NAQUELA ÉPOCA, já era comum sair e conquistar o mundo. Qualquer pessoa poderia fazê-lo. Era só chegar, ensaiar o rito da pedra originária e escrever o nome na árvore. Mas também não significava nada: ser senhor do universo envolvia muitas contas pra pagar e nenhuma autonomia. Não é fácil governar súditos naturalmente anarquistas, uma nação de piratas.
Eu mesmo já fui pirata, não é nada demais, só dá bastante chulé.
(jan/ 2010)
Mostrando postagens com marcador achados e perdidos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador achados e perdidos. Mostrar todas as postagens
terça-feira, 27 de março de 2012
terça-feira, 20 de março de 2012
achados e perdidos 2009
lembrei de outro projeto inacabado, pra aumentar a lista do post anterior. a ideia era escrever cartas de amor para uma pessoa desconhecida e enviar para um edereço aleatório em São Paulo. Mas aí eu comecei a pensar nos problemas diplomáticos: e se o endereço for comercial? e se a pessoa for casada e não conseguir convencer o marido/a de que o remetente é desconhecido? e se a pessoa quiser escrever uma resposta?
aí a solução era entregar para uma pessoa desconhecida de mim, mas conhecida de alguém por aí.
a primeira carta era um diagrama, daqueles com setinhas. (no meu caderno está marcado novembro de 2009)
bom, depois da primeira carta, tinha dois esboços de cartas futuras. uma era essa:
tem umas melhores, tipo esta:
enfim, tudo isso para dizer que, meu deus, o passado realmente é um país estrangeiro e que, no final das contas, todas essas cartas (com outras palavras, umas imagens bonitinhas e uns vídeos que podem me ferrar com o ecad) foram para vocês, meus correspondentes desconhecidos.
PS: este post é comemorativo dos 10.000 pageviews deste blogue. obrigada!
aí a solução era entregar para uma pessoa desconhecida de mim, mas conhecida de alguém por aí.
a primeira carta era um diagrama, daqueles com setinhas. (no meu caderno está marcado novembro de 2009)
você acha que o amor ainda é possível? --> não é uma pergunta retórica --> com isso, não estou tentando dizer que os tempos não são propícios para o amor --> mas você escreveria uma carta para um estranho... --> digo, uma carta de verdade: íntima e extensa --> sem se identificar, mas convencendo-o, sem a mais mínima sombra de dúvida, de nada mais nada menos que o ama?nossa, será que deu pra entender? que pena que eu não sei fazer os balõezinhos...
___> usaria palavras que já trocou com outra pessoa?
escreveria?--- ____> usaria palavras ditas por outros --> que você queria que tivessem sido suas ---> [balão pontilhado] "quando a gente se vê, o Sol nasce".
_____> ficaria acordada à noite, de madrugada, de manhã... ---> fantasiando o dia em que, sem avisar, usaria o endereço do destinatário --> num dia especialmente cinza e chuvoso --> para bater na sua porta --> e dar-lhe --> 1 (hum) --> beijo?
bom, depois da primeira carta, tinha dois esboços de cartas futuras. uma era essa:
Eu te amo tanto que o meu Destino dói [era antes do novo acordo ortográfico]arg. ainda bem que eu não sou diabética. segunda carta:
de te observar cruzando o meu caminho
pegando a minha mão
olhando no fundo dos meus olhos
eu acredito no amor?quanta negação, meu deus.
não sei.
definitivamente no amor dos outros: não existe coisa mais brega e artificial do que um casal de namorados.
só o que sei é amar estranhos. o amor é anônimo, não troca aliança, não faz jura, não trepa. é aquilo que, sozinhos, nos impede de dormir, para fantasiar sobre as causas do mundo.
o amor é aquilo que faz a gente feliz em pensar que há vidas em outros planestas.
tem umas melhores, tipo esta:
A chuva também é um símbolo. Representa a espera, a paciência com que a chuva cai sem sentido. Minha avó diz que a chuva é Deus. (Acho que nem ela entende o quanto isso é pagão). Mas eu sei por que agora, observando a chuva cair, e São Paulo ficando louca. A chuva não tem sentido, enlouquece as pessoas e a vida da gente, funcionando em uma simbologia completamente alheia a si mesma. Porque a gente não consegue entender as coisas que não fazem parte da nossa lógica tão humana: a morte, Deus e a chuva.
Só que a chuva cai, todo dia.
Será que o amor é como a chuva? Será que não entendemos o amor? Será que, na verdade, não entendemos as coisas que nos movem, por isso as deixamos morrer, nas viagens de ônibus, nas filas de banco, num copo de chope? [a letra está trêmula agora, acho que estava no ônibus]
Seo amora paixão é tão etérea, de onde vem o toque? A vontade de se ver, de encostar, de tropeçar?
Ou será que estou errada? Será que a paixão não é como Deus?
Ou será que a paixão -- como Deus, como a morte, como a chuva -- em algum momento, precisa se materializar? Precisa se revelar como um livro secreto, que emerge nas palavras que trocamos, nas nossas cartas, num beijo... Será que nada pode ficar nas sombras da própria divindade? Como o próprio Deus, que precisa estar na Terra para tocar os homens, celebrar sua existência, descobrir seu próprio caminho?
[ai, ai, devia ter lido Lévinas...]
enfim, tudo isso para dizer que, meu deus, o passado realmente é um país estrangeiro e que, no final das contas, todas essas cartas (com outras palavras, umas imagens bonitinhas e uns vídeos que podem me ferrar com o ecad) foram para vocês, meus correspondentes desconhecidos.
PS: este post é comemorativo dos 10.000 pageviews deste blogue. obrigada!
sexta-feira, 16 de março de 2012
coisas sobre as quais eu gostaria de escrever, mas por algum motivo não escrevo
queria começar dizendo que o blogger tá me irritando. não sei se vocês perceberam, mas cada post deste blogue está com uma fonte diferente, desde que eles começaram a mudar a forma de postagem. tá horrível. tô pensando faz tempo em mudar tudo para o wordpress, mas é mais uma dessas coisas que não sei direito porque ainda não fiz.
outras coisas são escrever sobre certos assuntos.
(um parêntese: pensei em fazer esse post depois que li uma lista de perguntas para o alan moore, hilárias. leia primeiro aqui)
1) um ensaio sobre ficção científica e os limites da ficção, baseado no prólogo que a Ursula Le Guin escreveu para o The Fisherman in the Inlands, um dos poucos livros que comprei (e não baixei) para o kindle;
2) um ensaio, que na verdade é uma carta de amor, para o meu kindle;
3) a conclusão da minha dissertação;
4) sobre as implicações políticas da adaptação de V de Vingança para o cinema;
5) um texto meio autobiográfico, disfarçado de conto, sobre alguma viagem;
6) um livro ilustrado chamado "biópsias dos meus ex-namorados", com diagramas do corpo dissecado deles, com flexinhas apontando para os órgãos internos acompanhadas de balãozinhos explicativos: "sem coração", "osso duro", "falta do setor emocional do cérebro", "músculos posteriores fortes, pra me deixar congelando numa montanha de neve", "dedos rápidos para dar tchau" etc.
7) uma peça de teatro em que a personagem principal fica no centro do palco, conversando com alguém pelo skype, que é projetado em uma tela no fundo;
8) um grande compêndio que explique porque a literatura brasileira é sumamente misógina (inaugurada simbolicamente em Dom Casmurro);
9) a busca da verdade como essencial na arte e na crítica -- mas também para Fox Mulder e Dana Scully;
10) uma narrativa tipo 24 horas sobre como o esquartejamento frio e cruel da minha mesa da sala;
11) O livro nonsense para crianças, com ilustrações do meu irmãozinho de 6 anos, que agora tem 14;
12) uma adaptação para o teatro da cena do duelo de Los Detectives Salvajes;
13) um ensaio divertidinho sobre a rinha entre os defensores do policial analítico e os do policial duro;
14) um quadrinho sobre uma história de amor numa Brasília pós-apocalíptica (que tal Eduardo e Mônica e o Fim do Mundo?)
UPDATE: (achei num caderno velho) 15) "Comigo me desavim" -- ou como os poetas portugueses do século XII já tinham elaborarado a agonia das grandes metrópoles latino-americanas do século XXI -- um estudo
11) O livro nonsense para crianças, com ilustrações do meu irmãozinho de 6 anos, que agora tem 14;
12) uma adaptação para o teatro da cena do duelo de Los Detectives Salvajes;
13) um ensaio divertidinho sobre a rinha entre os defensores do policial analítico e os do policial duro;
14) um quadrinho sobre uma história de amor numa Brasília pós-apocalíptica (que tal Eduardo e Mônica e o Fim do Mundo?)
UPDATE: (achei num caderno velho) 15) "Comigo me desavim" -- ou como os poetas portugueses do século XII já tinham elaborarado a agonia das grandes metrópoles latino-americanas do século XXI -- um estudo
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
19/04/2011
A história da mulher que não foi para Santiago não é a história da mulher que elabora suas memórias de uma forma sentimental. Ela não descreve as lutas pré-colombianas como episódios da supressão do seu desejo e do seu amor.
A história dessa mulher, ao contrário, é uma vagarosa seleção de recortes de jornais e revistas, de livros de teoria da literatura que nunca falam de amor.
Todas as vezes que ouvir sobre Santiago, essa mulher não vai pensar neste lugar como a senha do abandono. Mas também nunca vai ouvir a palavra "Santiago" sem deixá-la morrer no ar.
A história dessa mulher, ao contrário, é uma vagarosa seleção de recortes de jornais e revistas, de livros de teoria da literatura que nunca falam de amor.
Todas as vezes que ouvir sobre Santiago, essa mulher não vai pensar neste lugar como a senha do abandono. Mas também nunca vai ouvir a palavra "Santiago" sem deixá-la morrer no ar.
terça-feira, 15 de março de 2011
24/02/2011
O TRUQUE É nunca usar palavras bonitas. não usar palavras, de preferência -- há milênios, os sábios têm nos avisado dos ardis mal intencionados da comunicação verbal. por algum motivo nebuloso, ainda acreditamos que somos capazes de aprender efetivamente com as coisas que as pessoas dizem. a existência tem uma didática impossível, daí todos os livros de auto-ajuda.
tem muitas palavras no mundo -- isso já é um bom motivo para não dizermos nada: controle populacional -- como aquelas palas ecológicas: tem muito mosquito, coloca sapo, tem muito sapo, coloca jacaré. tem muita palavra e tem muito livro.
então vamos só sentar em silêncio e olhar um pro outro.
tem muitas palavras no mundo -- isso já é um bom motivo para não dizermos nada: controle populacional -- como aquelas palas ecológicas: tem muito mosquito, coloca sapo, tem muito sapo, coloca jacaré. tem muita palavra e tem muito livro.
então vamos só sentar em silêncio e olhar um pro outro.
domingo, 13 de março de 2011
15/12/2010
EU POSSO ir ao aeroporto e pensar no que as pessoas fariam se não tivessem que esperar mais de uma hora para entrar no avião.
Pensar o que seria de mim se tivesse uma vida pessoal.
Posso perguntar para o cara do lado se me empresta o laptop para eu ver o meu e-mail. ele vai me perguntar por que as minhas unhas têm mais cor de bala do que a bala que eu tô comendo.
"pessoas adultas comem castanhas" -- diria ele. eu pensaria automaticamente na menina tola que eu era antes de vir pra São Paulo. "esta cidade não é para mocinhas", me disse, com o olhar, o cobrador do primeiro ônibus que peguei para o aeroporto. aprendi que náo se levam malas que não se possam carregar.
café. o homem do lado me chamaria para tomar um café. diante do meu olhar contrariado, emendaria a possibilidade de um capuccino, quem sabe, um chocolate quente... não saberia, até que eu dissesse, que essas coisas fazem muito mal pro meu estômago antes de voar. muitas coisas me fazem mal antes de voar.
depois do constrangimento do cara ao lado pelo insucesso de sua proposta -- ele, na vida real, não na minha imaginação, ainda está navegando na internet --, depois de constrangê-lo, eu o chamaria para tomar um suco de laranja, o que atestaria uma certa inocência falsa da minha parte. ele riria, um pouco para me constranger (é invetivável aproveitar-se de uma oportunidade de vingança), depois diria que eu poderia ter o meu suco de laranja, mas que ele ficaria com o caf[e. claro que o paternalismo me incomoda: meus braços e ombros estão tensos, segundo o Discovery Channel, preparados para fugir de qualquer ameaça, incluindo o tédio colossal. ele diria "o que você faz?" e quando eu respondesse "eu estudo", escolheria mentalmente entre me perguntar "mas trabalha em quê?", ou fazer um comentário ao estilo "ah! como eu queria poder ficar só estudando, sem me preocupar com nada...!", sem saber, aparentemente, quão igualmente cretinas são as duas alternativas.
na vida real, ele larga um pouco o computador para falar com o homem ao seu lado. os dois vestem terno.
ante qualquer das alternativas de diálogo, a conversa já estaria acabada para mim. não escutaria quando começasse a tagarelar sobre seu trabalho, funcionário público num município XYZ do Alagoas. e nem que a sua perspectiva de carreira envolve um MBA na fundação getúlio vargas, que não irá começar agora porque o tempo não permite. ignoraria completamente seus olhares e seus sorrisos amarelos (manchados de café). não prestaria atenção no fato de que ele mesmo estaria bem menos interessado no seu próprio monólogo do que em alguma parte inconveniente do meu corpo.
e aí o Discovery channel poderia descrever como meus braços e ombros tensos se transformam, sutilmente, em evasivas rapinas. vou ao banheiro e não volto. me esquivo. e como bom homem que é, nunca refletirá a respeito do que aconteceu.
as mulheres, diz-se, são seres misteriosos.
Pensar o que seria de mim se tivesse uma vida pessoal.
Posso perguntar para o cara do lado se me empresta o laptop para eu ver o meu e-mail. ele vai me perguntar por que as minhas unhas têm mais cor de bala do que a bala que eu tô comendo.
"pessoas adultas comem castanhas" -- diria ele. eu pensaria automaticamente na menina tola que eu era antes de vir pra São Paulo. "esta cidade não é para mocinhas", me disse, com o olhar, o cobrador do primeiro ônibus que peguei para o aeroporto. aprendi que náo se levam malas que não se possam carregar.
café. o homem do lado me chamaria para tomar um café. diante do meu olhar contrariado, emendaria a possibilidade de um capuccino, quem sabe, um chocolate quente... não saberia, até que eu dissesse, que essas coisas fazem muito mal pro meu estômago antes de voar. muitas coisas me fazem mal antes de voar.
depois do constrangimento do cara ao lado pelo insucesso de sua proposta -- ele, na vida real, não na minha imaginação, ainda está navegando na internet --, depois de constrangê-lo, eu o chamaria para tomar um suco de laranja, o que atestaria uma certa inocência falsa da minha parte. ele riria, um pouco para me constranger (é invetivável aproveitar-se de uma oportunidade de vingança), depois diria que eu poderia ter o meu suco de laranja, mas que ele ficaria com o caf[e. claro que o paternalismo me incomoda: meus braços e ombros estão tensos, segundo o Discovery Channel, preparados para fugir de qualquer ameaça, incluindo o tédio colossal. ele diria "o que você faz?" e quando eu respondesse "eu estudo", escolheria mentalmente entre me perguntar "mas trabalha em quê?", ou fazer um comentário ao estilo "ah! como eu queria poder ficar só estudando, sem me preocupar com nada...!", sem saber, aparentemente, quão igualmente cretinas são as duas alternativas.
na vida real, ele larga um pouco o computador para falar com o homem ao seu lado. os dois vestem terno.
ante qualquer das alternativas de diálogo, a conversa já estaria acabada para mim. não escutaria quando começasse a tagarelar sobre seu trabalho, funcionário público num município XYZ do Alagoas. e nem que a sua perspectiva de carreira envolve um MBA na fundação getúlio vargas, que não irá começar agora porque o tempo não permite. ignoraria completamente seus olhares e seus sorrisos amarelos (manchados de café). não prestaria atenção no fato de que ele mesmo estaria bem menos interessado no seu próprio monólogo do que em alguma parte inconveniente do meu corpo.
e aí o Discovery channel poderia descrever como meus braços e ombros tensos se transformam, sutilmente, em evasivas rapinas. vou ao banheiro e não volto. me esquivo. e como bom homem que é, nunca refletirá a respeito do que aconteceu.
as mulheres, diz-se, são seres misteriosos.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
15/01/2010
HÁ TRÊS meses, tenho sonhado o mesmo sonho.
É uma festa de casamento e está chovendo. Mesmo assim, todo mundo está do lado de fora, comendo o buffet.
A banda ainda toca, algo de música erudita, apesar de ser, aparentemente, uma banda de bluegrass.
Eu estou lá, você também, não nos conhecemos.
E por cima de nossas cabeças, voam insetos gigantescos, que fazem barulhos ensurdecedores. E dinossauros chocam os ovos, dispostos a engolir toda a humanidade.
É uma festa de casamento e está chovendo. Mesmo assim, todo mundo está do lado de fora, comendo o buffet.
A banda ainda toca, algo de música erudita, apesar de ser, aparentemente, uma banda de bluegrass.
Eu estou lá, você também, não nos conhecemos.
E por cima de nossas cabeças, voam insetos gigantescos, que fazem barulhos ensurdecedores. E dinossauros chocam os ovos, dispostos a engolir toda a humanidade.
02/11/2009
A Odisseia parece um daqueles livros que termina, de propósito, na parte mais importante.
Na verdade, muito mais importante do que saber o que Ulisses fez indo pra Ítaca -- quantos ciclopes matou? a quantas civilizações deu início? quantas deusas deixou suspirando de amor? -- é assistir a como ele vê a própria vida depois disso. Conseguirá dormir na mesma cama que Penélope sem se sentir um estranho? Comerá a mesma comida? Terá carinho por seus filhos e seu cachorro? Aguentará a decepção de ter conseguido, finalmente, voltar pra casa?
(Na verdade, são perguntas estúpidas. Todo mundo que já tenha passado os olhos numa epopeia sabe que o herói grego vive uma eterna e insuperável crise da meia idade e é incapaz desse tipo de conflito).
Na verdade, muito mais importante do que saber o que Ulisses fez indo pra Ítaca -- quantos ciclopes matou? a quantas civilizações deu início? quantas deusas deixou suspirando de amor? -- é assistir a como ele vê a própria vida depois disso. Conseguirá dormir na mesma cama que Penélope sem se sentir um estranho? Comerá a mesma comida? Terá carinho por seus filhos e seu cachorro? Aguentará a decepção de ter conseguido, finalmente, voltar pra casa?
(Na verdade, são perguntas estúpidas. Todo mundo que já tenha passado os olhos numa epopeia sabe que o herói grego vive uma eterna e insuperável crise da meia idade e é incapaz desse tipo de conflito).
mais achados e perdidos
CRIMES DE AMOR
Não sei se olhar para ela da forma que eu olhava era exatamente um crime. Ela diria que não. Me olharia de volta, com aquela benevolência maternal das mulheres e me diria "pode olhar" e me permitiria, como sempre. Será que ela não entendia? que olhar alguém daquela forma era um modo discreto de retirar o algo mais essencial... Que um olhar detido nunca pode ser ingênuo -- no mínimo será um desejar tão intruso que em certos planetas deve ser criminoso. É que nada para ela era criminoso: tudo era permitido, inclusive atravessá-la com aquele tipo específico de olhar que toma a alma das pessoas (eu a observava).
Ela nunca vai saber o que é que eu via.
Não sei se olhar para ela da forma que eu olhava era exatamente um crime. Ela diria que não. Me olharia de volta, com aquela benevolência maternal das mulheres e me diria "pode olhar" e me permitiria, como sempre. Será que ela não entendia? que olhar alguém daquela forma era um modo discreto de retirar o algo mais essencial... Que um olhar detido nunca pode ser ingênuo -- no mínimo será um desejar tão intruso que em certos planetas deve ser criminoso. É que nada para ela era criminoso: tudo era permitido, inclusive atravessá-la com aquele tipo específico de olhar que toma a alma das pessoas (eu a observava).
Ela nunca vai saber o que é que eu via.
Assinar:
Postagens (Atom)