quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

02/11/2009

A Odisseia parece um daqueles livros que termina, de propósito, na parte mais importante.

Na verdade, muito mais importante do que saber o que Ulisses fez indo pra Ítaca -- quantos ciclopes matou? a quantas civilizações deu início? quantas deusas deixou suspirando de amor? -- é assistir a como ele vê a própria vida depois disso. Conseguirá dormir na mesma cama que Penélope sem se sentir um estranho? Comerá a mesma comida? Terá carinho por seus filhos e seu cachorro? Aguentará a decepção de ter conseguido, finalmente, voltar pra casa?

(Na verdade, são perguntas estúpidas. Todo mundo que já tenha passado os olhos numa epopeia sabe que o herói grego vive uma eterna e insuperável crise da meia idade e é incapaz desse tipo de conflito).

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