189 - da morte encomendada

toda vez que eu vou a um show muito cheio, tipo num estádio, eu prometo que nunca mais vou fazer isso de novo. e aí vem o show da madonna pra me fazer quebrar a promessa... primeiro que esses shows são caríiiiisimos, considerando a não-infraestrutura que eles têm: não dá pra sentar, não dá pra ir ao banheiro e, invariavelmente, nem pra respirar ou fazer xixi. tô contando os dias pra eu desmaiar numa multidão de 80 mil corpos suados e fedidos e não conseguir ser carregada pra longe, acarretando, ao fim e ao cabo, a minha morte. tudo em nome do amor.

e, aliás, qual é a pala que a gente tem com esses artistas, meu deus? de onde vem esse amor, essa identificação tão grande que faz a gente economizar o ano inteiro, e ficar dois milênios em uma fila, e se expremer insalubremente entre tantos outros, e nos arrepender de morte por não ter feito isso?

é muito injusta essa relação: que essas pessoas estejam presentes em tantos momentos das nossas vidas, nos nossos ouvidos, nas músicas decoradas, nos cortes de cabelo, etc etc etc, e que pra elas a gente seja mais um pequeno pontinho, mais míseros duzentos reais, de um show cuja a platéia tem o tamanho de uma pequena cidade.

ainda sim me pergunto: vou? não vou?

vou perguntar pras cartas.

pra ler ouvindo: