"No dia dos namorados de 1989, último dia de sua vida, a legendária cantora popular Vina Apsara acordou chorando de um sonho em que era vítima de um sacrifício humano. Homens de torso nu, parecidos com o ator Christopher Plummer, prendiam-lhe os pulsos e tornozelos. Estava estendida, nua, se retorcendo, em cima de uma pedra polida entalhada com a imagem do pássaro-serpente Quetzalcoatl. A boca aberta da serpente emplumada circundava uma reentrância escura da pedra, e embora sua própria boca estivesse escancarada, gritando, o único barulho que ouvia era o espoucar de flashes; mas antes que pudessem cortar sua garganta, antes que sua vida borbulhasse para aquele cálice terrível, ela acordou, ao meio-dia, na cidade de Guadalajara, México, numa cama desconhecida, com um estranho meio morto a seu lado, um mestiço nu de pouco mais de vinte anos, identificado pelainterminável cobertura da imprensa posterior à tragédia como Raúl Páramo, o playboy herdeiro de um conhecido barão da construção civil local, dono, entre outras, da empresa que possuía o hotel."
Salman Rushdie, "O chão que ela pisa"
4 comentários:
Morte e fama.
Ah, esse é o livro que você esqueceu de me emprestar...
Não. Esse é aquele que vc esqueceu de pegar na minha estante...
hah, Páramo...
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