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sexta-feira, 24 de junho de 2011

roubar, matar, pilhar



escrever deve ser a bosta da atividade mais solitária que existe. não à toa, os escritores são internacionalmente conhecidos como antissociais, bêbados, intempestivos, excêntricos e suicidas. há uma vasta literatura sobre acordar de manhã e fazer o seu double vodika tonic, ou como acordar de manhã na sarjeta e limpar seu vômito.

se não fosse uma faculdade altamente depressiva, muitas pessoas escolheriam a solidão das montanhas rochosas para escrever, ou os momentos de tédio num apartamento na paulista. não ter chefe, mas não ter dinheiro pra comprar xampu; não ter que bater ponto, mas aumentar consideravelmente o perigo de ser despejado: escrever é uma emoção.

bolaño falava bastante sobre os livros que roubava. esses são especiais, ele dizia, você nunca esquece um livro que roubou.

hemingway, entre uma dose e outra… ahm. nada.

clarice lispector, cuja vida ultrapassava todo o entendimento, dormiu uma vez com o cigarro na mão e teve queimaduras de segundo grau.

púchkin adorava um duelo, até ser morto em um.

byron transou com a irmã, ainda garoto, e depois de virar herói na grécia e descobrir múmias no egito, morreu na itália, na cama de uma mulher casada.

agatha christie misteriosamente desapareceu durante um ano. até hoje ninguém sabe onde ela estava.

é um mundo, justamente, fascinante.

não sei exatamente o que eu queria dizer com isso, parecia uma boa ideia ontem à noite. acho que era que escrever e fundo do poço são dois lugares irmãos. e que, por mais que você escreva best sellers, o limite do desespero está sendo oferecido para você, como uma flauta hipnótica. não. como um presente. porque depois que se escreve, aquilo não faz parte mais de você e você nunca mais vai ser acessado por aquilo, a menos como leitor. quando uma pessoa lê algo que você escreve, ela não estende a mão para você, não há nenhum encontro.

quando uma pessoa lê algo, ela está sozinha.

quando uma pessoa escreve algo, ela está sozinha.

é um pacto com a deusa Apatia. é um pacto consigo mesmo, que depois de um tempo muito breve se vai, não sei para onde.

mas, estranhamente, enquanto escrevo estas palavras, penso em “o poço e o pêndulo”, de Poe.

estamos lá, deitados numa cama, atados. estamos num posso profundo. como chegamos lá? quem somos nós? perguntas são inúteis porque um pêndulo enorme está fazendo sua função bem acima de nós e a cada gingada de um lado para o outro, desce em nossa direção.

estamos lendo.

o desespero nos impede de pensar, as cordas de couro atam nossas mãos.

estamos escrevendo.

ratos sobem pelo nosso corpo, estão comendo nossos farrapos de roupa. o pêndulo encosta nas ataduras, os ratos desviam.

fechamos o livro. estamos cansados. deve ser por isso que certas pessoas se tornam alcoolatras.