terça-feira, 20 de março de 2012

achados e perdidos 2009

lembrei de outro projeto inacabado, pra aumentar a lista do post anterior. a ideia era escrever cartas de amor para uma pessoa desconhecida e enviar para um edereço aleatório em São Paulo. Mas aí eu comecei a pensar nos problemas diplomáticos: e se o endereço for comercial? e se a pessoa for casada e não conseguir convencer o marido/a de que o remetente é desconhecido? e se a pessoa quiser escrever uma resposta?

aí a solução era entregar para uma pessoa desconhecida de mim, mas conhecida de alguém por aí.

a primeira carta era um diagrama, daqueles com setinhas. (no meu caderno está marcado novembro de 2009)

você acha que o amor ainda é possível? --> não é uma pergunta retórica --> com isso, não estou tentando dizer que os tempos não são propícios para o amor --> mas você escreveria uma carta para um estranho... --> digo, uma carta de verdade: íntima e extensa --> sem se identificar, mas convencendo-o, sem a mais mínima sombra de dúvida, de nada mais nada menos que o ama?
                          ___> usaria palavras que já trocou com outra pessoa?
escreveria?---   ____> usaria palavras ditas por outros --> que você queria que tivessem sido suas ---> [balão pontilhado] "quando a gente se vê, o Sol nasce".
                       _____> ficaria acordada à noite, de madrugada, de manhã... ---> fantasiando o dia em que, sem avisar, usaria o endereço do destinatário --> num dia especialmente cinza e chuvoso --> para bater na sua porta --> e dar-lhe --> 1 (hum) --> beijo?
nossa, será que deu pra entender? que pena que eu não sei fazer os balõezinhos...

bom, depois da primeira carta, tinha dois esboços de cartas futuras. uma era essa:

Eu te amo tanto que o meu Destino dói [era antes do novo acordo ortográfico]
de te observar cruzando o meu caminho
pegando a minha mão
olhando no fundo dos meus olhos
arg. ainda bem que eu não sou diabética. segunda carta:

eu acredito no amor?
não sei.
definitivamente no amor dos outros: não existe coisa mais brega e artificial do que um casal de namorados.
só o que sei é amar estranhos. o amor é anônimo, não troca aliança, não faz jura, não trepa. é aquilo que, sozinhos, nos impede de dormir, para fantasiar sobre as causas do mundo.
o amor é aquilo que faz a gente feliz em pensar que há vidas em outros planestas.
quanta negação, meu deus.

tem umas melhores, tipo esta:
A chuva também é um símbolo. Representa a espera, a paciência com que a chuva cai sem sentido. Minha avó diz que a chuva é Deus. (Acho que nem ela entende o quanto isso é pagão). Mas eu sei por que agora, observando a chuva cair, e São Paulo ficando louca. A chuva não tem sentido, enlouquece as pessoas e a vida da gente, funcionando em uma simbologia completamente alheia a si mesma. Porque a gente não consegue entender as coisas que não fazem parte da nossa lógica tão humana: a morte, Deus e a chuva.
Só que a chuva cai, todo dia.
Será que o amor é como a chuva? Será que não entendemos o amor? Será que, na verdade, não entendemos as coisas que nos movem, por isso as deixamos morrer, nas viagens de ônibus, nas filas de banco, num copo de chope? [a letra está trêmula agora, acho que estava no ônibus]
Se o amor a paixão é tão etérea, de onde vem o toque? A vontade de se ver, de encostar, de tropeçar?
Ou será que estou errada? Será que a paixão não é como Deus?
Ou será que a paixão -- como Deus, como a morte, como a chuva -- em algum momento, precisa se materializar? Precisa se revelar como um livro secreto, que emerge nas palavras que trocamos, nas nossas cartas, num beijo... Será que nada pode ficar nas sombras da própria divindade? Como o próprio Deus, que precisa estar na Terra para tocar os homens, celebrar sua existência, descobrir seu próprio caminho? 
[ai, ai, devia ter lido Lévinas...]


enfim, tudo isso para dizer que, meu deus, o passado realmente é um país estrangeiro e que, no final das contas, todas essas cartas (com outras palavras, umas imagens bonitinhas e uns vídeos que podem me ferrar com o ecad) foram para vocês, meus correspondentes desconhecidos.

PS: este post é comemorativo dos 10.000 pageviews deste blogue. obrigada!

6 comentários:

Geruza Zelnys disse...

nossa... to sem palavras... isso seria estar amando?

Anônimo disse...

ideia interessante. rs...
Em algum lugar do enorme 'Irmãos Karamázov', Aliocha diz que quanto mais seu amor pela humanidade inteira aumenta, mais seu amor por indivíduos próximos diminui (e vice versa).
Algum trecho das suas cartas me fez lembrar disso.
Tata Marques.

Paulo Rená da Silva Santarém disse...

Eu certamente adoro o seu passado, Quel, ele é muito lindo, pelo menos desde ali, 200...4, isso dois mil e quatro. Quem dera eu ter 10 mil Parrine-views ;)

Cara, quer mesmo ficar chocada, brinca com o Internet Archive (Way Back Machine) e leia seu blog antiiiigo, o Menina Shoyo. Funciona quando eu leio os meus. Realmente, um país estrangeiro.

Sobre a ideia "abandonada", sempre fui a favor desse registro desinteressado, como uma garrafa ao mar. Quem sabe ela para na praia de alguém que resolve levar o projeto adiante. Vai saber, daqui a alguns meses você mesma num recebe uma carta de amor anônima.

vina apsara disse...

eu ia adorar receber uma carta anônima! rs

Já vi esse site, Rená, e republiquei muitas coisas do meninashoyo aqui! :D

que bonito, tata, eu acho que era essa a ideia mesmo...

vina apsara disse...

eu ia adorar receber uma carta anônima! rs

Já vi esse site, Rená, e republiquei muitas coisas do meninashoyo aqui! :D

que bonito, tata, eu acho que era essa a ideia mesmo...

Anônimo disse...

Que demais! Você não chegou a mandar nenhuma? É uma ideia mto legal.
Eu, como amante das cartas, tbm ia adorar receber uma carta anônima.

Parabéns pelos views! :)

Marina Ofugi
ps- é só eu passar um tempinho sem entrar que aparecem um monte de posts novos!