quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

uma endívia de post

A endívia da discórdia

ERA UMA VEZ domingo passado, e eu estava num churrasco na casa do meu pai. Era o segundo churrasco do final de semana, doravante eu não tinha vontade nenhuma de comer carne, por isso fui bater um prato de salada com meu véio. A salada estava muito boa, com aqueles tomatinhos cereja sweet alguma coisa, mussarela de búfala, molho de semente de mostarda e uma folha pequenininha e meio pálida, especialmente deliciosa.

-- Tá gostosa essa alface, né, filha?
-- Não é alface, pai, é endívia.

o que, para a minha imensa surpresa despertou um ataque colérico da dona de casa mais próxima. O cabelo oxigenado balançava efusivamente, enquanto ela repetia alto demais que aquilo nunca era endívia -- afinal, o que é endívia --, era mini alface daqueles em conserva que você compra no supermercado, e que ela -- né, Fulaninho? -- tinha comprado um saco de mini alface justo aquele dia, que era igualzinho a esse, e que aquilo com certeza era mini alface e não endívia, porque quem é que vai colocar endívia na salada, meu deus (tem que ser essas menininhas que acham que sabem cozinhar, pensou ela em silêncio), não é, Fulaninha (também de cabelo oxigenado), isso não pode ser endívia, que coisa que era endívia, mas com certeza não era aquilo, que era mini alface, que ela reconheceria um mini alface em qualquer lugar, ou talvez alface lisa, com certeza era alface lisa, porque endívia (o que é isso) não existe.

É claro que eu não sabia o que responder. Que tipo de discussão era aquela?! Como aquilo poderia durar, meu deus, mais do que trinta segundos: ou é endívia, ou não é endívia. E por acaso eu tinha cara de verdureira CSI para poder determinar exatamente que tipo de folha era aquela? OK, sem problema, podia ser alface lisa, ou mini alface em conserva, ou alface higrogenado, ou folha de mangueira hidropônica transgênica: meu deus, quem se importa? Que diferença isso pode fazer? A única real forma de descobrir a identidade da verdura misteriosa só poderia unicamente ser perguntar a quem fez a salada (que no caso era um casal de diplomatas coreanos, o que realmente abre a gama de possibilidades) e não em uma discussão com argumentos a favor ou contra a endívia!

Hoje, quarta-feira, o assunto parece ainda me intrigar, e eu desperto com os seguintes questionamentos: Será que essa mulher não sabia mesmo o que era endívia e estava tentando esconder (?) sua ignorância em uma discussão estúpida e inútil? Será que o verdadeiro sentido da vida dela era vencer no quesito dona de casa de todas as fêmeas alfa presente em qualquer recinto? Será que ela estaria atrás do troféu rainha do hortifruti do Distrito Federal? Será que ela teria, como um cara que eu conheci na balada uma vez, doutorado em hortaliças e seu orgulho estaria ferido por ter que discutir sua especialidade com uma qualquer num churrasco?

Mas será, eu me pergunto, que o que as pessoas têm em comum, como humanidade, não é o mistério da vida, mas o prazer das pequenas discussões infrutíferas? Ou, neste caso, inverduríferas? Ou será, finalmente, que na discussão endívia versus alface, nuca pode haver um vencedor?

Um comentário:

Nai disse...

acho que o segundo grande problema do mundo (o primeiro é jogar papel no chão, é claro: http://entretenimento.r7.com/blogs/te-dou-um-dado/show-de-cidadania/2012/12/19/) é gente que dá nome errado pras coisas. isso cria desordem, babado, tiroteio, confusão. sabe, as pessoas deviam se informar antes de falar do que não entendem, pra evitar esse tipo de constrangimento. porque, né? se você não diferencia uma alface baby lisa orgânica de uma endívia (endívia, raquel, endívia!), devia estar falando sobre, sei lá, crepúsculo.

(desculpa, eu não pude evitar)