terça-feira, 5 de junho de 2012

da capa à contracapa


HOJE EU ACORDEI pensando uma coisa bem besta. Que o ser humano é  um animal essencialmente paradoxal (olha, rimou): por um lado ele precisa viver em sociedade, constrói ponte, etc; mas tem que carregar dentro de si essa imensa solidão e a certeza de que tem algo dentro de si que é incomunicável.

A maioria das atividades humanas advém da primeira característica: a política, a engenharia, a música, o sexo, a astrologia, a escalada... Todas feitas a partir da magia da integração das pessoas a fim de fomentar, exatamente, essa mesma magia. Como um moto-contínuo. Não me leve a mal, não estou dizendo que a música não depende de uma etapa de criação, em que a pessoa tem que sentar sozinha no piano e arrancar as coisas de dentro de si, etc. Mas, para que serve a música? Num sentido bem figurado, aquelas centenas de pessoas que vão assistir a um concerto, todas juntas, ouvindo versões da mesma música filtrada pelos seus ouvidos danificados pelos sons da grande cidade. Ou aquela meia dúzia de pessoas, no aniversário da Cláudia, ouvindo pagode e dançando. Ou a música que toca quando a noiva entra no altar. Coletividade, Zeitgeist, catarse coletiva. Dá para se responder à música, dá para dançar ao som dela, ou vaiá-la.

Mas a literatura se alimenta da segunda característica. Diferentemente do músico, depois do momento de criação -- todos aqueles anos na frente do computador -- o resultado é uma obra que só pode ser fruída individualmente. Claro que você pode adaptar um livro para o cinema, ou lê-lo em voz alta, ou escrever uma peça, etc. Mas o livro-livro é destinado para uma fruição individual. Segundo o crítico argentino Damián Tabarovsky

"Se há algo que se opõe à literatura é a argumentação. A literatura é o que acontece agora, neste mesmo instante, o que advém irremediavelmente, e a experiência literária é a experiência desta ausência, da linguagem desbocada e nossa própria solidão. Solidão que é da própria obra. A obra não é afirmação, não é positividade, não é construção: ao contrário, a obra é um parêntese, a suspensão do mundo. A obra não dá sentido, o retira. Não gesta, ao contrário, a obra é a materialização sensível da anulação do mundo: a obra suspende." (p. 90)

Bom, não era exatamente isso que eu queria dizer.

PS: Este tumblr é muito legal.

Um comentário:

Marina disse...

Adorei o tumblr! :)

Engraçado, ler é uma atividade solitária mesmo. Eu gosto muito quando me concentro na leitura e fico envolvida, esqueço de tudo que está em volta. E detesto quando me interrompem. É uma hora só minha que eu viajo em total privacidade.

Vc tá sumida! ;-;

Marina