segunda-feira, 23 de abril de 2012

reflexões à pia da cozinha

EU TENDO A ser pouco inspirada por escritoras mulheres. É uma coisa triste de se admitir, na verdade. Não porque elas sejam mulheres, pelo amor de deus. Mas porque existe alguma coisa que não me convence na escrita da maioria delas (estava pensando nisso enquanto lavava a louça, que clichê).

Eu gosto de poucas escritoras, principalmente brasileiras. Clarice Lispector, óbvio, mas mais pelo valor histórico na minha vida, como na de qualquer outro adolescente brasileiro. Eu passava mal lendo os livros dela, pensando em existir, pensando em coisas que a gente não pensa. Acho que Clarice é uma porta para outras drogas: assim que você aprende a ler os livros dela como devem ser lidos, com cuidado, sofridos, lentos, você aprende a ler.

Ana Cristina Cézar, honesta como o diabo, cutucadora de feridas. Ela não se contenta com as palavras bonitas ou com a sintaxe elaborada e paradoxal (como a Lispector). Tem uma sinceridade daquelas que é soco no estômago e simples, simples ao mesmo tempo.

Acho que de brasileiras é só. Gosto da Lygia Fagundes Telles, mas não tenho tanto interesse. Não me inspira.

(Não quero dizer que essas pessoas são boas e outras são ruins, não vou citar a Virgina Woolf, que é uma senhora escritora, mas que também não me inspira. Me faz lembrar a Clarice Lispector, ainda que seja o contrário, mas eu li Clarice primeiro, não dá mais pra mudar a ordem dos fatores.)

Ursula le Guin, dama da ficção científica. Adoro como os planetas dela têm questões de gênero, mas também de exílio.

Agatha Christie, dama da literatura policial, uma velhinha extremamente produtiva. Eu penso mais nela como uma pessoa intimamente perturbada, que precisava escrever compulsivamente pra se sentir feliz.

E só. O fato de eu ter parado 2 minutos pra pensar e não sair nada é muito significativo. Mais do que eu voltar para a minha estante e procurar por omissões constrangedoras.

E agora é a hora da explicação aleatória que não tem nada de científica.

Eu acho que sou de uma tradição de leitores extremamente desconfiada da palavra escrita. Que, de forma geral, não aceita a palavra bonita, a sintaxe poética, o uso da segunda pessoa do plural para criar uma instância ficcional elevada. Existe algo de pernicioso aí, diz o meu intelecto aceso. São armadilhas que podem desviar da verdade, como red herrings, pistas falsas (mal traduzidos como "arenques vermelhos"). E, de forma geral, existem poucas mulheres escritoras (que o meu humilde recorte do mundo tenha convivido) que não sejam abarrotadas, dramáticas.

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