Oi, mundo.
Tentei tirar umas férias, mas a coisa começou a ficar complicada de repente. Lição de 2009 é: apesar do que parece, você NÃO consegue fazer tudo o que quer de uma vez. Principalmente, se você fez letras e seu ideal de vida é ter muito tempo livre para ler todo o cânone ocidental.
Acabei de voltar da casa da minha avó (e passei por Caratinga, foi muito engraçado), um lugar onde as mulheres e as mães se sentem obrigadas a cozinhar, lavar e passar para os demais, digo, homens feitos e filhos também adultos. Onde o iogurte fresco está na cotação 1994, quando se podia efetivamente comprar alguma coisa com trinta centavos. E, afinal, onde não existe nenhuma livraria e as temperaturas podem chegar alegremente aos 40 graus, mínimas de 28.
Conclusão: li um livro por dia. Meu repertório foi adicionado por Simenon (não gostei), K. Dick (também overrated) e Shakespeare -- que me provou por A mais B algo que já tinha certeza desde 2008 e que agora pode ser anunciado em alto e bom som, para o terror da mais alta tradição crítica literária brasileira. Eu digo: não. Capitu não traiu o Bentinho, Helen Caldwell estava certa all along. Quem ainda defende aquele trapo desgraçado pode ler Othelo, quando a pobre Desdêmona pede por favor que o mouro a mande ao exílio para morrer.
É isso, basicamente.
Também aproveitei o tempo livre e a tradição exageradamente matriarcal da minha família para me atualizar nos grandes clássicos da sétima arte e assisti "A malvada", com a Bette Davis. Genial, genial. O que só prova que tudo o que é bom do cinema já foi feito antes dos anos 70. Vi também "El secreto de tus ojos", um filme policial argentino com o popstar Ricardo Darín, também muito bom. E "Onde moram os monstros", oferecido gentilmente pela feirinha do paraguai, antes de entrar nos cinemas no Brasil. Também imperdível.
E no cinema, vimos Avatar, que misteriosamente ganhou o globo de ouro de melhor filme (a Sandra Bullock ganhou melhor atriz, meu deus, que ano foi 2009, viu?). Aliás, Merryl Streep ganhou mais um globo de ouro: só imagino ela saindo das premiações com um saco cheio de prêmio e tendo uma parede em casa feita de ouro de Oscar derretido.
Vimos Vício Frenético, mais um filme empobrecido por essa tradução PORCA que os publicitários -- que, aliás, ganham muito mais que os pobres tradutores bolivianos vivendo em regime de semi-escravidão -- fazem. Mas muito bom, muito bom. Get those iguanas out of my coffee table. Finalmente posso justificar por que gosto tanto do Nicolas Cage.
Agora eu tenho que voltar ao trabalho. Boas férias para vocês, se aplicável. Senão, bom, feliz 2010.