segunda-feira, 9 de agosto de 2010

angústias acadêmicas parte 2099




ACABO DE reler um conto de Bolaño para um trabalho, que talvez não se realizará. seguramente não da forma como o projetei inicialmente, trazendo em si todos os mistérios do mundo. mais um sinal de arrogância acadêmica.

ainda que surpresa pela felicidade de reler bolaño, o que realmente me chamou a atenção foi a capa de putas asesinas: uma moça, quer dizer, parte do corpo de uma moça usando uma calça que hoje sei que não é de couro, mas uma imitação de couro fosco que adere tanto à pele que é difícil esconder alguma coisa dela. e uma blusa preta. de algodão ou malha. (ignoro o cinto e as luvas).

do mesmo jeito que saí de casa na semana passada.

o que me leva a certas conclusões: será que a obsessão pelo trabalho, a busca desenfreada e irracional pela essência-bolaño, ou identidade-bolaño, está levando, afinal, à perda da minha própria identidade? (só consigo pensar em espanhol agora) quizás la búsqueda sin fin por la esencia-bolaño o identidad-bolaño me llevará a la pérdida fatal de mi propia identidad.

o que nos deixa assim: ou o trabalho, ou eu.

o que me lembra que, se escrevo em português, estou domada por um idioma que tem como tradição os seguintes versos: navegar é preciso, viver não é preciso -- que hoje só consigo ouvir pela foz anasalada de caetano veloso.

VOCÊ: alvo de telemarketing. VOCÊ: alvo de SMS enganosas de presidiários brasileiros. VOCÊ: que vai perder o seu dia inteiro dentro do ônibus.

Chego à conclusão de que dou de bom grado essa identidade em troca de uma percentagem do trabalho.

Um comentário:

Paulo Rená da Silva Santarém disse...

Eu fico sempre com um pé atras com essa de que navegar é "preciso".

Você, estudiosa do assunto, pode me dizer se a polissemia já estava no original (exatidão x necessidade) ou se é apenas fruto de uma comunicação truncada, do tipo "A Quel é a Quem tem tempo"?

Beijos.