Primeiro, você chega em casa, deixa a sua bolsa pesada, toma banho e põe um pijama. Depois, vai pra cozinha, dá oi pras baratas (como elas são baratas germânicas, você diz Heil!) e toma um copo de leite. Em seguida, lava o copo, põe no escorredor, e vai pro quarto, fazendo barulho com os chinelos. Aí você deita na cama.
Depois de deitar na cama, não tem mais volta. Você sente que não vai levantar de lá até a próxima grande extinção do planeta. Quando as baratas chegarem pra te comer, você ainda estará na cama.
A esquizofrenia de conversar com os livros é infinitamente mais saudável do que a de sonhar com eles. De fato, ontem eu não consegui parar de sonhar com o Roberto Bolaño. Eu estava em uma livraria e lá ele estava, não olhava pra mim, mas tinha sempre aquele sorriso de orelha de livro. A verdade é que na maioria das fotos o Bolaño não sorri, parece que ele estava sempre antecipando a própria morte, o que é tão trágico a respeito dele. Não é como se ele tivesse sido atropelado, ou sequestrado, ou tivesse Alzheimer. Ele só morreu. No entanto, essa morte anunciada, em algum momento, virou a essência da ausência de sorriso do Bolaño.
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Bolaño morreu em 2003. Eu morri ontem.
Ele me matou.
2 comentários:
ele me lembra alguém, mas não sei quem...
ciça, acho que ele parece o edward norton nessa foto.
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