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terça-feira, 19 de agosto de 2014

506: Livrões


                
Nos últimos anos, temas como Testemunho, a relação entre Ficção e História, Autobiografia e Autoficção dão a ideia de que a literatura em espanhol tem habitado os limites da própria literatura. Está confortável em questionar esses limites e se apropriar de novas formas de narrar. Josefina Ludmer chama este movimento de “literatura pós-autônoma”. Mesmo que o termo seja discutível – porque pressupõe uma noção de autonomia pura da arte – podemos enxergar facilmente este esforço em habitar limites no laboratório de autores contemporâneos como Mario Bellatin, Margo Glantz, Tununa Mercado, Tamara Kamenszain, Mario Levrero, Roberto Bolaño, entre muitos outros.
                Mas ao mesmo tempo, numa reação que parece diametralmente oposta, retoma-se também a tradição europeia do romance – não do romance moderno, mas do oitocentista, o romance como forma de conhecimento do mundo, o romance como investigação social, o romance que dá conta da realidade, enfim, o romance total. 2666, de Bolaño, por exemplo, por sua envergadura de mil páginas, por seus detalhes ínfimos, pelo seu narrador onisciente inabalável, pela fé inquebrantável na possibilidade de narrar uma história, nos remete rapidamente ao gesto oitocentista, tolstoniano, da possibilidade de narrar tudo. Guerra e Paz não é um romance histórico para Tolstói, ele é mais do que a própria História. O romance, para o mestre russo, é capaz de penetrar (tudo?), mais profundamente do que a historiografia. É o romance total.
                Só que o romanção hispano-americano do século XXI dá a volta sobre si mesmo . Uma volta diferente da metaficção pós-moderna autofágica, que continha dentro de si sua própria crítica. O romance total hispano-americano do século XXI é um romance colateral, que se perde no próprio assunto, cujo propósito de existir nos passa batido. É um romance sem centro, sem propósito, sem tese, cunhado na estética do tédio.” Un oasis de horror en medio de un desierto de aburrimiento”, é a epígrafe de 2666.
                Melhor do que 2666, o exemplo mais visível desta energia gasta em quase nada é a série La novela luminosa e Discurso vacío, dois romances do escritor uruguaio Mario Levrero. Ao contrário do romance total oitocentista, com seus grandes temas e teses, os romances de Levrero são totais pela meticulosidade verborrágica dos detalhes que não se acumulam em torno de um objetivo.
                "No me interesan los autores que crean laboriosamente sus novelones de cuatrocientas páginas, en base a fichas y a una imaginación disciplinada; sólo transmiten una información vacía, triste, deprimente. Y mentirosa, bajo ese disfraz de naturalismo. Como el famoso Flaubert. Puaj." (p. 72)
                Entretanto, é esse mesmo disfarce de naturalismo que Levrero usa para narrar sua história sobre nada.

                Em suma, a título de panorama da literatura hispano-americana contemporânea, podemos dizer que existe uma corrente do fragmento, da singularidade da experiência, e uma segunda corrente, que talvez seja a mesma corrente, que é a do romance total, em que essa singularidade se alça para o conhecimento do mundo e volta dessa viagem com quase nada nas mãos. É o teatro da pequenez, em Levrero, e a rotina do horror, em 2666. 

terça-feira, 3 de julho de 2012

post que perdeu o foco desde o começo


Quando eu pensei em escrever um post por semana, nunca imaginei que seria tão difícil, quer dizer, eu já tinha feito pior do que isso, um post por dia nos primeiros anos do meninashoyo, e não era complicado. Mas ter um blogue em 2002 é muito diferente de 10 anos depois, 2012, o ano inimaginável. Hoje, pra se ter um blogue, você precisa ter algo a dizer, ou pelo menos parecer que tem algo a dizer, e não simplesmente publicar porcarias sobre o seu dia-a-dia. Não, isso não é verdade.

Vamos por partes. Em 2002, eu escrevia praticamente um post por dia sobre algum assunto aleatório, normalmente citando vários amigos, piadas internas, etc. O lance era visitar outros 350 mil blogues por dia, com posts parecidos e deixar comentários com links para o seu blogue. Isso criava uma rede em que blogueiros se visitavam diariamente, trocavam ideias (ou não) e mais ou menos influenciavam a escrita uns dos outros. Tinha blogues com mais de mil comentários por dia. Os meus sempre foram mais modestos, mas já tive 50, quase um chat.

Hoje eu continuo escrevendo sobre assuntos aleatórios ligados ao meu dia-a-dia e continuo visitando meia dúzia de blogues, os habitués da listinha aqui em baixo, sem deixar comentários, porque já não tem mais graça angariar público (e nem faz muito sentido). Não existe mais uma hierarquia dos blogues, porque, afinal, quase não existem mais blogues, se a gente comparar com antigamente. Se você tem um blogue é porque você não consegue viver sem ele, é uma forma de se expressar estranhamente necessária -- quadrinhistas fazem tirinhas, escritores escrevem, poetas poetizam e o povo da astrologia faz mapa natal. É como os leões rugindo, os padeiros fazendo pão, os funcionários públicos carimbando papeis, os engenheiros construindo pontes: you got to do what you got to do.

Mas não era sobre isso que eu ia falar hoje. Ia falar sobre a aridez da vida, a dificuldade de se encontrar alguma coisa pra dizer em um mundo onde cada minuto do seu dia é útil, ou deveria ser (por isso a foto lá do começo). Acho que vai ter que ficar para outro post.

PS: falando em leões rugindo, saiu um ensaio meu sobre Los detectives salvajes na Revista Estação Literária, caso alguém se interesse.

terça-feira, 22 de maio de 2012

pó de diamante

ESSE MÊS, comecei a ler o calhamaço fatídico, 2666, do Roberto Bolaño. meus parentes dizem "aquele dicionário que a Raquel tá lendo". minha mãe disse "esse livro é do seu autor?" ("meu" autor?!) "é... sim, é praticamente seu, de tudo o que você escreveu sobre ele".

meu.

é estranha essa vocação imperialista da crítica. você estuda o autor e ele é seu. o tema é seu. aos poucos, nós vamos setorizando e absorvendo todas as áreas de conhecimento -- na velha técnica de resumo e catalogação de temas e autores-- até que tudo seja nosso. tudo. uma parte é minha, posso responder por ela, dizer o que está certo e o que está errado, escrever infinitamente sobre ela (repetindo alguns parágrafos, deslocando algumas expressões, etc.), até poder responder pelo autor. imagina, Roberto Bolaño nunca diria isso, inclusive, no parágrafo nove da página 796 de 2666, ele afirma o contrário. e quando o acusarem de alguma coisa, homofóbico, por exemplo, eu sempre poderei defendê-lo, até ele parecer uma daquelas entidades inatingíveis -- como você OUSA dizer isso?-- e nunca mais ninguém vai poder ter uma opinião respeitável sobre sua obra se não tiver lido tantos livros quanto eu.

quando na verdade, no silêncio da noite, quando a leitura parece o que ela realmente é, essa atividade fatalmente solitária, você encara o livro e sabe, e tem certeza absoluta, que o momento de tê-lo nas mãos, de transforma-lo em um discurso próprio, é o mesmo momento que ele não existe mais.

terça-feira, 8 de maio de 2012

discurso de caracas

NO ÚLTIMO POST, eu seguia falando de leituras que não me motivavam, sabe deus por que (o leitor lembrará da minha tentativa ridícula de explicação científica). achei que era um pouco injusto ficar aí, na vida, na internet, falando mal dos outros, como uma revista ridícula de fofoca de famosos (e aí lembrei que a Caras tem uma parte de citações de grandes livros que é bem legal, bem legal mesmo) (o que leva a crer que a Caras tem uma vocação literária muito mais profunda do que este blogue). Por isso pensei em publicar um trecho -- talvez "o" trecho -- do agora já famoso discurso de aceite do prêmio Rómulo Gallegos (pelo romance Los Detectives Salvajes, de 1998), do Roberto Bolaño. Já é tão famoso que virou "o discurso de Caracas", como se naquela cidade nunca ninguém tivesse feito um discurso melhor do que esse. pode bem ser verdade. me diga o que você acha.

…em grande parte, tudo o que escrevi é uma carta de amor, ou de despedida, para minha própria geração, os que nasceram na década de cinquenta, e que escolhemos em um dado momento  o exercício da milícia, neste caso seria mais correto dizer militância, e entregamos o pouco que tínhamos, o muito que tínhamos, que era nossa juventude, a uma causa que achávamos que era a mais generosa das causas do mundo e que de certa forma era, mas na verdade não era. Demais está dizer que lutamos bravamente, mas tivemos chefes corruptos, líderes covardes, um aparato de propaganda que era pior que um leprosário, lutamos por partidos que, se tivessem vencido, nos mandariam de imediato a um campo de trabalhos forçados, lutamos e colocamos toda nossa generosidade em um ideal que fazia mais de cinquenta anos que estava morto, e alguns de nós sabiam, e como não saberíamos se tínhamos lido Trótski, ou éramos trotskistas, mas o fizemos mesmo assim, porque fomos estúpidos e generosos, como são os jovens, que entregam tudo e não pedem nada em troca, e agora desses jovens já não resta nada (…). Toda a América Latina está semeada com os ossos desses jovens esquecidos.

Roberto Bolaño, Entre Paréntesis. Barcelona: Anagrama, 2006, pp. 37-38 (minha tradução)

A versão integral está aqui, em espanhol.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

roubar, matar, pilhar



escrever deve ser a bosta da atividade mais solitária que existe. não à toa, os escritores são internacionalmente conhecidos como antissociais, bêbados, intempestivos, excêntricos e suicidas. há uma vasta literatura sobre acordar de manhã e fazer o seu double vodika tonic, ou como acordar de manhã na sarjeta e limpar seu vômito.

se não fosse uma faculdade altamente depressiva, muitas pessoas escolheriam a solidão das montanhas rochosas para escrever, ou os momentos de tédio num apartamento na paulista. não ter chefe, mas não ter dinheiro pra comprar xampu; não ter que bater ponto, mas aumentar consideravelmente o perigo de ser despejado: escrever é uma emoção.

bolaño falava bastante sobre os livros que roubava. esses são especiais, ele dizia, você nunca esquece um livro que roubou.

hemingway, entre uma dose e outra… ahm. nada.

clarice lispector, cuja vida ultrapassava todo o entendimento, dormiu uma vez com o cigarro na mão e teve queimaduras de segundo grau.

púchkin adorava um duelo, até ser morto em um.

byron transou com a irmã, ainda garoto, e depois de virar herói na grécia e descobrir múmias no egito, morreu na itália, na cama de uma mulher casada.

agatha christie misteriosamente desapareceu durante um ano. até hoje ninguém sabe onde ela estava.

é um mundo, justamente, fascinante.

não sei exatamente o que eu queria dizer com isso, parecia uma boa ideia ontem à noite. acho que era que escrever e fundo do poço são dois lugares irmãos. e que, por mais que você escreva best sellers, o limite do desespero está sendo oferecido para você, como uma flauta hipnótica. não. como um presente. porque depois que se escreve, aquilo não faz parte mais de você e você nunca mais vai ser acessado por aquilo, a menos como leitor. quando uma pessoa lê algo que você escreve, ela não estende a mão para você, não há nenhum encontro.

quando uma pessoa lê algo, ela está sozinha.

quando uma pessoa escreve algo, ela está sozinha.

é um pacto com a deusa Apatia. é um pacto consigo mesmo, que depois de um tempo muito breve se vai, não sei para onde.

mas, estranhamente, enquanto escrevo estas palavras, penso em “o poço e o pêndulo”, de Poe.

estamos lá, deitados numa cama, atados. estamos num posso profundo. como chegamos lá? quem somos nós? perguntas são inúteis porque um pêndulo enorme está fazendo sua função bem acima de nós e a cada gingada de um lado para o outro, desce em nossa direção.

estamos lendo.

o desespero nos impede de pensar, as cordas de couro atam nossas mãos.

estamos escrevendo.

ratos sobem pelo nosso corpo, estão comendo nossos farrapos de roupa. o pêndulo encosta nas ataduras, os ratos desviam.

fechamos o livro. estamos cansados. deve ser por isso que certas pessoas se tornam alcoolatras.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Amor e ceticismo perante a escrita

(*) Marcos Natali

Em texto sobre como a relação com os livros é atravessada pelo desejo, Roland Barthes defende o direito a não ler, contra as injunções que fazem da leitura um dever. Assim, tão importante quanto garantir o acesso à leitura seria resguardar a liberdade de não ler certos livros, de abandonar alguns pela metade, de reagir com repulsa a outros.

Em certos círculos, talvez o nome de Roberto Bolaño represente, hoje, algo próximo dessa obrigação que descrevia Barthes. Diante desse quadro surgem reações compreensíveis, referências à "supervalorização" do escritor e acusações de que ele seria apenas uma moda - pior, uma moda norte-americana. (A complicação é que o fato do interesse por Bolaño crescer no Brasil após sua trajetória bem-sucedida nos Estados Unidos nos diz mais sobre o Brasil do que sobre sua obra, o surto Bolaño tendo tomado a Espanha e países hispano-americanos antes de atingir aos Estados Unidos.)

Como costuma acontecer nesses casos, aparecem também explicações um tanto culpadas e declarações de pioneirismo: eu lia Bolaño antes dele se tornar febre mundial, etc. Mas se a inclusão de relatos pessoais sobre o momento do descobrimento de Bolaño é comum em resenhas de suas obras, talvez a explicação se deva também ao fato de que o deslumbramento diante de um livro novo é justamente um dos temas preferidos do autor, a descoberta de um autor funcionando até como o dispositivo que dispara algumas tramas, como se vê na primeira linha do romance 2666: "A primeira vez que Jean-Claude Pelletier leu Benno von Archimboldi foi no Natal de 1980, em Paris, onde fazia estudos universitários de literatura alemã, aos dezenove anos de idade." A narração explicará em seguida que Pelletier "a partir desse dia (ou das altas horas noturnas em que deu por encerrada aquela leitura inaugural) se converteu num archimboldiano entusiasta e deu início à peregrinação em busca de mais obras desse autor." Se em Os Detetives Selvagens, romance de 1998, buscava-se uma escritora vanguardista mexicana, em 2666 Archimboldi, misterioso escritor alemão, será o objeto de desejo, desta vez de um quarteto de críticos europeus.

Entre as leituras inaugurais relatadas pelo romance estarão as do próprio Archimboldi, e a relação tensa de Bolaño com o campo literário pode ser entrevista no fato de que, neste caso, o surgimento da paixão pela leitura coincide com o primeiro roubo de um livro. Livros roubados são frequentes na obra de Bolaño, os furtos invariavelmente narrados com orgulho, e chega agora de Portugal a notícia de que lá o próprio 2666 é o livro mais roubado do ano, sugerindo uma nova categoria para a classificação de livros. (No caso de 2666, a avaliação do feito deve levar em consideração a dificuldade especial de fazer desaparecer de uma livraria um volume de cerca de mil páginas. Já a decisão de roubar ou não o livro deverá avaliar ainda o fato de que Bolaño, pouco antes de sua morte - precoce, como todas as mortes -, preocupava-se com a melhor forma de garantir o bem-estar de sua família com a venda desse livro que, ele já sabia, seria póstumo.)

Na obra de Bolaño, o deslumbramento inicial diante de um texto será temperado por duas ponderações. Primeiro, o reconhecimento daquilo que pode resultar do arrebatamento, inexistindo garantia de que a história posterior estará à altura do evento original, ou que não será inclusive sua anulação. Além disso, há a insistente capacidade demonstrada pelo horror de sobreviver ao maravilhamento causado pela literatura. Assim, quando os estudiosos europeus viajam ao norte do México em busca de Archimboldi, o que encontram, na cidade de Santa Teresa, é uma série de assassinatos de mulheres, referência ficcional às centenas de mortes ocorridas em Ciudad Juárez desde 1993. A impotência das personagens diante do horror se depara com a impotência da própria literatura, distante dos tempos em que podia declarar sua exterioridade ao mal. Se no femicídio de Santa Teresa está "o segredo do mundo", como assegura o romance, será necessário voltar, após os relatos das mortes, a episódios aparentemente banais do livro, como a extensa sequência de piadas misóginas contadas pelos policiais mexicanos responsáveis pela investigação dos crimes. Efetivamente, após a quarta parte do romance, a que registra os assassinatos, não haverá como retornar ao livro com os mesmos olhos.

Caso seja confirmada a profecia do escritor mexicano Jorge Volpi - o destino do monumental 2666 é transformar seus leitores em devotos de uma espécie de nova religião do livro -, em sua doutrina deve constar o reconhecimento dessa relativa fraqueza da literatura diante dos horrores que rasgam o romance (a 2.ª Guerra Mundial, os campos da União Soviética, os exílios provocados pelas ditaduras latino-americanas). O romance será, afinal, "sobre" tudo isso, mas também sobre o processo criativo que faz que essa matéria responda a exigências da própria literatura.

Assim sendo, ler Bolaño como continuação da tradição latino-americana não é impossível, embora, para o autor, a exigência de fidelidade à tradição nacional ou regional seja precisamente o que se deve evitar. É claro que o desprezo por Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e Carlos Fuentes - os "machos anciões" da literatura latino-americana - é também um modo, do qual não está ausente o afeto, de dialogar com a tradição, transformando-a em outra coisa, ao mesmo tempo em que se constrói uma genealogia alternativa. Mas é justamente nessa geração conhecida como o boom da literatura latino-americana que se cristaliza a fórmula da literatura como compensação das misérias da região.

Sentimental. São, como se vê, apaixonadas e excessivas as cobranças que a obra de Bolaño faz à literatura, questionamentos de um crente que testa o divino com suas invectivas, mas desde uma fé inamovível. Certamente haverá nesses momentos algo de sentimental - como se anuncia no conto La Muerte de Ulises: "lo que sigue es caótico y sentimental..." Mas o segredo de Bolaño, se existir um, talvez seja este: uma representação da literatura ao mesmo tempo ferozmente cética e profundamente amorosa. Como se dirá em 2666, em alusão a outro escritor errante que surge na trama do romance: "Só o vagabundear de Ansky não é aparência, pensou, só os catorze anos de Ansky não são aparência. Ansky viveu toda a sua vida numa imaturidade raivosa porque a revolução, a verdadeira e única, também é imatura."

(*) Marcos Natali é professor de Teoria Literária na Universidade de São Paulo.

Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2010.
Retirado deste site.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ERA UMA VEZ o melhor poeta brasileiro, um garoto de 16 anos. era uma vez a história trágica do melhor poeta brasileiro. de madrugada, meu colega dirigiu por muitos quilometros, na área metropolitana da cidade do México, para que o melhor poeta brasileiro me mostrasse os seus rascunhos, escritos num garrancho indecifrável de caneta bic, com muitos erros de ortografia e alguns de gramática, na impossibilidade de conjugar corretamente o subjuntivo. senti minha própria inaptidão de fazer um comentário melhor do que esse, frente à certeza intimidadora das palavras do melhor poeta brasileiro.o Sol nasceu e eu ainda estava lendo, pela madrugada, com a força da chuva e a luz dos planetas. "caralho".

o rádio tocava roberto e ruido branco.

conversamos dois minutos sobre a prosa fatal, a escrita que converge peremptoriamente para a morte. conversamos sobre a impossibilidade de sobreviver à literatura. conversamos sobre a terra grudada no dedo e a cadência dos insetos venenosos. conversamos sobre a indignação generalizada. conversamos sobre tinta e papel.

o resto da noite ficou em silêncio. fechei o livro. dormi.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

angústias acadêmicas 2099 - parte final



tô de férias do bolaño. até segunda-feira.

a grande revelação da última semana foi perceber que, em certos ângulos, ele parece o Zacarias.

não nesse.

enquanto isso, como demonstração da confusão que eu posso fazer usando um conto dele como desculpa, deixo-os com o primeiro ensaio.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

angústias acadêmicas 2099 - parte 4

A POPULARIDADE de Bolaño, ou Roberto Bolaño, o escritor chileno, se mede em comparação com a de Roberto Gómez BolañoS, o humorista mexicano. o teste é colocar o nome no google images e esperar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

angústias acadêmicas 2099 parte 2



SEGUNDO DIA me debatendo com os textos do Bolaño. meu quarto parece uma biblioteca assolada por um furacão. tenho que pagar contas, mas quero assistir mais mad men.

PROBLEMA 1: para começar uma análise, você precisa resumir o argumento do texto. vamos fazer algumas tentativas:

PRIMEIRA TENTATIVA: Os detetives selvagens é um romance que acompanha um grupo de jovens escritores latino-americanos na cidade do México na década de 70. Uma de suas três partes, a maior, é formada de testemunhos em primeira pessoa de personagens reais e fictícios (inclui-se um pseudo-testemunho do poeta e crítico Octavio Paz).

defeitos: recorri ao livro e descobri que inventei o relato de Octavio Paz.

SEGUNDA TENTATIVA: ... a segunda parte é formada de testemunhos em primeira pessoa de personagens que apareceram ou não na primeira parte e que recorrem os anos de 1976 a 1996. Os relatos parecem girar em torno do paradeiro de Arturo Belano e Ulises Lima, dois jovens poetas mexicanos, que reaparecem em outros contos de Bolaño e são considerados alter-egos do escritor e seu melhor amigo, o poeta Mario Santiago.

defeitos: não falei do diário de García Madero, será necessário?

mais notícias em breve.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

angústias acadêmicas parte 2099




ACABO DE reler um conto de Bolaño para um trabalho, que talvez não se realizará. seguramente não da forma como o projetei inicialmente, trazendo em si todos os mistérios do mundo. mais um sinal de arrogância acadêmica.

ainda que surpresa pela felicidade de reler bolaño, o que realmente me chamou a atenção foi a capa de putas asesinas: uma moça, quer dizer, parte do corpo de uma moça usando uma calça que hoje sei que não é de couro, mas uma imitação de couro fosco que adere tanto à pele que é difícil esconder alguma coisa dela. e uma blusa preta. de algodão ou malha. (ignoro o cinto e as luvas).

do mesmo jeito que saí de casa na semana passada.

o que me leva a certas conclusões: será que a obsessão pelo trabalho, a busca desenfreada e irracional pela essência-bolaño, ou identidade-bolaño, está levando, afinal, à perda da minha própria identidade? (só consigo pensar em espanhol agora) quizás la búsqueda sin fin por la esencia-bolaño o identidad-bolaño me llevará a la pérdida fatal de mi propia identidad.

o que nos deixa assim: ou o trabalho, ou eu.

o que me lembra que, se escrevo em português, estou domada por um idioma que tem como tradição os seguintes versos: navegar é preciso, viver não é preciso -- que hoje só consigo ouvir pela foz anasalada de caetano veloso.

VOCÊ: alvo de telemarketing. VOCÊ: alvo de SMS enganosas de presidiários brasileiros. VOCÊ: que vai perder o seu dia inteiro dentro do ônibus.

Chego à conclusão de que dou de bom grado essa identidade em troca de uma percentagem do trabalho.

sábado, 21 de março de 2009

every night in my dreams

li a entrevista da kate winslet pra rolling stone, da época que ela tinha feito titanic, e foi como quando eu tinha 13 anos e os meus melhores amigos eram esse ou aquele astro do cinema, que eu via religiosamente, sozinha, numa das sessões fantasmas de tarde no extinto cine karim.

(o bolaño tem um conto assim, no llamadas telefónicas, em que o belano roubava livros e entrava nessas salas de cinema-fantasma, de graça, pra ver o que tivesse passando)

a gente acredita em tudo o que essas pessoas dizem, simplesmente porque sim, porque elas não existem de verdade no mesmo universo em que a gente existe. porque é bom fazer delas um personagem pra ir com a gente no cinema, de tarde, quando uma fresta de luz ainda passa entre as portas e faz uma cicatriz na cara do harrison ford.

e a kate winslet tinha 22 anos quando fez o titanic. 22 anos. e eu tô aqui, escrevendo num blogue, depois de tantos anos tentando pintar meu cabelo de acajú púrpura, pra ficar no meio termo entre rose dawson e dana scully.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

mandinga

Está cada vez mais difícil postar. Como diria Paulo Coelho, o mundo não conspira a meu favor neste momento crítico. serão todos os momentos críticos?

este era o post que comecei a escrever hoje de madrugada e parou pela metade:

Querido diário

hoje eu acordei meio deprimida. sonhei que o emprego da minha vida era trabalhar para uma editora, procurando livros que fossem parecidos com "quem mexeu no meu queijo". era bem sucedida e muitas vezes fazia questão de mostrar para os outros como as editoras de auto-ajuda finalmente davam valor ao meu talento, coisa que ninguém mais fazia. o mais legal era que, quando ninguém da firma tava olhando, eu dava uma escapadinha para o lavabo feminino para dar mais uma lidinha do 2666, o livro de mais ou menos essa quantidade de páginas, do Bolaño.

depois disso, muitas perguntas pairam no ar, prescrutante leitor:

Vou inventar agora perguntas que pairam no ar, porque eu já esqueci quais pairavam ontem de madrugada:
a) que tipo de constrangimento social faz alguém ler um livro de duas mil páginas no banheiro?
b) desde quando editoras de auto-ajuda dão valor ao talento de alguém? elas não publicam livros pras pessoas aprenderem a fazer isso sozinhas? não é esse o conceito de auto-ajuda?
c) será que existe auto-ajuda for dummies? e se alguém traduzisse a série e fizesse, sei lá, latim para idiotas, será que as pessoas comprariam?
d) o que meu subconsciente quer me dizer com isso?
mais importante de tudo, e) ainda se constróem lavabos?

Pairando com essas duvidas na cabeça, peguei o ônibus errado e ouvi a nova propaganda da Chevrolet:

Eu sou paulista, sabe como é
Quem é paulista vai de Chevrolet


Que, além de idiota, é uma idéia muito, muito burra, porque:
alfa) a maior parte das pessoas de São Paulo não é paulista;
beta) a propaganda dá a entender que a principal característica dos paulistas é "trampar" e "dar duro o ano inteiro", reforçando o esteriotipo que todo o resto do brasil tem a respeito dos paulistas, mas que não é necessariamente o que eles pensam de si mesmos (o que os fariam pessoas muito tristes), fazendo a parte "eu sou paulista" entrar em uma certa dúvida;
gama) são paulo é a cidade campeã em congestionamento, as seguradoras de carros começam a emprestar bicicletas para os seus clientes, os estacionamentos custam uma corrida de táxi, entre grande sorte de paradoxos. é lógico que a concercionária não tá nem aí com as condições do motorista depois que ele compra o carro, mas a condição sócio-histórica-cultural-estacionamentista só faz ser ainda mais ridícula uma propaganda voltada para os nativos.

Enfim. Você que é publicitário/a, por favor me desculpe o desabafo, mas propaganda é um lixo.

menos a nova das havaianas:


segunda-feira, 21 de julho de 2008

requiem

Semana passada fez 5 anos que Bolaño morreu. É um estranho vazio... O que eu estava fazendo há 5 anos? Lendo meu primeiro Guimarães Rosa nos corredores da UnB, fazendo minha primeira viagem internacional, arranhando as primeiras palavras em espanhol - enquanto Bolaño ia ficando amarelo, escrevendo os ensaios posteriomente recolhidos no Gaucho Insufrible. Literatura + Enfermedad = Enfermedad, mostrando que não, a literatura não salva vidas e não, ela não faz o bem. de jeito nenhum é transcendência. de nenhuma forma está em um lugar diferente do que aquilo que vivemos.

O Clarín publicou um ensaio em homenagem à data, onde o colunista se pergunta por que Bolaño era tão popular entre os jovens e aponta a falta de grandes escritores depois do boom e a temática juvenil que ele escolhe. eu digo que é muito mais que isso: essa visão anti-transcendente, prosaica, dura, que se recusa a separar literatura e vida, que se recusa a elevar o escritor a uma plataforma deítica. E transforma o texto nessa coisa estranha, meio sem foco, sem unidade aparente, um amálgama de autobiografia e crítica literária que é visceralmente ficcional. dolorosamente... E não é o novo, também. Não é a novidade da coisa - porque no século XXI já não há nada novo em baixo do sol. É a singularidade dessa experiência que só pode falar por si mesma, não por ninguém mais. Algo que os críticos do Correio Brasiliense chamam de "geração ególotra"(falando da overbook), na verdade é a consciência de que não se pode apropriar-se do alheio com dignidade. Então, sentemos e vamos contar a nossa história.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

...porque metade das coisas que a gente vive é simplesmente ficcao

(nao tem til nem cedilha neste teclado)

Em nome das coisas inacreditáveis que acontecem, e precisamente dedicado a elas, escrevo este post.

O Bolaño entendia que a vida é feita de coisas inacreditáveis. É por isso que ele mesclava (que merda, falar dele nesse passado fatal) coisas que acontecem com as que nao acontecem, todas no mesmo nível daquilo que pode ser acreditado - dá pra entender? E talvez esta seja uma das qualidades comuns dos grandes escritores, nao todos, mas alguns. Tomar a mao do leitor e conduzi-lo para longe, bem longe, daquilo que ele acreditaria, mas que já é tarde para duvidar. O inacreditável ordinário. É lindo.

Tendo isso em vista, pedantismo à parte, olhem o que me aconteceu. Olhem bem para esta senhora:



Esta é Maria Kodama, viuva do grande escritor-celebridade Borges, Jorge Luis. Conhecida pelos nativos como a Yoko Ono argentina, conhecida por mim como a única celebridade argentina viva que eu poderia reconhecer na rua.
Ok. Tendo isso em vista, imaginem alguns brasileiros perdidos na rua, se lamentando porque seu retiro alcoolico de destino estava irremediavelmente fechado, interditado, impossível, sentados na calçada de alguma esquina da rua arenales, apoiados uns nos outros. Entao, eis que para um taxi. E eis que deste táxi desce a distinta senhora, a célebre viúva (negra), a japonesa do mal. Atravessa a rua na frente dos brasileiros, dá uma voltinha, a fim de tornar o reconhecimento indiscutível, e entra em um prédio. Nao antes que uma brasileira, particularmente amarrotada, lhe aponte um dedo e diga: ¡Ei! ¡É a puta da Maria Kodama!!!!
(2 minutos depois)
- ¿Quéeeeim?

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

115 - night thoughts

As noites são conhecidas em todo o mundo, onde quer que esteja a noite, como happy hour. Não quero argumentar que as minhas noites são sad hours (quando todas as cervejas estão chocas e sempre existe uma goteira pingando o seu cabelo), mas são dark hours, ou blue hours, em que eu passo o meu tempo ritualizando o sono e conversando com os meus livros. Literalmente.

Primeiro, você chega em casa, deixa a sua bolsa pesada, toma banho e põe um pijama. Depois, vai pra cozinha, dá oi pras baratas (como elas são baratas germânicas, você diz Heil!) e toma um copo de leite. Em seguida, lava o copo, põe no escorredor, e vai pro quarto, fazendo barulho com os chinelos. Aí você deita na cama.

Depois de deitar na cama, não tem mais volta. Você sente que não vai levantar de lá até a próxima grande extinção do planeta. Quando as baratas chegarem pra te comer, você ainda estará na cama.

A esquizofrenia de conversar com os livros é infinitamente mais saudável do que a de sonhar com eles. De fato, ontem eu não consegui parar de sonhar com o Roberto Bolaño. Eu estava em uma livraria e lá ele estava, não olhava pra mim, mas tinha sempre aquele sorriso de orelha de livro. A verdade é que na maioria das fotos o Bolaño não sorri, parece que ele estava sempre antecipando a própria morte, o que é tão trágico a respeito dele. Não é como se ele tivesse sido atropelado, ou sequestrado, ou tivesse Alzheimer. Ele só morreu. No entanto, essa morte anunciada, em algum momento, virou a essência da ausência de sorriso do Bolaño.
E, com essa cara, ele não olhava pra mim na livraria. Mas, estava tão perto! E eu tinha tanto a lhe dizer! Logo, em um dado momento, eu entendi: não tinha nada pra dizer pra ele, entendia tudo sobre ele, sabia tudo sobre a sua vida - por causa do maldito Detetives Selvagens - e já não restava nada, quer dizer, e já não havia mais nenhuma distância entre nós, muito pelo contário, aquela falta de privacidade me deixava profundamente constrangida (eu queria fugir, não olhar para a cara dele, não deixar que ele me visse). Mas ainda aquele sorriso me acompanhava, no rabo do olho eu sabia que ele estava sempre lá, como num filme de terror.


Bolaño morreu em 2003. Eu morri ontem.

Ele me matou.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

real visceralismo


Amberes es –no hay dudas– un libro “Marca Bolaño” porque en él aparecen rasgos inconfundibles: la idea de América Latina como virus de alto contagio, como un gas peligroso, esparciéndose por el mundo (si Los detectives salvajes narra en perspectiva la derrota de ese virus, Amberes es casi un diario -diagnóstico escrito desde el frente y en plena epidemia-); el policial como género líquido y que no está obligado a resolver el misterio sino a, simplemente enunciarlo, y un “idioma” donde se funden partes iguales de Julio Cortázar, David Lynch, Richard Brautigan y el Bolaño de libros como Tres y poemas como “Un paseo por la literatura”, donde el paisaje de una estética universal se funde sin problemas con el de una épica íntima. En una entrevista que le hizo Daniel Swinburn, Bolaño explicaba este sistema que gobierna Amberes y rige toda su obra: “Autobiográfico es Faulkner, Joyce, no digamos Proust. Incluso Kafka es autobiográfico, el más autobiográfico de todos. En cualquier caso yo prefiero la literatura, por llamarle de algún modo, teñida ligeramente de autobiografía, que es la literatura del individuo, la que distingue a un individuo de otro, que la literatura del nosotros, aquella que se apropia impunemente de tu yo, de tu historia, y que tiende a fundirse con la masa, que es el potrero de la unanimidad, el sitio en donde todos los rostros se confunden. Yo escribo desde mi experiencia, tanto mi experiencia, digamos, personal, como mi experiencia libresca o cultural,que con el tiempo se ha fundido en una sola cosa. Pero también escribo desde lo que solía llamarse la experiencia colectiva, que es, contra lo que pensaban algunos teóricos, algo bastante inaprehensible. Digamos, para simplificar, que puede ser el lado fantástico de la experiencia individual, el lado teologal. Bajo esta perspectiva, Tolstoi es autobiográfico y yo, por supuesto, sigo a Tolstoi”.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

detectives

O blogue do Neil Gaiman é chato. Mediocremente, gosto mais do meu.

Comecei "los detectives salvajes" ontem, do meu novo amor Roberto Bolaño. Não consegui parar de ler. Levei o livro de 600 páginas para a cozinha, pro supermercado, consultório do dermatologista, farmácia de manipulação e oficina do pedreiro que vai concertar o chuveiro na sexta. Sim, ele continua pingando. Não, dessa vez não vai ser preciso quebrar tudo - e de hecho, eles fecharam a passagem secreta das baratas (aquele buraco no corredor).

Não lembro mais o nome do personagem principal, ah sim, Juan García Medero, um moleque de 17 que perde a virgindade mais ou menos na página 50, que abandona a faculdade de direito, que não se apaixona por ninguém mais além dele mesmo, que usa o verbo coger tanto em frases como "Me cogí el libro" (peguei o livro), quanto "cogí a Rosario ayer" (comi Rosário ontem). Pensando bem, os mexicanos são realmente tão vulgares como nós, porque afinal alguém poderia dizer "comi lasanha congelada hoje" e "não comi ninguém hoje". Esse costume antropofágico herdamos mesmo do latim, puristas que somos.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

aviso de spoiler

Com o primeiro tremor de frio me chegou a revelação. O homem morto não era nenhum assassino. O verdadeiro, oculto em algum lugar distante, ou mais provavelmente a fatalidade, nos havia enganado. Bedloe não queria matar ninguém, só procurava seu cachorro. Pobre infeliz, pensei. Os cachorros voltaram a se perseguirem pelo pátio. Abri a porta e observei as duas mulheres, sem forças para entrar na sala. O corpo de Bedloe outra vez estava vestido. Inclusive melhor vestido do que antes. Ia dizer-lhes alguma coisa, mas me pareceu inútil e voltei à sacada. Uma das mulheres saiu atrás de mim. Agora temos que nos desfazer do cadáver, disse às minhas costas. Sim, disse eu. Mais tarde ajudei a meter Bedloe na parte de trás do furgão. Partimos em direção às montanhas. A vida não faz sentido, disse a mulher mais velha. Eu não respondi, eu cavei uma fossa. Ao voltar, enquanto elas tomavam banho, limpei o furgão e depois preparei minhas coisas. O que você vai fazer agora? - me perguntaram, enquanto tomávamos café-da-manhã na sacada contemplando as nuvens. Vou voltar à cidade, disse-lhes, vou retomar a investigação exatamente de onde me perdi.

Seis meses depois, Pancho Monge termina sua história, William Burns foi assassinado por desconhecidos.

Roberto Bolaño, "William Burns", excerto traduzido por mim.