terça-feira, 1 de maio de 2012

primeiro de maio

HOJE É DIA do trabalho, ironicamente também é feriado. aí eu pensei imediatamente numa citação do Georges Bataille, na única entrevista concedida pela televisão (graciosamente traduzida para o português por aqui). Diz o francês: "Escrever é o oposto de trabalhar. Isso pode não parecer lógico, mas mesmo assim, todos os livros interessantes são esforços que caminharam contra a noção formal de trabalho."
Isso me fez pensar um pouco, isso porque a seguir ele acrescenta um exemplo:
"[Kafka] pensava que quando escrevia estava agindo contra os desejos de sua família e, portanto, ele se colocou numa posição de culpado. É fato que a sua família disse de todas as formas que era errado passar a vida escrevendo, que a coisa certa a se fazer era dedicar seus esforços em atividades comerciais e, se ele fizesse qualquer coisa diferente, estaria do lado do mal."
Eu me lembro muito bem desse momento em Kafka -- não sou uma grande leitora dele, mas é muito difícil não ficar emocionada com Carta ao Pai. Tente você não se emocionar



Para você a questão sempre se apresentou em termos muito simples, pelo menos considerando o que falou na minha presença e, indiscriminadamente, na de muitos outros. Para você as coisas pareciam ser mais ou menos assim:trabalhou duro a vida toda, sacrificou tudo pelos filhos, especialmente por mim, e graças a isso eu vivi "à larga", desfrutei de inteira liberdade para estudar o que queria, não precisei ter qualquer preocupação com o meu sustento e portanto nenhuma preocupação; em troca você não exigiu gratidão você conhece a "gratidão dos filhos" mas pelo menos alguma coisa de volta, algum sinal de simpatia; ao invés disse sempre me escondi de você, no meu quarto, com meus livros, com amigos malucos, com idéias extravagantes, nunca falei abertamente com você, no templo não ficava a seu lado, nunca o visitei em Franzensbad, aliás nunca tive sentido de família, não dei atenção à loja nem aos seus outros negócios, a fábrica eu deixei nas suas costas e depois o abandonei (...). Se você fizesse um resumo do que pensa de mim, o resultado seria que na verdade não me censura de nada abertamente indecoroso ou mau (exceto talvez meu último projeto de casamento), mas sim de frieza, estranheza, ingratidão. E de fato você me recrimina por isso como se fosse culpa minha, como se por acaso eu tivesse podido, com uma virada do volante, conduzir tudo para outra direção, ao passo que você não tem a mínima culpa, a não ser talvez o fato de ter sido bom demais para mim.
Conseguiu?


Enfim, há muita literatura sobre como escritores e críticos desprezam o trabalho formal e há pouca que deixe claro o quanto este movimento é uma resposta às condições de trabalho dessas próprias pessoas. Escrever não é trabalhar, segundo alguns, porque a maior parte do tempo você fica olhando para o computador, disperso, almoçando com os amigos, lendo, etc. Porque há uma renúncia da forma de vida que o resto das pessoas adotou para si, com vários riscos reais e imaginários -- o que não faz deste ofício, na verdade, realmente diferente dos outros, vide o Murakami.

Um comentário:

Anônimo disse...

http://www.fwjshifi.xpg.com.br/
O Direito à preguiça
Paul Lafargue

Tata Marques