Com o primeiro tremor de frio me chegou a revelação. O homem morto não era nenhum assassino. O verdadeiro, oculto em algum lugar distante, ou mais provavelmente a fatalidade, nos havia enganado. Bedloe não queria matar ninguém, só procurava seu cachorro. Pobre infeliz, pensei. Os cachorros voltaram a se perseguirem pelo pátio. Abri a porta e observei as duas mulheres, sem forças para entrar na sala. O corpo de Bedloe outra vez estava vestido. Inclusive melhor vestido do que antes. Ia dizer-lhes alguma coisa, mas me pareceu inútil e voltei à sacada. Uma das mulheres saiu atrás de mim. Agora temos que nos desfazer do cadáver, disse às minhas costas. Sim, disse eu. Mais tarde ajudei a meter Bedloe na parte de trás do furgão. Partimos em direção às montanhas. A vida não faz sentido, disse a mulher mais velha. Eu não respondi, eu cavei uma fossa. Ao voltar, enquanto elas tomavam banho, limpei o furgão e depois preparei minhas coisas. O que você vai fazer agora? - me perguntaram, enquanto tomávamos café-da-manhã na sacada contemplando as nuvens. Vou voltar à cidade, disse-lhes, vou retomar a investigação exatamente de onde me perdi.
Seis meses depois, Pancho Monge termina sua história, William Burns foi assassinado por desconhecidos.
Roberto Bolaño, "William Burns", excerto traduzido por mim.
2 comentários:
roberto bolaño não era o chaves?
Postar um comentário