitado os limites da própria literatura. Está confortável em questionar esses limites e se apropriar de novas formas de narrar. Josefina Ludmer chama este movimento de “literatura pós-autônoma”. Mesmo que o termo seja discutível – porque pressupõe uma noção de autonomia pura da arte – podemos enxergar facilmente este esforço em habitar limites no laboratório de autores contemporâneos como Mario Bellatin, Margo Glantz, Tununa Mercado, Tamara Kamenszain, Mario Levrero, Roberto Bolaño, entre muitos outros.
                Mas ao mesmo tempo, numa reação que parece diametralmente oposta, retoma-se também a tradição europeia do romance – não do romance moderno, mas do oitocentista, o romance como forma de conhecimento do mundo, o romance como investigação social, o romance que dá conta da realidade, enfim, o romance total. 2666, de Bolaño, por exemplo, por sua envergadura de mil páginas, por seus detalhes ínfimos, pelo seu narrador onisciente inabalável, pela fé inquebrantável na possibilidade de narrar uma história, nos remete rapidamente ao gesto oitocentista, tolstoniano, da possibilidade de narrar tudo. Guerra e Paz não é um romance histórico para Tolstói, ele é mais do que a própria História. O romance, para o mestre russo, é capaz de penetrar (tudo?), mais profundamente do que a historiografia. É o romance total.
                Só que o romanção hispano-americano do século XXI dá a volta sobre si mesmo . Uma volta diferente da metaficção pós-moderna autofágica, que continha dentro de si sua própria crítica. O romance total hispano-americano do século XXI é um romance colateral, que se perde no próprio assunto, cujo propósito de existir nos passa batido. É um romance sem centro, sem propósito, sem tese, cunhado na estética do tédio.” Un oasis de horror en medio de un desierto de aburrimiento”, é a epígrafe de 2666.
                Melhor do que 2666, o exemplo mais visível desta energia gasta em quase nada é a série La novela luminosa e Discurso vacío, dois romances do escritor uruguaio Mario Levrero. Ao contrário do romance total oitocentista, com seus grandes temas e teses, os romances de Levrero são totais pela meticulosidade verborrágica dos detalhes que não se acumulam em torno de um objetivo.
                "No me interesan los autores que crean laboriosamente sus novelones de cuatrocientas páginas, en base a fichas y a una imaginación disciplinada; sólo transmiten una información vacía, triste, deprimente. Y mentirosa, bajo ese disfraz de naturalismo. Como el famoso Flaubert. Puaj." (p. 72)
                Entretanto, é esse mesmo disfarce de naturalismo que Levrero usa para narrar sua história sobre nada.

                Em suma, a título de panorama da literatura hispano-americana contemporânea, podemos dizer que existe uma corrente do fragmento, da singularidade da experiência, e uma segunda corrente, que talvez seja a mesma corrente, que é a do romance total, em que essa singularidade se alça para o conhecimento do mundo e volta dessa viagem com quase nada nas mãos. É o teatro da pequenez, em Levrero, e a rotina do horror, em 2666. 

terça-feira, 3 de junho de 2014

posts inacabados vol 1: tolstói (claro)


As pessoas acham que desisti desse blogue. Intrigas! Ando escrevendo, e muito. Mas terminar as coisas, de repente, pareceu muito difícil.

Pensando nisso, vou inaugurar uma série de posts inacabados que tenho guardados do meu computador. Gostaria de dedicar esse esforço de continuidade à amiga/leitora Kelly Marques, pelo seu apoio moral/incondicional/cafeinístico.

Esse é o começo de um texto sobre Guerra e Paz, frustrado por um artigo na Gazeta Russa que falava quase a mesma coisa. Réquiem para o ensaio...

Este artigo se baseia metodologicamente numa ignorância profunda sobre a literatura russa e sua respectiva sociedade e, segundamente, em uma excitação igualmente profunda pela obra literária de Liev Tolstói.
 Quando falamos que tal escritor inspirou uma “multidão” de fãs, ou que reuniu um “culto”, comumente estamos usando essas expressões em sentido figurado. Não com Tolstoi. Se nos livros de História da literatura, você vir escrito que Tolstoi formou uma seita, entenda com o sentido literal de religião. O tolstoísmo está aí para nos lembrar que a literatura já foi responsável pela mobilização política e espiritual (?) da sociedade, um estremecimento das bases morais do "eu" que pode causar revoluções. Também nos faz lembrar que esta mesma instituição, a saber, a literatura, encontrou o seu auge mais culminante justamente no século XIX, quando a sua influência era muito maior do que qualquer outro tipo de mídia. (Não era uma época multimídia, como hoje. Seria monomídia, talvez, em que o meio impresso dominava completamente a opinião pública.)
 Será que conseguimos imaginar o sucesso de Tolstoi? A discussão que Guerra e Paz movimentou nas ruas, a cada volume? Teremos como perceber a total dimensão, em termos de público, da influência dos seus escritos?

terça-feira, 17 de maio de 2011

mais um drama russo?


FALANDO EM infâmia, o mote secreto deste blogue, lendo a edição de 4 de maio da revista Carta Capital, eis que me defronto com a coluna "blogs do além", que pode ser uma das melhores coisas que o jornalismo brasileiro já criou. seguramente a mais infame.

o blogue do mês é tolstoy story, o blog de liev. não me lembro do dia em que ri tanto sozinha.

segundo o romancista russo, recém tirado da cova
Pegue o último Oscar e faça um exame sincero. Quem apresenta uma abordagem mais profunda e reflexiva sobre a vida? O oscarizado e previsível O Discurso do Rei ou o comovente e surpreendente Toy Story 3?”, provoca Liev. “De minha parte não há dúvida. Se algum produtor desses grandes estúdios de animação se interessar em adaptar meus escritos tardios, tudo o que eu tenho a dizer a ele é: amigo estou aqui.