sábado, 27 de fevereiro de 2010

ACABEI DE voltar de ver "Educação", numa sessão no cine bombril em que o projetor falhou três vezes. se eu não estivesse sozinha, talvez tivesse me irritado, mas não. a solidão revoga o constrangimento de ter que dizer as coisas certas, tecer os comentários perspicazes que provocam respeito e empatia.

sem querer, era um pouco sobre isso que o filme dizia. não era o tema central -- nunca é, meu deus, o tema central o que nos desperta no cinema, pelo menos a mim, que já entro na sala de cinema desconfiada. o tema central é a destruição da autonomia feminina, para uma geração em que o casamento foi uma verdadeira tragédia.

hoje em dia, tragédia é querer casar, e a gente se vê tendo que justificar porque uma moça de 25 anos resolve se casar, assim, "tão nova".

e outra coisa é o que esperar da vida adulta, quando você é criado para um tipo de cultura que, como mesmo diz o filme, é difícil dizer o que é bom e o que não é, ou seja, na qual temos que nos valer de um bom gosto que nos identifique como merecedor. eu sou escolhida, eu sou diferente, meu pai acha que eu tenho que ir pra oxford, meus professores se desesperam quando eu, aparentemente, ponho tudo a perder com um casamento.

o problema é essa educação que nos propõe sermos melhores que os demais. é isso que chamamos de "bom gosto".

4 comentários:

Deia disse...

Eu gostei do filme. Talvez uma Juno dos anos 60 (seria?), mas mais perspicaz, ainda que inocente em alguns julgamentos, em grande parte pelo dedo do Nick Hornby no roteiro e na trilha sonora muito boa. Acho que pra mim essa coisa do gosto pareeceu mais central, muito ligada ao problema de gênero apresentado. Interligado, tipo, ela precisa ser educada e cultivada pra arrumar um bom casamento e, se consegue isso sem ter que ir pra Oxford, ótimo!, os pais transferem o dinheiro da educação pro casório. Mas o gênero, é, ainda prevalece: afinal, temos a professora, que é culta e inteligente, mas um "fracasso" como mulher, numa visão das alunas.

vina apsara disse...

foi foda. achei o filme muito mais pesado do que parece à primeira vista.

Deia disse...

Sim, eu também. Tava pensando ontem, assim, do nada, um insight. A tradução do título perdeu um elemento muito importante. Em inglês é An Education, o que, pra mim, diz muito sobre o filme: ela tem UMA educação, existe a possibilidades das OUTRAS, né? O título em português perde isso, não acha?

vina apsara disse...

pois é, concordo. ela não tem educação, ela não é educada num sentido genérico. ela recebe um tipo de educação -- que depois você percebe que é meio pega-marido.