sábado, 3 de setembro de 2011

todo mundo quer ser artista

todo dia eu ando pela paulista. ao meio dia, disputando espaço com o exército de executivos que sai pra almoçar. às 18h, no olho do furacão, ouvindo a gritaria sem noção que a humanidade faz: caos e fúria, caos e fúria. (estranho que tenha sido shakespeare quem escreveu isso e não um morador de rua de São Paulo). aos sábados, com os homens quarentões fazendo cooper e os labradores que passam a semana escondidos nos apartamentos. de madrugada também, ameaçada de atropelamento pelos skatistas, testemunhando roubos e furtos e discussões de relacionamento.

o pior é o sábado à tarde, quando todo mundo quer ser artista.

todo mundo quer ver livro na livraria cultura e todo mundo tem a mesma opinião sobre os mesmos livros. um amigo vai com outro amigo e aponta um livro que é ótimo com certeza, todo mundo diz, mas ele ainda não leu. dá um pequeno resumo do enredo, fala sobre o autor, mas nenhuma informação tem absolutamente nada a ver com o que ele está apontando.

todo mundo quer ir ao cinema. fazem-se filas enormes nas mesmas salas para assistir aos mesmos filmes. ninguém quer ver filme cult no shopping, por exemplo e todo mundo só quer ver aquele que ganhou cannes. ou que a pessoa acha que ganhou cannes, tipo melancolia do lars von trier, que é um diretor americano que costumava fazer filmes com o vin diesel.

todo mundo quer passear pela rua, se inspirar nos grafittis de imagens cults espalhados pelas paredes. todo mundo quer almoçar no boteco pé sujo. todo mundo usa short e bota quando está frio. todo homem deixa a barba crescer e usa cachecol.

todo mundo repara que o sol saiu e todo mundo viu o último episódio do seriado famoso.

todo mundo quer ser artista. não qualquer artista: todo mundo quer ser o mesmo artista, aquele que gosta daquele mesmo filme, daquela mesma banda, que entende de moda, da mesma moda, que é o jeito que as pessoas costumavam se vestir em londres no verão passado. todo mundo quer ter bom gosto e requinte, entender tudo sobre arte e tomar um vinho como um verdadeiro sommelier.

ninguém sabe que estação do ano estamos.

2 comentários:

Antônio LaCarne disse...

taí que me encontrei aqui no teu blog. uma maravilha de se ler. confesso que também ando cansado demais dessas pessoas consideradas modernas demais, pseudo artistas que se vanglorizam de não sei o quê. enfim...

abraço e espero voltar aqui sempre.

vina apsara disse...

senhor impenetrável, seja bem vindo!

pseudo artistas todos nós somos, mas pelo menos tentamos não ser o mesmo pseudo artista, aí é foda...