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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

depois de a causa secreta...


Não resisti. Tentei ser uma acadêmica direita e usar meus conhecimentos para o bem da humanidade, mas depois de passar dois meses escrevendo sobre A causa secreta, não me contive -- oh, Deus! não me contive...! E eis que as palavras saem da minha boa, deliciosamente inconscientes, desinteressadamente pérfidas...

Lembrarei os leitores dos primeiros parágrafos deste que foi o livro responsável por inaugurar a dita segunda fase dos escritos do Bruxo do Cosme Velho. Observem, leitores, e tentem entender por que Machado teria este apelido.

ALGUM TEMPO hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço.


Brás Cubas dedica seu livro aos vermes que comem sua carne putrefata, desde o famoso enterro ao qual compareceram somente 11 pessoas.

É sem alarde, caros leitores, que afirmo estas coisas. Vejam bem os senhores, observem atentamente as palavras de Brás Cubas, o defunto autor, para quem a campa foi outro berço. Guardem esta imagem.



Há algum tempo, eu mesma esbocei as particulariades que me levaram a considerar o Bruxo um tipo de simulacro anacrônico de um certo Sr. Ambos nasceram negros e morreram brancos, ambos talentosos demais para seu contexto histórico/social, e ambos presidentes -- um da literatura brasileira e outro da música pop.

Em certo momento, podemos ouvir nosso segundo elemento dizer, na voz de um ator muito famoso, momentos antes que uma risada histérica cubra a tela de terror:

The foulest stench is in the air
The funk of forty thousand years
And grizzly ghouls from every tomb
Are closing in to seal your doom
And though you fight to stay alive
Your body starts to shiver
For no mere mortal can resist
The evil of the thriller


Para estes, caros leitores, a campa também terá sido um segundo berço. Ambos personagens levantam da tumba e atormentam o mundo dos vivos -- quer sejam jovens numa boate em 1985, quer seja a crítica literária brasileira. Fato é que há algo que passou em branco em todos esses anos, por gerações de compatriotas, obrigados a lerem os livros de Machado desde o segundo grau.



É isso mesmo. Brás Cubas é nosso primeiro zumbi.

Imagens deste e deste site.

sábado, 13 de novembro de 2010

no dia de hoje

tentei...

1) publicar uma ideia que pareceu genial quando tive, no meio da aula, e começava com comparar machado de assis com o michael jackson: os dois nasceram negros e morreram brancos, mas só um tinha vitiligo e escândalo com crianças. mas quando comecei a tecer as relações entre thriller e memórias póstumas, achei que tivesse atingindo um certo limite da infâmia;

2) postar uma foto que tirei de um flyer que encontrei na rua em Buenos Aires e que dizia "Centro Cultural Borges: artes marciales y kung-fu". mas, por causa disso, meu computador travou e não consegui ligá-lo o dia inteiro. acho que também atingi, talvez, o mesmo limite;

3) demonstrar variações sobre o mesmo tema, entre o SoHo de NY, o Soho de Londres e o Palermo Soho de Buenos Aires, e como magicamente o mesmo nome pode não ter tido a mesma origem em três lugares diferentes. mas aí pensei no Centro Cultural Borges, que fica exatamente aí, e atingi novamente aquele limite;

4) o que a providência não conseguiu impedir, no entanto, foi que eu enviasse o texto conhecido como a Farsa dos Telletubies para não um, nem dois, mas TRÊS amigos com sensibilidade suficiente para atingirem também um certo limite e talvez cortarem ligações.

estamos no aguardo.

domingo, 24 de outubro de 2010

trilogia machado de assis: augusto meyer


A impotência sentimental do sarcasta [i.e. machado], por uma fatalidade da compensação afetiva, produz uma violenta paixão de análise. Quando o monstro cerebral descobre 'o mundo da lua' que há na própria cabeça, se estabelece por lá e não quer outra vida. A sua paixão tem a monotonia mas também a sedução acre de um vício, pois o espírito então se masturba com uma espécie de volúpia incestuosa.

MEYER, Augusto. "O homem subterrâneo". In Textos Críticos. São Paulo, Ed. Perspectiva, s.d., p. 197.

Agora tenho mais certeza de que os detratores de Machado são muito mais interessantes do que seus apologistas. Meyer também afirma, sobre Memórias Póstumas, que "Esse homem escrevia livros como só um morto poderia escrever, porque vivia fora do mundo, no seu subterrâneo eterno" (198).

Porque tem algo no Machado de extremamente venenoso. E isso a crítica posterior a ele, a partir do Estado Novo, transformou em uma visão a respeito da monarquia, e não uma visão a respeito do mundo. Só assim conseguiram transformar Machado num escritor nacional, porque, afinal, ele não fala sobre nós. Fala dos agregados do segundo reinado, dos negros alforriados, da aristocracia palaciana, mas não sobre nós. Deve ser por isso, de repente, que ninguém consegue inocentar a Capitu, porque de alguma maneira, ainda somos o tipo de gente que acha que o Bentinho tinha razão e que mulher adúltera tem mesmo é que morrer sozinha.

Bom, e assim, os sujeitos que se sentem implicados -- Sílvio Romero, Augusto Meyer -- vêem essa crítica do Machado muito viva. Dão a ela o poder que ela tem, e não a deslocam historicamente. Machado dá um tapa na cara de todos nós, ele nos odeia. E nem cria, como muitos hoje, um lugar salvaguardado para ele e para a arte, onde nós, pessoas sensíveis, podemos estar a salvo (no melhor estilo Rousseau de o mundo é cruel e nós somos puros). Não somos muito melhores do que isso, é o que Machado diz. Romero e Meyer tentam nos defender.

Estamos perdidos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

literary critics' DEATHMACH!

Lúcia Miguel Pereira versus Helen Caldwell

"Tamém Capitu pertence à mesma classe de voluntarioso, e para fazê-la malograr teve o romancista que recorrer, contra seus hábitos, a uma circunstância fortuita: à semelhança de seu filho com o amigo do marido. Se tal não se desse, ela viveria tranqüila e respeitada, malgrado o adultério. É possível que essa intervenção do acaso represente a sanção do único erro cometido pela astuciosa: amar Escobar. O sentimento enfraqueceu-a e pô-la à mercê da sina a que só escampam os fortes. Forte, porém, não é o que sabe somente querer, mas o que se sabe ajustar, com firmeza e perícia, ao ritmo da vida." MIGUEL-PEREIRA, Lúcia. História da literatura brasileira: prosa de ficção. De 1870 a 1920.RJ, pp. 105-106

Santiago nos diz que a grande diferença entre a sua história e a de Otelo é que Capitu é culpada.Mas, por acaso, não existiria uma diferença mais óbvia, que surge da própria natureza de Santiago. Helen Caldwell. O Otelo brasileiro de Machado de Assis. p. 32. Sant+ Iago. Got it.

Só falta a Lúcia Miguel-Pereira escrever o texto das campanhas presidenciais brasileiras e a Helen Caldwell chamá-la para uma luta na lama.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

eu tenho pena do sílvio romero



"o sr. Machado de Assis é um desses tipos de transição, criaturas infelizes, pouco ajudadas pela natureza, entes problemáticos, que não representam, que não podem representar um papel mais ou menos saliente no desenvolvimento intelectual de um povo"

IN: Literatura, história e crítica. Ed Imago. Originalmente publicado em 1882.

UPDATE: Achei essa foto sexy do Machado no site do PCO, o que nos diz muita coisa sobre muita coisa. certamente mais do que as coisas ditas nesse post. fica a dica.