O título é inspirado em Dirty Dancing 2- Havana Nights.
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Karaoke Nights
A primeira vez que me levaram pra um karaokê foi num boteco
de sinuca em Brasília. Eu me senti apresentada a uma forma mais sincera de
vida. Tive uma reconciliação instantânea com as patricinhas que me oprimiam na
escola, ao som de Vamos brincar de
índio/mas sem mocinho/pra me levar… Antes
do fim da noite, subi pra cantar Tony Braxton com uma desconhecida e descobri
que meu verdadeiro talento residia na habilidade de lembrar o nome dos
intérpretes das músicas mais populares. De Evidências a Total Eclipse of the
Heart, eu sabia o que o karaokê queria de mim.
Regra número um: nunca esteja sóbria. Hitoshiro Karaokê, o
leãozinho de cabelo amarelo que expandiu a possibilidade do constrangimento
vocal, vislumbrou o microfone com um bafômetro embutido, de forma que o
candidato seria sumariamente eliminado se tivesse menos de uma porcentagem X de
álcool no seu corpo. Por isso, se você, neófito, de alguma forma se sente
acuado na hora de parecer ridículo na frente de uma centena de pessoas, não se
sinta. Espere o álcool fazer efeito.
Regra número dois: no advento da bebedeira, segurando o
microfone, encarando todos aqueles estranhos, não se esqueça: se você cantasse
bem, alguém estaria te pagando pra cantar e não o contrário. Ridículas mesmo
são aquelas pessoas que pensam que são melhores que você, que o show biss
simplesmente as esqueceu e estão aguardando ansiosamente a ligação do The
Voice. Foda-se todo mundo.
Regra número três: cante em português. Dessa vez, você não
está cantando sozinho no chuveiro, você tem uma platéia! E uma platéia de gente
bêbada que quer cantar junto. Por isso, não perca a oportunidade de ter um coro
cantando Quem dera ser um peixe!
Também pode ser uma boa ideia arranhar uma língua que quase ninguém conhece,
com um La Solitudine. Quem sabe você
pode receber ajuda de um gatinho italiano que veio ao Brasil en passent, ou de
um casal de descendentes que está comemorando as bodas de ouro.
Regra número quatro: menos é mais. Chegou no karaokê e ta
vazio? Só tem meia dúzia de gato pingado cantando Fábio Júnior? Ouro!! Não se
esqueça de que demora pra caralho até a sua vez chegar, então estar em pouca
companhia é sempre melhor. Também é mais fácil de fazer amigos.
Regra número cinco: deixe o melhor pro final. No começo da
noite, pode ter certeza, todo mundo está acanhando e sóbrio. Então o ideal é
levantar o astral. Madonna e Michael Jackson são uma escolha sempre certa
(sempre), mas você também pode mandar qualquer pop. Ragatanga é uma que nunca
falha, Papo de Jacaré vai te render umas risadas. Mas o pé na jaca, o ouro
mesmo, tem que ser muito bem dosado. Acredite, você só vai querer cantar
Robocop Gay quando as pessoas estiverem dispostas a rebolar. E elas vão estar!
Regra número seis: não cante Tim Maia. A gente não repara,
mas a letra de músicas como Eu só quero
chocolate são muito repetitivas. Você vai achar um saco e desanimar. O
mesmo vale pra qualquer música de axé.
Regra número sete: karaokê é performance. Não deixe ninguém
te dizer o contrário. É o mais perto de um palco que você vai estar na sua
vida, então encarne. Nada consegue fazer você ficar mais ridículo.
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